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O terceiro copo de vodka era-me servido. Agradeci ao barman com um sorriso e tomei um gole da bebida alcoólica.

- Portuguesa, estou a ver. - uma voz masculina fez-se ouvir e virei a cabeça na direção da mesma, olhando o jovem com curiosidade. - A tatuagem que tens no ombro. - explicou e sorri, lembrando a loucura que cometera aos dezasseis anos quando decidira tatuar a bandeira do meu país às escondidas dos meus pais.

- Rebeldias dos dezasseis. - afirmei num tom brincalhão e o rapaz gargalhou.

- André. - apresentou-se, estendendo a sua mão e eu sorri, sabendo exatamente quem era a minha mais nova companhia.

- Maria. - repeti o seu gesto, levando a minha mão à sua. Não evitei soltar uma risada tímida quando o ex-portista deixou um beijo na mesma, encarando-me de seguida com um irresistível sorriso.

- Então, Maria, posso saber o que te traz a Milão? - perguntou interessado.

- Primeiramente, a curiosidade em pisar solo italiano. É a minha primeira vez. - olhou-me atentamente e engoli em seco, sentindo-me observada. - Posso acrescentar a gastronomia, a beleza da cidade, a história e, por último mas não menos importante, a sua gente. - o seu sorriso de lado aquando da menção do último elemento fez com as minhas bochechas ganhassem um tom avermelhado.

- E, se me permites, posso saber mais sobre ti, Maria? - a maneira como dizia o meu nome proporcionava-me sensações estranhas no meu ventre.

- Já sabes o meu nome e a minha nacionalidade, portanto não vou repetir. - comecei e o jogador riu alto, anuindo. - terminei o meu curso de arquitectura em maio do passado ano e, desde novembro, decidi percorrer toda a Europa, de modo a conhecer todo o nosso continente e, de certa forma, descobrir-me a mim própria.

- Mas há algo mais por aí. - constatou e olhei-o surpresa.

- Sou assim tão transparente? - o avançado mostrou o seu atraente sorriso.

- Posso dizer que sou bom a ler as pessoas. - revelou e olhei-o bastante intrigada e, até mesmo, um pouco encantada.

- E porque é que és tão difícil de ler? - inquiri de forma direta e foi a vez de ele de me olhar com admiração. Tentei esconder o sorriso.

- Verás que não sou. - piscou o olho e foi impossível não sentir-me tentada a saber mais sobre ele. - Se quiseres falar, estás à vontade. Dizem que sou um bom ouvinte. - acenei, ganhando coragem para desabafar.

Talvez fosse bom para mim. Sentia que podia confiar no internacional português.

- A viagem de última hora que decidi fazer por toda a Europa foi também uma formar de escape ao ambiente que vivemos em casa. O meu pai tem um feitio muito difícil de lidar. É muito senhor do seu nariz, egocêntrico, vive das aparências e do dinheiro e dá mais importância ao trabalho do que à família. Ele está tão preso aos seus demónios que não deixa mais ninguém ser livre. - lamentei, bebendo um gole enorme da bebida à minha frente, dando a mesma como terminada.

- Está a funcionar? - questionou e nem sei se se referia à bebida alcoólica ou à aventura que decidira fazer. No entanto, a resposta para as duas era idêntica.

- Sim. - respondi, mostrando ao barman o copo vazio, sinalizando para que ele me trouxesse mais uma.

- Porque é que não me acompanhas na água? - pediu e não evitei uma gargalhada.

- Estás preocupado?

- Estaria a mentir se dissesse que não. - a sua expressão fez-me repensar a minha escolha.

Milano | André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora