Capítulo Único

1.2K 181 54
                                    

Fic feita para o desafio do inkspired do dia dos pais #tiposdepai

Gaara nunca achou que fosse ser pai, não havia necessidade para isso afinal de contas, a vila sempre seria sua família, e ele tinha seus irmãos, estava bem daquela forma, mas, quando soube de Shinki, a areia se agitou ao seu redor. Seu coração falhou uma batida ao primeiro olhar. Era como estar diante do espelho, como se o passado voltasse para lhe assombrar com a infância sombria e marcada por feridas. Reconhecia a raiva com que a criança diante de si manipulava a areia de ferro, mas não só isso... já estivera naquela posição, era fácil ver por trás daquele escudo de ferro e ódio, para achar o medo que controlava as ações daquela criança tão perdida.

Ouviu Kankuro lhe repreender, mas não soube o motivo até perceber que seus pés moviam-se por conta própria, até ter a atenção dos olhos verdes da criança para ele. Ela era como ele, um garoto com um poder grande demais para a idade, provavelmente ferido, sofrendo e apavorado.

A areia de ferro tentava repeli-lo, e Gaara viu os olhos do garoto se arregalarem quando conseguiu que as lâminas de ferro atinginssem as costas do Kazekage. Sorriu a despeito da dor e se aproveitou da hesitação para puxá-lo para seus braços. Manteve a mão nos cabelos dele, o abraço apertado, e torceu para que tivesse aprendido corretamente a transpassar toda segurança que pudesse naquele gesto como já haviam feito consigo.

Sussurrou palavras de conforto, não lembrava quais, seu coração apenas parecia de repente aliviado, como se houvesse então encontrado algo que há muito tempo tinha perdido e de que sentia uma falta imensurável. A certeza de que aquele garoto fazia parte da sua vida o fez apenas pegá-lo no colo, recusando-se a soltá-lo enquanto andava pela vila a caminho de sua residência.

Shinki. Esse havia sido o nome que o garoto lhe dissera quando o ajeitou em seus braços antes de ceder ao cansaço. Shinki parecia calmo, sua respiração serena podia ser ouvida, e Gaara não duvidou que ele tivesse dormido enquanto caminhavam. Isso lhe trouxe paz, sabia que o garoto precisava ter confiado nele para baixar a guarda e se permitir adormecer daquele modo. Não o acordou ao chegar em casa e sentou-se na sala, sob a supervisão preocupada do irmão. Acariciou os cabelos dele com estranha adoração e só não fez o mesmo com as marcas em seu rosto por medo de despertá-lo. Ele devia estar cansado, já tinha ouvido relatos de que há dias ele estava sendo caçado pelos moradores da vila.

— Gaara, não está pensando em....

— Eu falei que o ensinaria a controlar seu poder — respondeu.

— Ótimo, podemos levá-lo amanhã ao orfanato da vila, vou ver sua agenda para os treinos, vo-

— Ele não vai sair daqui — interrompeu-o, confuso, e Kankuro suspirou.

Gaara o olhava com os olhos verdes brilhando em determinação, e Kankuro viu-o segurar ainda melhor Shinki, a areia subindo pelo corpo do garoto e cobrindo-o como um confortável e seguro manto.

— Não pode ficar com ele.

— Por que não?

— Você é o Kazekage.

— O Conselho sempre me exigiu um filho.

— Um seu, do clã Kazekage, não um adotivo.

— Ele controla areia de ferro, é do clã, não se faça de desentendido. Essa não é uma habilidade que qualquer um possa ter.

— Gaara, seja razoável.

— Kankuro — chamou-o, sério. — Eu não vou deixá-lo. Não sei explicar, mas sinto que é comigo que ele deve ficar, que é parte de mim e que posso ser algo para ele. A menos que ele não queria ficar, vou cuidar dele.

Ser pai é como arremessar kunaisOnde histórias criam vida. Descubra agora