Capítulo 1

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    Acordei um pouco mais leve, levantei e abri as cortinas deixando o sol entrar. Eu estava quase nas nuvens, conseguir um emprego melhor me dava uma nova perspectiva mesmo sabendo que não era grande coisa, agora só faltava eu ser contratada.
    Abri a porta do meu quarto e fui puxada de volta para a realidade, fiquei paralisada quando vi o estado da casa. Roupas, copos e garrafas de vodka, whisky e cachaça barata pelo chão. Deu vontade de fechar a porta do quarto e abri-la novamente para ver se, como mágica, aquela visão do inferno desaparecesse mas eu sabia que isso, infelizmente, não iria acontecer.
    Respirei fundo tentando me convencer de que não era um pesadelo, esfreguei meu rosto e resolvi ir até a cozinha. Pisei em uma das garrafas e cai de quatro no chão, Rosnei de frustração e me levantei. Comecei a ligar as luzes por onde passava, como uma criança com medo do escuro, tomando cuidado para não cair novamente.
   Roncos ecoavam da sala, aquela bagunça só tinha uma explicação. Desci as escadas, andei até a sala e, deitado no sofá só de cueca e com uma garrafa vazia em mãos, lá estava meu pai desmaiado, bêbado e fedendo.
    –Pai. –falei me aproximando dele. As cortinas abertas das janelas iluminavam o recinto, fazendo as garrafas de vidro brilharem e refletirem nas paredes brancas. O sacudi pelo braço não obtendo resposta. –Pai, acorda. –tentei mais uma vez, com mais força e ele acordou.
    Ele bocejou, me sufocando com o bafo de bebida e cigarro. Eu tossi procurando purificar meu sistema respiratório, eu odiava quando ele fazia isso.
   –Bom dia, filhinha. Dormiu bem? –ele perguntou se sentando no sofá, agonizando pela ressaca.
    –Muito, até que eu acordei e me deparei com essa bagunça.
    –Por que você está gritando? –ele cumpriu a cabeça com as mãos, puxando os cabelos.
    –Ué, mas eu não tô gritando! –insisti falando um pouco mais alto. Ele pediu para eu falar mais baixo e eu me calei e andei a passos largos até a cozinha.
    Comecei a preparar meu café, coloquei água no fogão para esquentar e lavei a louça. Depois me dispus a arrumar a casa. Catei as roupas e as separei para lavar, depois peguei um saco de lixo para coletar as garrafas do chão da casa e joga-las fora na lixeira da rua.
    Sai de casa e percebi que ainda estava de pijama. Dei uma olhada rápida pela rua e como ainda era muito cedo de uma manhã de domingo, resolvi arriscar e correr até a lixeira.
    Após jogar o lixo fora, bati uma mão na outra para limpar até que ouvi uma risada e passos vindo até mim.
    –Bom dia, vizinha. Acordou cedo hein.
    Um garoto de pele pálida e cabelos negros até os ombros andou em minha direção. Usava apenas uma calça de moletom cinza, descalço e sem camisa. Ele também exibia tatuagens diversas pelo corpo bem definido. Ele se aproximou de mim a passos calmos e com as mãos envoltas em um pano sujo de graxa.
   –Bom dia...–respondi sem graça, corando mas fazendo o possível para não passar vergonha, o que era impossível devido a situação.
    –Eu ainda não me apresentei, não é? Eu sou Graham, Levi Graham. –ele estendeu a mão, um pouco manchada de graxa, para mim. –Eu sou seu novo vizinho, cheguei na semana passada.
    –Sim, eu lembro de te ver pela janela. –me arrependi profundamente depois dessa frase.
    –Andou me espionando? –ele perguntou me deixando ainda mais desconfortável.
    –Não, quer dizer, não do jeito que você está pensando. Eu só fiquei curiosa com o caminhão de mudança e tudo mais.– respondi gesticulando muito, coisa que eu faço quando fico nervosa.
    –Vai me deixar no vácuo? – só depois eu percebi que ele estava com a mão estendida até agora. Não demorei para apertar sua mão, uma mão grossa porém suave com uma tatuagem de bússola nas costas. –Qual é seu nome?
    –Isabelle Knight, mas pode me chamar de Belle.
    –Que nome bonito, igual a portadora dele. –ele beijou minha mão e depois a soltou. Eu não podia estar mais sem graça.
    –Eu tenho que ir agora, me organizar para amanhã e acabei de arrumar a casa.
    –Oh sim, as aulas vão começar. Deus nos ajude! –ele fingiu desespero levantando os braços e colocou as mãos atrás da cabeça. Olhei pra baixo tentando não encarar aquele corpo sarado, eu tinha a impressão que ele fazia isso só para me provocar.
    Fiquei sem saber o que dizer, ficamos nos olhando por um tempo, ele sorriu timidamente pra mim e eu sorri de volta. Nesse momento me dei conta que a água estava esquentando no fogão.
    –Ah meu Deus, eu tenho que ir! Tchau, Graham. Até amanhã.– corri para dentro de casa.
    –Tchau, vizinha. –ele riu de maneira espontânea e foi embora depois.
    Cheguei em casa e me surpreendi com o aroma fresco de café.
    –Quer café, filha? –meu pai tinha levantado e feito o café. Ainda estava de cueca porém, em vez de uma garrafa de cachaça, ele segurava uma caneca de café.
    –Quero sim, pai. –falei pegando minha caneca do armário e me aproximando da cafeteira.
    –Quais são as novidades? –ele perguntou e eu me lembrei da breve conversa que tive com a senhora Belmont ontem.
    –Eu vou na casa dos Belmont hoje, para ver sobre a vaga de babá.
    –Que ótimo, filha! Estou muito feliz por você.– ele me abraçou e me deu um beijo na testa. Era bom saber que meu pai tinha orgulho de mim, mesmo com seus problemas e vícios, ele nunca deixou de ser um bom pai.
    –Obrigada, pai.– tomei um gole do café.
    –Vamos arrumar essa bagunça juntos? Como pai e filha fazem?– ele perguntou inocente, porém eu vi aquilo como um desaforo. Eu não fiz aquela bagunça e eu já tinha arrumado quase tudo.
    –Eu já arrumei minha parte, agora você acaba!– me afastei o deixando falar sozinho.
    –Pô filha, ajuda aqui seu velho.
    –Você não precisou de ajuda pra fazer essa bagunça. Agora, você que arrume!

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⏰ Última atualização: Aug 27, 2018 ⏰

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