Milano | André Silva

06.

- Sim, mãe. Está tudo bem por aqui. A Croácia é realmente linda. Sim, vou para o aeroporto daqui a pouco. - falava com a minha progenitora enquanto terminava a fechar a mala. - Sim, devo chegar a Itália pela tarde. Eu preciso mesmo de fazer isto e obrigado por me apoiarem nesta decisão. Prometo visitar-vos. - respondi, entre risos ao proferir a última fala, devido à pergunta dela sobre o horário em que aterraria em solo italiano e, se estava certa de que era isso mesmo que eu queria fazer.

A verdade é que, após as férias de duas semanas com a minha família no Algarve, decidi terminar a minha viagem de escape pela Europa embora as razões já não fossem as mesmas. O meu pai continuava a melhorar de dia para dia e não podia estar mais contente com o ambiente bastante familiar e favorável que em casa se vivia. O meu irmão regressara a Portugal, desta vez de forma definitiva, para começar a sua integração nos assuntos das empresas antes de tomar a posse e presidência das mesmas. Tudo estava a correr finalmente pelo positivo e não podia estar mais grata por isso. Contudo, uma vez que iniciara esta aventura, não podia deixar de a concluir e por isso mesmo retornei à estrada, visitando os restantes países que me faltava conhecer. No entanto, senti a necessidade de me deslocar a Itália pela última vez para, depois refletir sobre as propostas de trabalho que me foram feitas no estrangeiro antes de tomar a minha decisão final. A minha passagem novamente por Milão passava também pela esperança que reencontrar o jogador, uma vez que este no último mês tentava consistentemente entrar em contacto comigo a fim de se explicar. A sua insistência fez-me ceder aos seus constante pedidos, embora ele ainda não soubesse acerca de tal mudança de ideias. Apesar de tudo, eu continuava a desejar um futuro com ele e a cada dia que passava, a sua ausência fazia-me querer o jovem ainda mais.

Falei mais um pouco com os meus pais, antes de desligar e certificar-me de que tudo estava pronto e, dirigi-me à recepção do hotel a fim de proceder ao pagamento e agradecer pelos serviços que me foram prestados durante aqueles dias.

- Obrigado. - despedi-me com um sorriso da recepcionista do hotel cinco estrelas croata e acenei para um táxi que se encontrava no exterior do edifício.

Pedi que me levasse ao acolhedor restaurante onde fizera grande parte das minhas refeições, devido à rápida amizade e empatia que criara com o idoso casal responsável pelo mesmo. Eram reformados, estavam na casa dos setenta anos e não tinham filhos. A forma como lidavam com as pessoas e a vida, bem como a personalidade que lhes era caraterística fizeram-me de imediato gostar dos indivíduos, pois faziam-me lembrar muito os meus avós. Já aqueles, tinham admitido igualmente que me consideravam a neta que eles gostavam, mas que nunca tiveram possibilidade de ter devido ao problema de infertilidade que atingia Pilip.
Solicitei igualmente que o taxista esperasse por mim durante o tempo da despedida, oferecendo uma elevada quantia de dinheiro para que este pudesse aceitar de imediato o meu pedido, uma vez que não queria deixar a Croácia sem dizer adeus aos meus mais novos amigos.

- Pilip, Hana. - saudei ao vê-los por detrás do balcão enquanto alegremente conversavam entre si.

- Maria, minha querida. Pensava que já tinhas ido embora sem te despedir. - o mais velho proferiu em tom de gracejo e sorri, negando.

- Isso jamais, Pilip! - exclamei, cumprimentando o casal com um beijo na bochecha, gesto que se tornara habitual.

- Ainda bem, meu amor, pois vamos preparar-te o almoço antes de ires para o aeroporto para que vás bem alimentada e não te sintas indisposta. - Hana falou, enquanto se dirigia à cozinha.

- Não é necessário, eu.. - não terminei pois a mais velha desaparecera da minha vista.

- Já devias saber que não vale a pena discutir connosco. - o homem brincou e nós rimos. - Ainda bem que aqui estás, pois temos uma pequena lembrança para ti. - acrescentou e sorriu para a mulher que entretanto chegara ao seu lado novamente.