O jovem abriu os olhos, sentindo-se levemente desnorteado, sem compreender absolutamente nada ao seu redor, a visão turva e os audição confusa. Várias vozes ecoavam de todas as direções, num turbilhão de conversas que, de início, incompreensíveis, se tornavam cada vez mais lógicas. Diálogos sobre o cotidiano, sobre a mesmice, o trabalho, a vida.
Sua visão, finalmente, retornou por completa. Olhou ao redor, percebendo que estava sentado em frente a uma mesa de um pacato restaurante. Diante de si, na mesa, um prato e copo já vazios. Uma mão tocou seu ombro, tão repentino, que, normalmente, teria saltado num susto.
Mas... não se assustou.
Na verdade, parecia natural.
- Posso recolher seu prato, senhor? - Uma moça perguntou, a dona da mão que lhe tocara o ombro. Pela pergunta e as roupas que vestia, uma camisa preta com uma logo confusa do restaurante, era uma garçonete, uma funcionária naquele restaurante de iluminação suavemente amarelada e aconchegante.
- Ah... claro que sim. - Disse, olhando para si. Estava vestido como se vestiria costumeiramente para sair, usando suas pulseiras, seu colar com uma rocha negra pendendo, camisa de manga longa preta e calça jeans. A mulher pegou o prato e o copo, assim como os talheres usados.
- E os senhores, posso retirar os pratos? - Ela perguntou. Foi nesse momento em que o rapaz percebera: não estava sozinho naquela mesa. Junto a ele, estava um outro rapaz e uma garota, o que era estranho saber, pois não conseguia identificar ou vê-los com perfeição.
Diferente de tudo ao redor, a imagem de ambos se enturvecia perante sua visão. Eram borrões cinzas, mas ainda assim, sabia que eram dois jovens, talvez com idades próximas à dele, um do sexo masculino e a outra do feminino.
Estranha e ilógica era tal coisa, pois, mesmo os vendo apenas como borrões, via que estavam tão surpresos e estranhando as coisas como ele, ambos assentindo para que a garçonete pegasse os pratos.
- Quem são vocês? - O primeiro jovem perguntou, coçando sua barba, confuso.
- Eu... eu... eu sei quem sou... mas não consigo falar... e por que eu não consigo ver vocês? - A garota murmurou, coçando a cabeça, confusa. O outro jovem, sentado à frente dela, levou as mãos ao rosto, tentando raciocinar.
- Mas que porra... é como, assim que eu fosse falar meu nome, esquecesse, mas enquanto não falo, tenho meu nome em mente... e como se um filtro cinzento não me deixasse ver vocês. - Disse o outro rapaz, coçando a cabeça também. Foi quando o jovem percebeu que ele também estava na mesma situação dos dois. Ele sabia seu nome, quem era, de onde veio, tudo sobre sua vida. Mas no exato instante em que pretendia falar, tudo desaparecia. Era como se... algo os impedisse.
De repente, algo veio certeiro à mente do segundo rapaz.
- Temos que o impedir. - Proferiu, com tanta certeza quanto a incerteza de como fora parar ali. Os outros dois assentiram.
- Espera, como sabemos que temos que impedi-lo... mas que desgraça é essa, velho? - A garota perguntou, ficando cada vez mais exaltada. O jovem em frente a ela segurou seu antebraço de forma suave, tentando acalmá-la.
- Acho que só tem um jeito de chegarmos ao fim disso e entender tudo. Impedindo-o.
- Tá, okay. - Disse o jovem do início da história. - Agora eu quero entender... como e por que a gente tem que impedir o Samuel Jackson?! Gente, o que tem haver o Samuel L. Jackson com isso?
- Então... tá aí outra ótima pergunta. - Disse o outro rapaz. - Olha, precisamos nos chamar de algo. Me chamem de... sei lá... Marcos.
- Okay, então me chamem de, hm... ah, me chamem de Lorena.
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Um Pesadelo Lovecraftiano
Short StorySonhos e pesadelos fazem parte da vida humana desde que se tem consciência de nossa existência. E não são poucas as vezes em que sentimos que aquele sonho ou aquele pesadelo tinha um "ar" de além do que aparentava ser. Aqui, relato para vocês - numa...