Capítulo VIII

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Mais um dia frio havia se iniciado na nublada Londres. Eu observava sentada na beirada da janela do meu quarto, as pessoas indo e vindo pelas calçadas. Observá-las sempre foi meu fascínio, por vezes perdia-me em meu silêncio analisando cada uma. Gostava de ver como se comportavam e como se mostravam ao mundo através de sua forma de expressão. Talvez fora isto que sempre me encantou no mundo da moda, a forma como ela pode expressar sentimentos, gostos, costumes, tradição, história, enfim, tudo. Hoje estava mais ansiosa do que nunca, esta semana teríamos a resposta de um olheiro que estava analisando trabalhos na editora e eu torcia internamente para que ele notasse todo o meu trabalho e o nome que construí na cidade. Quem quer que ele escolhesse, seria convidado a trabalhar no corpo editorial da revista Grazia em Milão. Pego minha xícara com chá que estava ao meu lado esfriando e bebo um gole, permitindo que o líquido, agora morno, desça pela minha garganta e a camomila alivie a ansiedade. Um sorriso bobo se instala em meus lábios ao ouvir a voz que eu mais adorava no mundo.

— Olá, estranha.  A mulher de cabelos castanhos avermelhados e bagunçados, enrolada em lençóis também bagunçados, me cumprimenta com a voz rouca, tirando-me de meus devaneios, e eu não deixo de sorrir com a cena. A luz clara que adentrava pela janela a faz semicerrar os olhos enquanto me olha.  Encarando os desavisados na rua novamente? Estou com ciúmes.

 Sabe que não tem motivo, a pessoa que mais gosto de admirar está na minha cama neste exato momento.  Sorrio e deixo a xícara de lado, sento-me na cama ao lado dela. Arrumo uma mecha de cabelo que caía em seus olhos, ao mesmo tempo em que encaro o olhar intenso à minha frente, e depois foco na boca que agora esboçava um risinho unilateral.

 Vai ficar só olhando?  Ela diz de maneira sensual e me faz perder o ar imediatamente. Me aproximo lentamente de sua boca e toco com delicadeza seus lábios com os meus. Sinto ela passar a mão pela minha nuca, o que me faz arrepiar, me puxando para mais perto e fazendo com que eu me incline mais em sua direção. Eu aprofundo o beijo e em poucos segundos já estamos ofegantes, ela tira o contato de nossas bocas por alguns instantes.  Bem melhor assim, vem cá.

Me puxa para cima de si e eu passo as pernas em volta de sua cintura. Admiro mais uma vez a mulher em minha cama e em seguida traço beijos delicados pelo seu pescoço. Ela começa levantar a única peça que eu usava, uma blusa comprida, a fim de obter mais contato, mas eu a impeço segurando sua mão e sussurro em seu ouvido.

 Não posso. Já está tarde, preciso ir para a editora.  Dou um selinho rápido no biquinho que ela fazia.  E você também, mocinha. Precisamos nos comportar antes que eles digam que nosso relacionamento está atrapalhando o desempenho na empresa.

 Você sempre colocando o trabalho na frente de tudo.

 É só no início. Quando estiver estabilizada poderei, enfim, relaxar.  Faço um carinho delicado na maçã de seu rosto.  Vou tomar um banho rápido e me arrumar, você vem?

 Não, irei depois. Chegarei mais tarde na empresa hoje.  Fico um pouco confusa com o fato, ela não havia comentado nada comigo.

 Tudo bem.  Dou um último beijo em seus lábios e saio para me arrumar.

Durante o banho não deixo de pensar em como minha vida estava se acertando de uns tempos atrás para agora. Eu havia construído um bom nome em Londres, estava começando a me tornar conhecida e diversas pessoas apostavam em mim como próxima integrante das revistas mais importantes da Europa. Quase dominava o italiano e agora era fluente em francês, os dois idiomas havia estudado sozinha durante a noite em meu apartamento quando chegava do trabalho. Um árduo investimento para a carreira, mas que certamente colheria os frutos no futuro. Ao mesmo tempo, estava namorando uma mulher linda há oito meses, que me fazia extremamente feliz e estava mais apaixonada do que nunca. Definitivamente, nada poderia dar errado.

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