XXVI

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Talvez tivesse se passado algumas horas ou somente uns poucos minutos, Harry não saberia dizer.

Ele ainda estava no chão frio, com as costas apoiadas na porta, sustentando seu peso e, definitivamente, uma bagunça. Naquele momento, o detetive era uma bagunça de corpo, cachos despenteados e pensamentos sem nexo.
Os dedos ossudos e longos, enrolando-se uns nos outros como se aqueles movimentos fossem a coisa mais divertida do mundo. Como se aquilo fosse algo totalmente digno de sua atenção.

Harry levantou minimamente a cabeça e olhou para a janela a sua frente, a Londres adormecida era linda, iluminada e... calma? Por que tão diferente do mar resolvo que parecia existir dentro de sua mente? Embalando seus pensamentos e batendo de um lado para o outro como ondas se quebrando de forma bruta e ao mesmo tempo tão natural e suave nas rochas da encosta.

Sentindo-se terrivelmente cansado e esgotado, e, ao mesmo, sem conseguir sentir nem um pouco de sono, ele se levantou nas pernas longas e gelatinosas e caminhou até sua mesa, parando por um momento perto do vidro grande que refletia sua imagem deplorável. Harry olhou para si mesmo e olhou também para a cidade ao seus pés, e o contraste era deprimente.

Ele suspirou, completamente acabado, e voltou para mais perto de sua mesa, alcançando o telefone celular logo em seguida. Abrindo a aba das chamadas recentes, o número de quem desejava mais que tudo conversar, foi o primeiro que apareceu e depois de longos e quase intermináveis toques, a ligação caiu na caixa postal.

Enquanto a voz computadorizada da secretária eletrônica dizia coisas com que Harry não dava a mínima, o detetive limpou sua garganta e caminhou para perto da janela, encostando sua testa no vidro frio, e sua respiração o embaçando.

— Oi, Lou — disse ele com o tom de voz baixo, antes de soltar uma lufada de ar de forma esgotada. — Queria muito falar com você agora, e tudo bem que esteja dormindo e não possa me atender — Harry estreitou o olhar e o pousou no relógio em cima de sua mesa —, eu sei que está tarde e me desculpe por estar, de certa forma, atrapalhando seu sono enquanto você está tentando descansar e uma maldita voz fica ecoando pelo seu quarto — o detetive ri de forma anasalada e revira os olhos para si mesmo. Harry desencosta a testa da janela e se vira contra ela, se apoiando ali e encarando a sala a sua frente. — Eu também sei que só faz algumas horas desde que nos vimos e desde estávamos na minha cama mas eu já estou com saudades, e é esquisito dizer isso? E também é esquisito dizer que não faz sentido eu voltar para meu apartamento se não for ter você para dormir comigo?

Harry limpa a garganta outra vez e fica em silêncio por alguns segundos, se sentindo terrivelmente patético por estar falando sozinho e por estar atrapalhando Louis, mesmo que ele não esteja lhe ouvindo de fato. E ele também meio que se sente patético por se sentir de forma tão melancólica e intensa por alguém que conhece há menos de três semanas, ou alguém que possa estar nem ligando para seus sentimentos bagunçados e exagerados, Harry não deveria se sentir assim, não é? Mesmo que seja por alguém como Louis?
Ele não deveria ter aprendido com experiências anteriores que estar próximo demais e ser... grudento demais nunca era bom?

— E-Eu preciso desligar — murmura entre gaguejos e fecha os olhos de frustração. — Desculpe incomodar você e te ligar essa hora para dizer nada com nada.

Harry coça as pálpebras pesadas e ardentes e torna a se virar de frente para Londres, seguindo com os olhos o movimento de um carro o outro que passava lá embaixo.

— Enfim, me desculpe — pede outra vez. — Estou com saudades e eu sei que isso é bobo. Durma bem, Lou. Eu adoro você.

E então, ele desliga.

Deadly Lovers | L.S. |Onde histórias criam vida. Descubra agora