O problema nunca foi os números em si, mas a sensação que eles me provocam. A razão pela qual culpo as casas decimais está na minha falta de vírgulas e potências. Portanto, é de uma facilidade muito mais maleável culpar uma centena que não seja bagunçada como eu, fingindo que não passo de uma divisão simples de dois por um. E o ponto mais engraçado nessa história é o maldito fato de você ser um amante humanitário incurável, isentos de vergonha na cara; digo isso em todos os sentidos, porque sempre caprichou na força com a qual apertava minhas coxas enquanto contava cada defeito horrível que compunha meu corpo, que, não obstante, amava de qualquer forma.
Nunca quis te machucar, pra falar a verdade. Sabia da dificuldade que tinha de abraçar meus vícios pecaminosos ou as manias soturnas de tamborilar os dedos na bancada da cozinha, sibilando poesias tristes. Mesmo que você insistisse em dizer que amava cada palavra que eu te dava, num sussurro entusiasmado, a realidade cercava um outro universo, onde você amava apenas o lado perverso e malicioso daquele suspiro cheio de emoção. Mas não acho que minha língua, passada de geração em geração, signifique algo além do sensato, ironicamente; coisa que deveria apreciar com tudo o que tem, porque você se definiu assim, Minho.
Lamúrias suspeitas se formavam em arcos de fumaça tóxica toda vez que fitava meus olhos cintilando de um vermelho chapado de solidão e mesmice; talvez as pessoas não se apercebiam desse meu lado influenciável beirando o fim de uma estação carrasca, e não apenas pelo fato de nunca ter explicitado qualquer coisa, mas porque era bonito o fato do vermelho chapado e do azul triste formarem o violeta-resquício. O que eu quero dizer com isso, Minho, é que é bonito admirar algo destruído, intangível de reparos, porque você sabe que existe muita beleza no corrompido. Ninguém quer ser a imagem refletida do outro lado e é por isso que espelhos quebrados exalam a beleza intrínseca do destruído.
Você ri de coisas feias, porque o desespero se sobressai às outras possíveis reações.
Não foi uma grande surpresa quando você queimou minha coxa esquerda com o cigarro pela metade que estava me colorindo de violeta naquela tarde da nossa viagem importante, porque eu já me apercebera da sua distração entediante. Você não me amava mais, Minho. Entretanto, a ardência causada em minha pele prejudicou meu coração muito mais do que suas palavras podiam ter feito, por incrível que pareça. E se digo que é incrível, é sensato, porque você me disse uma vez que aqueles que te amam de verdade nunca estapeariam sua cara com alguma verdade que não colaborasse evolução. Bem, e como não sou bom com números e nem aprecio muito a arte e exatidão da matemática, deixo você contar por quantos anos vai sentir minha falta.
Tudo sobre nós é o momento mais doloroso de nossas vidas. E você sabe que não podemos recuperar isso por nada. Nem que me pague uma tatuagem de decimais para cobrir minha cicatriz na coxa ou intervenha a diária masturbação com a promessa de oferecer um prazer que ultrapassa necessidades físicas e acabe por domar um lado poético que tenho e que você nunca vai alcançar. Nada disso adiantaria uma vez que a compatibilidade não existe e as junções se desgastaram numa aparência nada articulada e doentia.
Talvez você queira tentar novamente, mas eu sinto muito por ser essa cicatriz de cigarro na sua coxa.
E pode pensar que sou louco por dizer qualquer coisa.
Mas, olhe bem, Minho.
Você é o único com uma queimadura beirando ostracismo aqui.

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ㅡ ostracismo. stray kids | minsung
Fiksi PenggemarPorque tudo sobre nós é o momento mais doloroso de nossas vidas. E você sabe que não podemos recuperar isso por nada. [♡]› oneshot | jisung+minho | yaoi ©borbulhos, 2018. TODOS DIREITOS RESERVADOS.