Este é o conto do primeiro herói, Maleth Novaterra. Dos quatro heróis descritos neste livro, Maleth foi com certeza o mais notável. Num mundo coberto da magia rúnica de Lirium, o primeiro deus, Maleth nunca usou sequer uma magia em toda a sua vida. Tornara-se herói respeitável por todos os lugares que visitou apenas pelo seu bom sorriso e pelo seu inquestionável altruísmo. Agora sua história será contada.
A família Novaterra era conhecida e respeitada por seus hábeis Forjadores, os Runadores que escreviam em objetos. Então todos surpreenderam-se quando Maleth nasceu, filho da soberana, com seus cabelos já crescidos e embranquecidos. Perceba, para um runador, nascer com os cabelos brancos era uma falha e tanto, já que isso significava que seu sangue não ferveria. A fervura do sangue é essencial para a inscrição de runas, visto que era simplesmente impossível escrever qualquer símbolo mágico sem o processo. O sangue fervente dos runadores era o que acordava a magia em seus corpos. O que fez com que Maleth nunca recebesse o prestígio de seu nome. Mesmo assim, jamais envergonhara-se dele.
Aos treze anos, o jovem garoto renegado resolveu sair de casa. Não porque os Novaterra lhe negavam conhecimento, e sim, obviamente eles o faziam, mas porque ele desejava muito mais. Maleth queria ver o mundo com os próprios olhos, não com os olhos de uma família que restringia sua perspectiva por não conseguir enxergar a magia. O garoto era forte e grande para sua idade, e provisões eram o que não faltava na mansão dos Novaterra. O jovem deveria ter refeição para do mínimo, três semanas de viagem e dinheiro para três anos.
O jovem apreciou sua jornada nos primeiros dias. Evitou a estrada principal, a principal porta para Lirium, a cidade que abrigava sua família, pois sabia dos perigos que um viajante solitário sofreria por lá. O que Maleth não sabia é que a floresta que agasalhava a estrada era pior ainda. Foi no segundo dia, à noite. O inocente dormia numa cama improvisada de folhas quase macias, bem diferente de sua luxuosa cama em Lirium. Do conforto, Maleth jamais poderia reclamar. De seu sono leve, jamais reclamaria depois daquela noite. Ouviu comentários sobre seus cabelos brancos e como seria fácil roubar um Órfão da Magia. Eram três forjadores, pelo que suas espadas inscritas diziam. O garoto também carregava uma espada, da casa Novaterra, consigo, mas essa não trazia nada inscrito. Recusaram-se a inscrever a espada de um Órfão da Magia. Maleth não trazia disso na cabeça e, se trazia, não trazia nenhum pensamento negativo para com sua família por conta disso. O jovem se levantou cuidadosamente e os bandidos da estrada interromperam-se, analisando o alvo. Um sorriso aberto foi dado aos bandidos, que pensaram ser uma armadilha. Ninguém contaria com a bondade de um viajante solitário àquela hora da noite, então os três atacaram, com suas espadas inscritas com "perfurar" decididas a atravessar a fina cota de malha que Maleth vestia, mas as mesmas espadas não contavam com os olhos rápidos do jovem. Levantou sua espada, fazendo um arco do ar e deslizando a espada do primeiro inimigo sobre a sua e saindo do alcance do primeiro. Defletiu o ataque do segundo e desviou do terceiro. Não poderia fazer aquilo a noite toda. Tentou explicar aos bandidos que sua vida não era das mais fáceis, mas faltou-lhe a perspicácia para perceber que aqueles homens não se importavam com histórias tristes e lhe atacaram novamente, desta vez com um pouco mais de coordenação. Maleth ainda era jovem e não saberia defender-se de tantos ataques. Rapidamente cedeu às investidas e caiu, com sua cota de malha dos Novaterra ensanguentada e furada em vários pontos. Suas provisões e dinheiro, levadas pelos bandidos que encontrara. E nem eles Maleth amaldiçoou.
Acordou à manhã do dia seguinte, dolorido. Percebeu que seus ferimentos não eram tão graves quanto pareciam. Desmaiara apenas com o susto, concluiu. Maleth olhou, arrependido, para Lirium, mas machucado e sem comida, não conseguiria voltar. Foi então que fez algo impensável para muitos. Olhou para a direção oposta à cidade. Sorriu. Falou em voz alta, para que ele mesmo pudesse ter certeza de que estaria gravado em seu coração. Gritou que aquilo não era problema. Avançou. Disse a si mesmo que faria o nome Novaterra crescer, mesmo não sendo um runador. E para tanto, não poderia viver nos freios disfarçados de proteção em sua casa. Deveria enfrentar o mundo sozinho.
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Scripture
FantasyA Fonte de Toda a Magia. A Fonte de Toda a Verdade. A Fonte de Toda a Felicidade. Quando Lirium criou tudo usando a Palavra, separou o mundo nessas três fontes. Ninguém sabe onde as Fontes se encontram. Exceto alguns deles. Entenda que, por aqui, He...