Capítulo 7

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     Estar fechada num avião, os dois, sem qualquer tema de conversa está a tornar-se sufocante. Poderia começar uma conversa, mas tudo o que possa ter para lhe dizer será terrível. Não que ele não mereça. Em tão pouco tempo este rapaz já me tirou do sério demasiadas vezes para o meu gosto.

     Procuro um assunto de conversa, mas sem sucesso. Olho para o meu telemóvel e nem dez minutos passaram desde que descolámos.

     Levanto os meus olhos do ecrã e encosto-me ao meu banco. Ele está a olhar para mim. Está a tentar desvendar o que se passa na minha cabeça e ele sabe que me apercebi de tudo.

     - Ok, ok! – ele diz, desencostando-se do banco – eu vou contar-te tudo o que se passou. Durante a festa e bebeste demasiado e caíste inconsciente no chão. Peguei em ti assustado e consegui que acordasses, mas não dizias nada de jeito. Portanto, carreguei-te nos braços até ao quarto, vesti-te o pijama e pus-te na cama a dormir. Fiquei a dormir no sofá da sala e antes de me ir embora deixei o comprimido no teu quarto. – olho para ele e algo parece faltar na história dele, porque o seu sorriso é malandro e convencido, como se eu tivesse dito ou feito algo para aumentar o seu amor por si próprio.

     - E o que é que foi que eu te disse exatamente?

     - Nada de especial, só o quão bonito e sexy estava naquele dita e depois retiraste o que disseste. – riu-se e consegui ver o seu sorriso branco e radiante mesmo com a pouca luz do avião.

     - Graças a deus, e eu nem sou religiosa!- agradeci-me mentalmente por ter retirado o que disse.

     - Oh que querida! Retiraste o que disseste para me dizeres que não era só naquela noite, mas que o era todos os dia, na verdade. – ele diz e eu dou uma chapada mental a mim mesma.

     - Ohhhh.... Mas que bom! A sério? Simplesmente maravilhoso! – sinto-me tão estúpida enquanto ele mantém o seu sorriso maravilhoso na cara.

     - Não precisas de ficar assim sabes? As pessoas quando estão bêbedas ganham coragem para dizer e fazer o que pensam. Ao menos foste honesta, mas na realidade não me disseste nada que eu já não soubesse. – ele diz e a minha vontade de lhe responder ou de sequer continuar esta conversa é nula e por isso atiro a minha cabeça para trás e olho pela janela. Já estamos a chegar e dentro de dois dias isto acaba.

     Aterramos e um carro já nos espera para nos levar para a mansão de Portland. A conversa morreu e manteve-se nula até chegar-mos a casa. Quando chegamos toco à campainha na esperança que o meu pai tivesse ligado a dona Mary para vir trabalhar, mas depois de tanto tocar percebi que estamos por nossa conta. Dirijo-me à casa da piscina e tiro a chave de dentro de um gnomo de jardim e entramos.

     A casa da piscina não é nada comparada com a mansão, mas vai ter de servir. Tem apenas um quarto, uma casa de banho, uma sala, uma pequena cozinha e uma varanda maravilhosa com vista para a piscina e para a mansão.

     Dirijo-me para o quarto e quando vou para fechar a porta vejo Harry à entrada do quarto.

     - Nem penses nisso! – resmungo

     - Que foi? – ele pergunta surpreendido.

     - Vais dormir na sala. – digo-lhe dirigindo-me ao armário do quarto e tiro uma cobertor e uma almofada para lhe dar.

     - Já viste bem o tamanho do sofá e o meu tamanho? – os meus olhos percorrem-no de cima a baixo e de certa forma percebo que ele vai ter dificuldades em dormir naquele sofá. Penso rapidamente numa solução, mas a única que me vem à cabeça é pô-lo a dormir na rua. Digo-lhe que pode dormir na carpete fofinha do quarto e que se ele se deitasse na cama a meio da noite que o matava. Ele concorda. Tiro um pijama do armário e vou para a casa de banho vesti-lo. Quando chego ao quarto ele está no chão, deitado de barriga para cima todo destapado e de boxers. Olho para ele e abano a cabeça negativamente, mas nem sequer me dou ao trabalho de o repreender porque estou demasiado cansada para o que quer que seja.

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