painful memories

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- Nada que eu já não tenho visto

Quando ele terminou de falar, eu me dei conta do que estava acontecendo, foi como um choque de água fria nos meus pensamentos, fazendo com que eu acordasse do êxtase que era aquele maldito sotaque britânico tão perto de mim.

Sai bruscamente do box, me enrolando no roupão, sem tirar a roupa molhada, me sentei no vaso sanitário e olhei de cara feia e resmungando baixo, a minha irritação era mais so que evidente.

- O mesmo imbecil babaca de sempre

Ele encostou as costas na parede, desceu deslizando, até sentar na banheira e abraçou os joelhos.
Me sentei ali perto e apenas o observei, não iria deixá-lo sozinho, o efeito do álcool não havia passado completamente.

- Eu posso concordar com você Candy, sou realmente, um imbecil babaca, do pior tipo existente.

O olhei sem entender, suas palavras estavam enroladas, mas não difíceis de compreender. Não comentei nada, apenas deixei com que continuasse.

- Perdi 4 anos da minha vida ao lado de alguém que não amei, acreditei em pessoas erradas e perdi o amor da minha vida

O escutei atentamente até a parte do "amor da minha vida", senti meus olhos arderem, a garganta secou, abri a boca para responder algo, mas não saiu som algum.
Eu no fundo sabia que ele falava de mim, mas não quis falar nada, para que assim ele acabasse falando.
Sem esperar que eu respondesse, ele continuou.

- Deixa eu contar para você, sobre ela...

Ele deu um meio sorriso um tanto amargurado e prosseguiu

- Ela foi a luz da minha vida, ela era tudo para mim, nos entendíamos como ninguém, e Deus, como ela é linda, forte, ela tem um coração enorme, eu nunca admirei tanto uma mulher, como admiro cada detalhe dela.
Só que um dia, quando estávamos felizes, e tudo estava dando certo, entrou duas pessoas no nosso caminho, elas praticamente nos destruiram e nos separaram e eu não fiz nada! Como sou babaca!! Mas a minha única pergunta nesses anos todos, que atormenta tanto os meus pensamentos a cada segundo so meu dia, é: Será que ela me culpa como eu me culpo?

Ele me olhou singelo e por mais que eu estivesse meio sensibilizada pelo momento, não pode deixar de pensar:
" Ele só pode estar brincando, falar sobre mim, para mim e ainda por cima bêbado?!"

Ele não era definitivamente a pessoa que eu tinha conhecido, a pessoa que eu amei.
Onde está o meu Jomo?!
O homem que está a exatamente um metro de distância de mim.
Não era alegre como meu Jomo, não era forte como meu Jomo, nem muito menos era vaidoso como meu Jomo.

Aquele homem estava quebrado, triste, sua dor era visível.
Ele se deteriorou, o olhei e as lágrimas marcavam seu rosto, ele com a voz carregada de dor, murmurou

- Eu perdi o amor da minha vida...

E começou um choro quase que de uma criança, aquilo praticamente fez com que mais uma parte do meu coração se destruísse, acabei deixando algumas lágrimas incertas caírem.

- Joseph, por favor, sai daí, precisamos trabalhar amanhã, você tem que ir embora ele

Ele me olhou de maneira que os seus olhos transmitiam uma dor enorme.
E eu conseguia senti-lá.
Nós sempre tivemos uma conexão inexplicável, sentiamos as coisas um do outro, ele costumava dizer que o motivo disso, era porque somos "Almas Gêmeas", sorri amargamente com a lembrança, levei uma das mãos até os meus olhos e limpei as lágrimas que ainda teimavam em cair, as mesmas lágrimas que guardei durante 4 anos.

Ele se levantou e fez menção de cair, apenas segurei seu braço e o enrolei em uma toalha, assim como fazia com Florence, quando a banhava.

O guiei em direção ao quarto e o sentei na cama entregando uma xícara de café, que havia feito antes de dormir, apenas a esquentei com o micro-ondas do hotel.

Ele tomou o café em goles lentos, como se estivesse pensado em algo.
De repente me perguntou.

- Se você quisesse recuperar 4 anos de pura tristeza, oque você faria?

Aquela pergunta me pegou de surpresa.
Era óbvio que a bebida não havia perdido o efeito e eu nem poderia querer isso, se eu bem o conhecia sabia que deveria ter ingerido uma quantidade absurda de álcool para estar naquele estado deplorável.

- Eu não sei..

Pigarreei com a voz baixa e fraca.
Ele me olhou confuso, sua angústia era palpável, depois de alguns longos minutos em silêncio, ele terminou o café e o deixou no criado mudo ao lado da cama.

Se virou em minha direção e perguntou

- Você se... arrepende de... nós?

O olhei incrédula e levantei rapidamente da poltrona em que estava.

- Eu acho, que você já está ótimo, já pode colocar sua roupa e dar o fora do meu n quarto.

Falei seca e evitando o contato visual, me abaixei no chão e peguei suas roupas as atirando em seu colo.

- Candy você vai me odiar...para sempre?

Ele levantou e foi atrás de mim, que acabará de ficar contra a parede.

Não o respondi, o silêncio tomou o quarto por um instante

- Me responda por favor..

Ele me pediu em tom de suplica, sequer o olhei, apenas o ignorei

- É eu acho que pelo jeito vai...

Ele virou sem dizer mais nada, pegou suas roupas e as vestiu com o semblante pior que o anterior.

Andou em marcha lenta até a porta e virou me olhando nos olhos, depois fitou o chão, murmurrando baixo.

-Sinto muito....

E saiu sem esperar uma resposta minha.
Ele foi embora, como da outra vez, e só Deus sabia o quanto doía em mim aquilo.

Me arrastei até a porta a fechando, logo encostei as costas na porta e deslizei até sentir alcançar o chão.
Me sentei e abracei minhas pernas, em um gesto para que eu mesma me consolasse.

Me permiti chorar, e deixar que a dor saisse e fosse embora com ele de alguma forma, mas não foi.

Eu me sentia vazia, totalmente sem rumo, o muro que havia criado nesses anos havia caído, eu pensei que seria mais forte com o tempo, pensei que duraria mais a resistência.

Mas bastou ver ele novamente, que eu estava frágil mais uma vez.
Minha vida de 4 anos estabilizada, acabou de ir instantaneamente pelo ralo.

Never Forget You - Jodice (Klaroline)Onde histórias criam vida. Descubra agora