- Você sabe que não estou fazendo essa merda porque quero, não é? Casar estava fora dos meus planos de vida, definitivamente. - Não lembro de alguma vez ter me sentindo tão irritado quanto estava naquele momento, parecia que cada fibra do meu corpo queria socar o homem que coincidentemente era meu progenitor.
- Não é só por mim, filho. É pela sua mãe também. - Maldito cara de pau, como ousa usar o nome da minha mãe desse jeito? - Soran? - Me chamou e a única coisa que fiz foi revirar os olhos, voltando a me sentar no sofá, fazia exatos cinco anos que não entrava naquela casa, desde que minha mãe se foi. Trabalhava em um bar desde que saí dali, comecei cedo, por sorte a dona não frescou por ter 17 anos na época, nem todos acolhiam ômegas menor de idade, protegendo com unhas e dentes. Na maior parte das vezes era prostituição na certa. Contudo, naquele bar, parecia que tinha encontrado uma nova mãe protetora.
- Você é um maldito egoísta. Não use a imagem dela por benefício próprio. - Antes de sucumbir a doença, minha mãe me fez prometer cuidar do meu pai, não lhe deixar passar por nenhuma dificuldade. Um maldito beta não consegue nem manter as contas da própria casa? Na primeira oportunidade fugi, me senti culpado por ter quebrado aquilo que disse no leito da sua morte. Fazer o que? Só tinha 17 anos, estava arrasado e nunca gostei desse homem miserável a qual estava na minha frente que não conseguiu enfrentar a morte da própria esposa. Babaca. - Não consegue nem administrar sua vida, agora está empurrando seu único filho para casar com alguma família rica que nem me interessa, se quer saber.
- O alfa é responsável, trabalha como arquiteto, vai cuidar bem de você. - Sério que achava que estava ajudando com isso? Meu pai se meteu em várias dívidas depois que fui embora. Fico me perguntando se estivesse do seu lado as coisas não teriam sido diferentes. Mas isso não importa, a minha decisão de casar com um desconhecido era movida por essas dúvidas e pelas promessas que quebrei, além de...
- Tô pouco me fodendo para o que ele faz. - Dou de ombros. Só sabia que o benfeitor do meu pai era um homem poderoso, dono de uma empresa imobiliária bem grande. Tinha 3 filhos, todos alfas, me casaria com o mais novo, aparentemente o mesmo vivia uma vida regrada, longe da expectativa do pai, que queria seus filhinhos todos encaminhados. Deixa o cara ser livre, mas não, tem que encontrar um beta desesperado que quer dar o próprio omega para um casamento de benefícios. Estou me queixando muito? Sim.
- Amanhã iremos conhecê-los. Apenas se comporte. - Mostrei o dedo do meio, levantei, indo agora o meu antigo quarto. Pensei que meu pai estaria usando como depósito, contudo, estava intacto e limpo, sem cheiro de poeira ou morfo, o que significava que deveria estar limpando esporadicamente. Que homem idiota. Suspiro com isso. Me jogando na cama, pegando meu esmalte, pintando minhas unhas de negro, retocando na verdade.
Desde que saí de casa, optei por um visual mais dark, era mais por causa do meu trabalho. O bar acabava atendendo uma demanda grande de rockeiros, então tinha que mostrar ter o perfil, mesmo que no início não gostasse. Aprendi a curtir. Coloquei vários brincos na orelha, no septo, inclusive na língua, raspei a lateral do meu cabelo, deixando as madeixas enroladas e ruivas, com pontinhas azuis caírem para o lado. Meus olhos brilhavam em cor de mel. Era magro, porém, tinha uma boa musculatura, fiz alguns anos de boxe. Mirela, a dona do bar achava que tinha que aprender a me defender. Nunca entendi essa superproteção. Quando perguntei, apenas sorriu tristemente, dizendo que me contaria em outro momento. Cinco anos depois e esse momento ainda não havia chegado.
Estranhamente minha aparência não parecia ter chocado o empresário na minha frente. Fomos meia hora antes do previsto, vesti roupas escuras, contando com roupa social preta, calça da mesma cor, bota cano curto também negra. Cordão com uma caveirinha que tinha ganho de presente da Mirela. O restaurante escolhido parecia ser caro, a mesa que ficamos era próximo de uma grande parede de vidro que dava vista para o jardim, com direito a fonte, passarinhos se divertindo, flores exóticas que não deveriam existir naquele lugar, mas estavam ali como se pertencessem ao local a muito tempo.