Além Da Escuridão

Uma dança de dor

Sábado, dia do tão esperado baile, as pessoas estavam tão animadas, tão felizes que era divertido de ver.

Kat era uma delas, já tinha hidratado o cabelo e feito limpeza de pela. Eu disse que ela não precisava de nenhuma dessas coisas, mas não é como se ela me desse ouvidos.

Passei o dia todo lendo um romance que Kat julgava sem graça, o baile iniciaria às 19h e terminaria às 2h, o que já era um bom ganho. Afinal. É um colégio.
Comecei a me arrumar uma hora antes, afinal não tinha muita coisa a arrumar.

Na mesinha observo meus óculos e me dou conta que já não os usava mais, bom talvez eu não precisasse.

Kat entra em um turbilhão.

-Menina você ainda não está pronta? O baile é em meia hora.

-Desculpa. Demorei no banho. -Falo sorrindo para ela que estava linda.

Usava o vestido vermelho que tinha comprado e que lhe caira maravilhosamente bem. Era um vestido longo, justo que marcava cada curva do seu corpo, tinha um corte na lateral que subia até a altura da coxa e fechava com um decote v. Ela tinha alisado os cabelos loiros e usado uma maquiagem leve que destacava os olhos azuis. Realmente linda. Ninguém a superaria.

-Vem vou te ajudar. -ela diz me puxando para o banheiro.

Cinco minutos antes de Theo bater na porta eu olhava para meu reflexo perguntando se era eu mesma.

Kat realmente fez um bom trabalho. Meus cabelos ruivos formavam longos cachos que caiam na altura do seio e a mais maquiagem era leve nos olhos com um vermelho nos lábios.

Já o vestido, eu nunca tinha visto um vestido como esse. O corpete levantava meus seios e marcava minha cintura, com mangas de renda que iam da lateral do braço até a metade dele, acompanhado de alças finas, da cintura para baixo ele se abria, sento longo atrás e curto na frente, um pouco acima dos joelhos. E todo o conjunto preto. Em meu pescoço pendurava o colar que a senhora havia me dado, por algum motivo senti que deveria usa-lo. E em meus pés sapatos de salto normal.

-Estamos de matar. -Afirmou Kat ao meu lado. Ao mesmo tempo que batem na porta. -Espero que seja Peter.

Peter Jones, não só o par de Kat, mas o novo passa tempo favorito dela.

Ela abre a porta e vejo dois garotos de terno. Theo e Peter. Os dois estavam realmente lindos também.

O salão ficou maravilhoso para o baile, realmente capricharam.
Logo que entramos todos os olhos viram para nós e fico constrangida, mas rapidamente colocam uma música que faz com que todos voltem a dançar.

-Quer dançar? -Theo pergunta me dando um susto. Sorrio e afirmo que sim com a cabeça.

Ele me leva para a pista de dança que já tinha um número considerável de pessoas. Começamos a nos mover no ritmo lento da música. Era um básico dois e dois até que o ritmo aumenta e ele segue para passos mais complicados.

-Nada mal. -Falo com um sorriso no rosto.

-Eu é que to impressionado com você conseguindo seguir meus passos. -Ele responde com um sorriso sincero.

-Eu sou melhor, você sabe.!

-Ae? -Ele arqueia a sombrancelha me levando a dançar mais rapidamente mas sem sair do toque da música, cada vez mais ele complicava os passos, mas eu sabia todos e estava orgulhosa disso. Por fim ele termina comigo deitada em seus braços.

-O que achou? -Ele me pergunta ja sem fôlego.

-Até que você se saiu bem. -Respondo ainda sorrindo.

-E o beijo?

Congelo achando que ele tenha descoberto sobre eu e Mickael, mas seria impossível só Kat sabia, e ela não contaria.

-Que beijo? -Pergunto já temendo a resposta mas o que vem a seguir sem dúvida é surpreendente.

-Esse. -Então ele me puxa e me beija, simples assim. Mas que beijo, de tirar o fôlego, sincero e molhado.

-Nossa. -É a única coisa que consigo dizer nesse momento.

-Desculpa interromper o showzinho de vocês mas Liza me deve uma dança.

Tomo um susto ao ouvir a voz de Mickael nas minhas costas.

-Não devo nada. -Respondo rapidamente.

-Da festa em que nos conhecemos lembra? Você me deve uma dança. -Então ele pega minha mão e cola nossos corpos para a próxima música, vejo Theo sair meio bravo mas algo em Mickael me faz não fazer nada.

A dança começa e não tem palavras entre nós, apenas silêncio, diferente de Theo, Mickael era imprevisível, eu não sabia os passos, apenas os seguia e os colocava a meu molde, modelando nossa dança com olhares, quadril e silêncio, apenas o som da música, nenhuma palavra, parecia que o mundo tinha parado para nós, não tinha ninguém, apenas a dança, e eu e ele.

Até que um gemido de dor sai dos meus lábios. Minhas costas estão doendo, queimando. E em meu pescoço meu colar brilha queimando minha pele. Não posso suportar a dor que me atinge e corro do salão para a floresta. Ouço passo atrás de mim mas continuo correndo. Paro apenas quando estou bem no meio das árvores. Caio no chão me curvando com a dor.

-Elizabeth? -Ouço a voz de Mickael atrás de mim.

-Sai daqui- digo entre dentes. Tentando controlar a dor quase insuportável.

Ele me olha de canto, me analisando, talvez pensando se faria uma piada sobre isso ou não.

Solto outro gemido de dor quando sinto minha pele queimar de novo. Arder e rasgar.

-SAIA MICKAEL. AGORA. -Digo pela última vez, ele arregala os olhos.

-Não posso deixar você sozinha. -Ele me responde parecendo ofendido.

Com o pouco de energia que me resta me levanto, vou até ele e paro sem ar a sua frente.

-Você sabe o que acontece agora. Você.. se... você ficar, vai... vai ter que me matar... - Vejo que ele parece assustado, talvez até com medo. Então ele sai. Me deixando sozinha na escuridão.

Caio no chão sentindo a dor de novo. Já não posso controlar meus gritos, quando comecei a sentir a dor fiquei assustada, mas já sabia o que iria acontecer, qual seria meu destino, e a luta que teria de enfrentar. Sinto minha pele rasgar e dela sair minhas asas, minhas fadadas asas que sempre terei de carregar. Eu tive sonhos sobre isso mas nunca achei que fosse possível, sinto algumas transformações em meu corpo, parte de mim se escurecendo. E minhas asas negras se encaixando perfeitamente com meu corpo. Meus cabelos deixaram o ruivo para trás e ficaram tão negros quanto a noite, meus olhos não posso ver, mas pela queimação já sei que também escureceram.

Eu tinha de sair dali, qualquer lugar para me esconder. E rápido. Eu estava no lugar errado, uma escola de anjos não serve para mim.

Afinal, um demônio não pode estar com os anjos.

Corro o mais rápido que posso em direção a uma das linhas ney.