Prólogo

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Novo emprego. Novo apartamento. Nova vida. Um mês havia se passado desde que me juntei à equipe do The New York Mirror. Quando realizei minha entrevista e fui aceita, acreditei que havia finalmente encontrado o local correto para seguir em frente com minha carreira de jornalista. Mas aqui estou eu, pensando pela quarta vez na semana, a respeito do dia em que entreguei meu currículo no jornal e realizei a entrevista com Greg Hill, meu atual chefe. O emprego era tranquilo, agradável e sem as agitações do anterior, mas ainda assim, eu sentia falta de algo. Apesar de ser o tipo de jornalismo com a qual estava acostumada desde a faculdade, não posso negar que havia me afeiçoado à Moda. E toda a resistência que demonstrei nos meus primeiros meses no meu antigo trabalho, dava-se exatamente por eu saber, lá no fundo, que este mundo me encantava. E muito. Pronto. E lá vamos nós de novo. Memórias da Semana de Moda em Paris me acertam em cheio novamente.

Quando abandonei Miranda, o fiz em um momento de total impulso, muitas coisas estavam me atormentando. Minha amiga havia ficado contra mim dizendo coisas horríveis sobre não me reconhecer mais, meu então namorado me acusava pelo fato de ter aceitado ir para Paris no lugar de Emily e de não estar envolvida no relacionamento tanto quanto ele e assim terminou tudo entre nós, eu vi um amigo, Nigel, ter seu sonho destruído sem nem antes ter sido avisado. Era um misto de emoções e, quando Miranda me comparou a ela, eu simplesmente mentalizei todas as coisas ruins que diziam a seu respeito e surtei. Surtei porque não queria ser essa pessoa que todos vinham me acusando de ser, queria ser diferente. A verdade é que ela estava certa e eu a compreendi tarde demais. Eu sabia que havia motivos importantes por trás de suas atitudes, que ela não tinha a intenção de ferir Nigel, assim como eu não tinha a de ferir Emily. A vida adulta, principalmente a profissional, é cheia de escolhas e cada um de nós somos responsáveis pelas nossas. Finalmente eu havia compreendido isso, e uma parte de mim queria poder voltar atrás no exato momento em que fui embora e dei às costas para Miranda Priestly.

Foi refletindo a respeito de tudo isso que decidi iniciar uma série de cursos a fim de me atualizar na minha profissão como jornalista e me especializar na área de Moda. Sim, eu estava cogitando a hipótese de trabalhar em uma revista de moda novamente. Não como assistente, mas sim exercendo a profissão que tanto amo. Sabia que não seria tarefa fácil conseguir um emprego nessa área novamente, talvez muitos tivessem conhecimento do ocorrido em Paris, mas iria tentar. Sempre fui determinada e sabia que este era realmente o caminho que me faria completa e feliz, unindo minha vida pessoal e minha carreira.

Um mês depois. Escritório de Miranda Priestly.

A editora-chefe da renomada revista Runway americana encontrava-se surpreendentemente quieta em plena terça-feira. Tal fato não passou despercebido por seu amigo e colega de trabalho, Nigel, que então decide ir até ela. Ele adentra o escritório de tons claros e elegantes, e chama a atenção da mulher de meia-idade de cabelos prateados que encontrava-se de costas à porta, tirando-a de seus devaneios.

— Miranda? — Ele a chama e ela vira a cadeira lentamente, encarando-o. Nada diz, então ele continua. — Percebi que o escritório está relativamente calmo hoje, algum problema?

—  Nenhum, por que haveria? — Ela responde calmamente ainda um tanto quanto absorta em seus pensamentos anteriores.

Nigel não pôde deixar de notar o exemplar do jornal The New York Mirror sobre a mesa de Miranda e, uma vez que ela costumar apenas ler o The New York Times, achou a situação ainda mais curiosa. Tanto que não pôde segurar as palavras dentro da boca e soltou:

— Hum... The New York Mirror, é? Essa para mim é novidade. Acredito que conheço uma certa pessoa que tem gastado seu tempo escrevendo colunas neste jornal. — Nigel manteve contato com Andrea mesmo depois do ocorrido na semana de moda em Paris, e depois de tê-la visto em frente ao prédio da Elias-Clark, ele percebeu certo interesse da chefe em se manter informada a respeito da vida da ex-assistente. Miranda sabia da amizade de Nigel com Andrea, é claro, mas nunca havia se posicionado contra nenhuma de suas decisões pessoais. Ao perceber que Miranda não esboçou nenhuma expressão, continuou. — Irei retornar para minha sala, caso precise de algo, não hesite em me chamar.

Nigel estava prestes a deixar sua sala quando ela decide quebrar o silêncio, fazendo-o virar-se para ela novamente.

— Ela tem se interessado por Moda, sabia? — Diz em seu característico tom de voz baixo. Nigel a encara um tanto quanto confuso, não sabia como ela detinha tal informação, afinal, ela não conversava com Andrea desde Paris, não era uma mulher de dar o braço a torcer. — Você ainda se surpreende com o fato de eu saber de tudo que ocorre em nosso mundo, Nigel? — Ela esboça um pequeno sorriso de canto.

— Claro que não, Miranda. Só me surpreende que você tenha se interessado tanto por ela. — Foi a sua vez de sorrir. Ele responde calmamente. — Mas quem sou eu para questionar suas decisões e interesses, não é mesmo? Precisa de algo?

Miranda o encara e um sorriso que Nigel havia presenciado apenas uma vez quando ela muito se agradou de uma coleção, surge em seus lábios.

— Sim. O novo endereço dela.

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