Séc II: Atenágoras - Da Ressurreição dos mortos

15 0 0
                                    

Da Ressurreição dos Mortos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Da Ressurreição dos Mortos

(Atenágoras de Atenas)

Tradução: Ivo Storniolo e Euclides M. Balancin

1ª PARTE - A POSSIBILIDADE DA RESSURREIÇÃO

Capítulo I - Dois tipos de raciocínio

Em todo dogma ou doutrina que se atenha à verdade nesses assuntos nasce, como rebento, alguma mentira. E nasce não porque, de princípio, saia algo inerente por natureza ou como causa essencial de cada coisa, mas porque é procurado com afinco que honram o germe adúltero que corrompe a verdade. Pode-se comprovar isso primeiramente que há muito tempo especularam sobre esses assuntos e na divergência com seus predecessores ou mesmo com seus contemporâneos, e igualmente atra­vés da própria confusão em que se encontram os assuntos discutidos. Com efeito, é certo que essa laia de pessoas não deixou nenhuma verdade sem calúnia: nem a essência de Deus, nem seu conhecimento e sua operação, nem o seguimento encadeado dessas coisas que nos aponta a doutrina da piedade. Assim, existem alguns que, comple­tamente e de uma vez para sempre, renunciam a encon­trar a verdade sobre esses assuntos; outros a distorcem em vista de suas próprias opiniões; outros, por fim, fazem profissão de dúvida até sobre o evidente. Na minha opinião, aqueles que se preocupam com isso necessitam de duplos raciocínios: uns para defender a verdade, outros a respeito da verdade. Os raciocínios para defender a verda­de se dirigem aos que não crêem ou duvidam; os raciocínios a respeito da verdade para os que têm sentimentos nobres e recebem com benevolência a verdade. Portanto, é preciso que aqueles que desejam examinar estas questões considerem o que lhes seja útil em cada caso e, de acordo com o caso, meçam seus raciocínios e ajustem convenientemente à sua ordem, e não descuidem do conveniente e do lugar que corresponde a cada coisa, acreditando que se deva conservar sempre o mesmo princípio. Com efeito, se se olha para a força demonstrativa e para a ordem natural, os raciocínios a respeito da verdade têm a primazia sobre os raciocínios em defesa da verdade; ao contrário, se olhamos, porém, a utilidade, os raciocínios em defesa da verdade são anteriores aos raciocínios a respeito da verdade. Assim é que o lavrador não pode convenientemente lançar as sementes na terra, se antes não arrancar todo o mato e o que pode prejudicar a boa semente; o médico também não pode aplicar medicamentos de saúde ao enfermo, se não limpa antes o mal interno ou não detém o mal que procura infiltrar-se; assim quem procura ensinar a verdade não poderá, por mais que fale dela, persuadir a ninguém, enquanto uma falsa opinião esteja agarrada à mente dos ouvintes e se oponha aos raciocínios. Nós também, visando justamente à utilidade, por vezes antepomos os raciocínios em defesa da verdade aos raciocínios a respeito da verdade. E para quem considera o que é conveniente, não lhe parecerá inútil que procedamos agora do mesmo modo, neste tratado sobre a ressurreição. De fato, também neste assunto, encontramos alguns que não crêem absolutamente, outros que duvidam e, entre os que aceitam nossos primeiros princípios, existem os que são tão perplexos como os que duvidam abertamente. O mais absurdo é que eles não têm o menor pretexto para fundamentar sua incredulidade na realidade, nem podem encontrar uma única causa racional para não crerem ou duvidarem.

Os Primeiros CristãosOnde histórias criam vida. Descubra agora