Capítulo 5

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Soledade nunca tinha visto tantas joias na vida. Quando Padilha disse que a mãe dela havia deixado alguns pertences valiosos, jamais imaginou que fosse praticamente um tesouro. Certamente ela passaria a vida toda e nunca gastaria todo o dinheiro que a mãe havia deixado.

— Tem certeza que é tudo meu? — perguntou a Padilha.

— Tenho sim, senhorita. — O cavaleiro respondeu sorrindo. — O rei fez questão de guardar cada moeda e joia que sua mãe deixou.

— Minha mãe era rica. — Sol pegou um bracelete de ouro e olhou. — Como vou levar tudo isso embora?

— Vou ordenar que alguns cavaleiros reais acompanhem vocês. O rei já escolheu os homens que irão zelar pela sua herança.

— O rei era muito amigo da minha mãe? Percebi que ele teve muito cuidado com todas as coisas que pertenciam a ela.

— Pedragon conhecia sua mãe desde pequeno e ela se tornou uma boa amiga.

— Amiga? — Essa revelação a deixou curiosa.

— Eles eram amigos, vossa majestade tinha grande apreço por Inês.

— Lamento por não encontrá-lo, gostaria de lhe agradecer por ter sido tão cuidadoso com ela tanto em vida quanto em morte.

— Fique tranquila que transmitirei seus agradecimentos.

Soledade olhou para Padilha e prendeu os lábios. Ele estava sendo um bom homem desde que chegou ao reino. Sempre atencioso e prestativo. E havia demonstrado ser prudente e inteligente, talvez ele pudesse ajudá-la com as questões que começaram a invadir sua cabeça.

— Senhor Padilha, não quero voltar para casa. — Soledade soltou de uma só vez o seu desejo. — Quero ficar na casa da minha mãe, tomar conta das meninas, ser livre.

Padilha deu um passo atrás surpreso com a revelação de Soledade. Estava bem nítido que ela tinha traços da personalidade da mãe, mas ele jamais imaginou que passava pela cabeça dela ter o mesmo tipo de vida.

— A senhorita está falando sério?

— Estou. Não quero me casar à força. Nem quero ser controlada por um homem que não conheço. É injusto tentarem determinada a vida que devo ter. Quero escolher o que fazer e quando quiser.

— A senhorita tem noção dos absurdos que falou? Como pode pensar em ter uma vida de meretriz? Por acaso pensa que as mulheres que conheceu possuem uma vida feliz? Você já parou para pensar como deve ser difícil ter que se relacionar intimamente com homens que não conhece?

O rosto de Soledade esquentou, ela nunca teve esse tipo de conversa com as tias e primas, que dirá com um homem que mal conhecia.

— Eu... — Depois de ouvir o que ele falou ficou sem palavras.

— Acredite em mim, Soledade, ter que se casar com um desconhecido, não é a pior coisa que pode acontecer na sua vida. Várias pessoas fazem isso todos os dias. Faz parte da nossa cultura esse tipo de arranjo.

— Tudo pode ser mudado e eu quero iniciar essa mudança.

— Você quer ser revolucionária? É isso?

— Não, apenas quero ser dona de mim mesma. — Padilha sorriu.

— Esqueça essa ideia, a senhorita vai voltar com o abade e viver como uma dama. Sua mãe viveu longe de você para te manter a salvo da vida profana que levava.

— O senhor não pode mandar em mim. — A rebeldia que sempre a dominava quando era contraria explodiu.

— Mando sim, sou um cavaleiro real e estou no comando da situação por ordem de vossa majestade. Isso me dá o direito de intervir quando a senhorita quer tomar uma atitude insana.

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