Cetáceo

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Passaram-se duas semanas, os sintomas eram insuportáveis e só colaboravam mais ainda para o que depois veio a se confirmar através de um teste barato farmacêutico: estava grávida. Nas margens da Lagoa da Conceição, bares, boates e botecos agitavam a vida noturna. Foi numa noite de sexta: céu limpo enluarado, água calma e clara, carência que afligia. Risos e cortejos pelos arredores do barzinho, e eu lá, acompanhando a movimentação com a breja já pela metade.

O silêncio interior é quebrado, um jovem rapaz, alto de aparência rija, belíssimo posso dizer, oferece-me uma bebida. De bom papo, bem-humorado, conquistou-me pelo olhar e sorriso. Seus encantos tinham seus efeitos, o calor do momento, a necessidade suprida, deixei-me levar e assim, aconteceu. Acordei sem ninguém ao meu lado, nenhum sinal de vida.

Gravidez já em estado avançado, quatro meses. Por Deus, eu juro que usei camisinha, como isso aconteceu? Os vômitos frequentes, as contrações fortíssimas, o desejo por carne de peixe, sede e mais sede. Chega dessa droga. Não vou criar filho sozinha, ainda mais de desconhecido, isso foi um acaso, mudei minha decisão.

Um arame farpado foi minha escolha, desespero e agonia apossou-me, preciso fazer logo, depressa! Introduzi com cuidado o pedaço de cerca, senti o parasita reagir, uma dor horrível: veio rasgando pelo caminho, saiu espontaneamente. O feto rosado na poça sanguínea, no lugar dos braços, nadadeiras; da face um bico longo projetava-se; onde seriam as nádegas, estava a cauda com uma barbatana no fim. Metade humano, metade cetáceo rose.

Horror Brasileiro - FolcloreOnde histórias criam vida. Descubra agora