Narrowvalley é uma cidadezinha pequena, que nasceu no leito seco de um pequeno rio que corria por entre os morros da região de Wind Hills. Um lugar distante de qualquer outro, perfeito para pessoas que buscam paz e tranquilidade. Lar de pessoas simples que, em sua maioria, trabalham no campo, em esparsas plantações que proveem comida para a própria cidade.
Este é um lugar onde os dias são mornos e pacatos, as noite frias e serenas. Porém essa noite os incessantes latidos e o grito de dúzias de pessoas preenche o vale e ecoa pelas colinas. Do alto é possível ver os diversos pontos brilhantes que se movem pelas encostas ao redor de toda a cidade, a semelhança de vagalumes, brilhando e se apagando com uma frequência cambaleante.
As vozes chamavam por uma garota, gritavam seu nome de forma incessante e quase desesperada. "Abigail". Esbravejavam homens e mulheres floresta adentro, caminhando com lanternas em meio a madrugada.
A busca pelas matas dos arredores começara pouco antes do pôr do sol. Quase todos os homens e grande parte das mulheres da cidade, todos organizados pelo corpo policial da cidade, se esforçavam para encontrar a garota desaparecida. É estranho como o senso de dever cívico nesse tipo de lugar é forte, em pequenas comunidades é comum que todos se conheçam pelo nome, o bem do outro é o bem de todos, afinal, você não nega ajuda àqueles com quem cresceu. Por tanto, não era de se espantar que pouquíssimas pessoas tenham desistido ao longo das várias horas, e já era quase manhã quando um dos policiais acompanhado por seu cão farejador abriu comunicação através de seu rádio transmissor.
_ Atenção equipes de busca! Aqui é o cabo Hamilton. _ Anunciou em tom firme e claro. _ Parece que encontrei... sinais da garota desaparecida.
_ Boa noite, Delegado Wilson na escuta. Por favor cabo, troque para a frequência oficial e passe mais informações. _ Foi a resposta quase imediata.
O policial ajustou seu equipamento de rádio e abriu comunicação novamente. Informou seu local exato para a equipe do delegado e deu detalhes do que havia descoberto, e em pouco tempo uma equipe formada por dois investigadores e quatro peritos se encontravam na encosta de um mirante.
A cena não era bonita de olhar. Sangue, carne e osso espalhados por todos os lados. A queda fora o suficiente para destroçar o corpo da jovem, tornando-o uma massa inidentificável. As amostras de cabelo e os farrapos que foram uma vez a roupa da garota condiziam com o descrito por seus pais, ao relatarem a última vez que viram a filha.
A polícia informou aos voluntários, através da banda de rádio cidadão, que a busca terminara. Não deram mais detalhes. Nove dias após o início das buscas publicaram um relatório oficial. Análises da cena da morte e dos restos excluíam a possibilidade de assassinato premeditado, a falta de suspeitos juntamente com o local e hora estimada da morte descartavam homicídio, a investigação do quarto da vítima e de seus familiares e amigos descartavam a possibilidade de suicídio. A garota caíra por acidente do mirante.
No funeral, um caixão fechado recheado com pedras foi sepultado na lápide da família. A mãe e o pai de Abigail choravam inconsolavelmente. Wendy, uma garota de dezesseis anos, pele clara e cabelo loiro, esguia e sem muita feminilidade aparente, irmã gêmea de Abigail, assistia àquele espetáculo fúnebre atônita, quase alheia a realidade.