Parte de Algo

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     Ainda estou em hiato, mas hoje resolvi abrir uma exceção e publicar esse único capítulo que já tinha pronto porque é aniversário da VeronicaLaPatrona! Parabéns! Espero que gostem!
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     O céu ainda nem havia clareado totalmente, os passarinhos piavam suavemente e as folhas se mexiam e dançavam com a leve brisa matutina. Ámbar dormia tranquila e totalmente despreocupada. Seu semblante era leve, até um ruído constante, já presente há alguns minutos, chegar ao seu inconsciente.
A garota levantou bruscamente da cama, desligou o despertador e ao ver que horas eram, se deu conta de estar atrasada. Assim não daria para tomar café sossegada...
Vestiu-se com o costumeiro uniforme do Blake e desceu apressadíssima as escadas, quase caindo no final. No andar de baixo, as cortinas acetinadas estavam fechadas, bloqueando minimamente a claridade. Estranhou o fato de não ter ninguém na sala. Procurou na cozinha, também vazia. O calendário na geladeira indicava que era sábado. Suspirou frustrada. Realmente fazia todo o sentido não ter nenhuma alma viva daquela casa desperta às 6:25 de um sábado.
    Retornou para o quarto, colocou a camisola novamente e cochilou por mais algum tempo.
    Só voltou a acordar quando uma luz mais forte chegou ao seu rosto. Agora eram quase meio dia! Em fins de semana costumava estar comendo no máximo às 10:30.
    Na sala, Alfredo conversava animadamente com Luna. Esboçou um pequeno sorriso ao ver a cena. Os dois pareciam estar se divertindo bastante. Se Sharon não estivesse viajando, certamente os encontraria na cozinha.

  - Ah, Ámbar! Até que enfim acordou! - Exclamou o senhor ao notar a presença da loira no recinto. - Vá tomar café e junte-se a nós!

   Ela sorriu e assentiu, desejando um bom dia para ambos.
Tomou uma caneca de chocolate quente e um sanduíche da chapa. Em seguida foi atender ao convite do avô.
"Avô... será que tenho mesmo o direito de chamá-lo assim? Adoraria que esta fosse a verdade... mas a Sharon está enganando a todos, não só a mim..." - Pensou tristemente.
    Por fim, decidiu não pensar muito nisso, pelo menos por enquanto.

  - Cheguei! - Exclamou sentando-se ao lado da prima, de frente ao mais velho. - Sobre o que falavam?

  - O senhor Alfredo... - Começou Luna até receber um olhar divertido de Alfredo, em parte repreendedor. - Quero dizer, o vovô estava falando sobre suas experiências  com Karaokês.

  - Ah, eu adorava! Sempre ia nas minhas viagens! Se bem que nunca fui tão bom cantor quanto as minhas netas! Costumava me apresentar ao lado da Rosa das Marés, que além de escrever incrivelmente bem, possuía uma linda voz. - Contou nostálgico.

  - O senhor tocava, ou toca, algum instrumento, vovô? - Indagou Ámbar.

  - Há muito tempo tinha um piano aqui na mansão. Eu ficava horas dedilhando, e Lily, sua mãe, me acompanhava com o violino. Fazíamos uma bela dupla de musicistas! - As meninas sorriram encantadas, imaginando que sinfonia deliciosa deveria ressoar daquela união. - Quando você nasceu, Lily te carregava nos braços e balançava enquanto eu tocava. Às vezes revezávamos e Lily tocava seu violino no jardim e eu te segurava.

    Doía em Ámbar saber que aqueles momentos não lhe pertenciam e que não tinha nenhum para recordar. Mas também doía o fato de Alfredo acreditar com tamanha veemência que estava com a neta renascida das cinzas. Sentia que o estava enganado. Sentia-se péssima por isso, entretanto ainda não estava pronta para trazer à tona a verdade. Temia as reações de todos. Principalmente de Sharon, e agora, de Alfredo também.
    Sentiu os olhos começando a marejar. Luna percebeu, e numa tentativa de reconfortá-la de alguma maneira, contornou as costas da loira afagando levemente seu ombro esquerdo. Para sua sorte, Alfredo não notou, se notou, agradecia mentalmente por não ter dito nada.
Os três seguiram em direção ao jardim, sentindo o ar ameno, observando o lençol cinzento que cobria o céu.

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