Capítulo 1

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  - Ana, levanta logo dessa cama ou você vai se atrasar. -minha mãe grita da cozinha.
  Já é a 3° vez nessa semana que eu tenho um sonho. E sempre é o mesmo garoto que está lá, com as bochechas vermelhas de calor, os olhos mais pretos que já vi, seu cabelo um tom mais escuro do que o meu. Ele sempre aparece com uma marca de nascença, a mesma que a minha, uma manchinha no pescoço que parece mais a marca de um dedo. Todos os sonhos com ele tem um final em comum, ele sempre morre.
  Eu acordo sem fome então apenas levanto da cama, me visto e já espero o ônibus chegar.
  - Mãe o ônibus já chegou, eu estou indo. Tchau, não esquece de trancar a porta. - eu falo e ela diz um tchau e olha pra mim e assente.
  Entro no ônibus e ocupo um lugar bem no fundo, onde eu e Simon costumamos sentar.
  Depois de passar por umas 2 quadras, Simon entra no ônibus.
  - Ei, posso sentar aqui? - ele diz.
  - Na verdade eu estou esperando um tal de Simon. - ele faz uma carinha triste e olha pra mim.
  - Então eu vou sentar aqui enquanto ele não chega - nós dois rimos e nos abraçamos.
  - Senti tanta saudade de você! - digo isso e aperto ele.
  Eu e Simon somos melhores amigos desde o fundamental, ele é praticamente a única pessoa que eu converso e ele foi passar 2 meses na Austrália, e nunca passei tanto tempo longe dele.
  - Olha o que eu trouxe pra gente. Pão com pasta de amendoim! - eu fico realmente feliz porque é meu lanche preferido e Simon sabe como me deixar feliz. 
  - Nossa você é um ótimo cozinheiro - eu digo depois de dar uma grande mordida.
  - Você tá um pouquinho suja aqui. - ele diz apontado o dedo para um dos cantos de minha boca.
  - Onde? Aqui? - eu digo já limpando sem nenhum resultado porque só espalhei mais.
  - Não, deixa eu te ajudar. - ele limpa o canto da minha boca com um guardanapo.
  No fim nós dois rimos e acabamos com todo o lanche preparado por Simon.
  - Já chegamos na escola - Simon diz pegando a mochila e me esperando sair primeiro.
  - Damas primeiro. - eu finjo ser uma princesa e faço uma pequena reverência com a saia.
  - Fico lisonjeada, mas você me acompanha? - ele pega meu braço e saímos andando rindo.
  Nós paramos para pegar os livros no armário e seguimos para nossas aulas. No intervalo não consigo achar Simon então eu acabo indo comer no banheiro, não tenho muitos amigos e todas as mesas estavam ocupadas. E eu não ia comer no chão então apenas fui para o banheiro.
  Simon sumiu, o que acho estranho, ele nunca faz isso. Depois da aula eu vou até a sua casa ver se ele saiu mais cedo, sua mãe diz que ele ainda não chegou e fica preocupada, eu digo que ele deve estar fazendo um trabalho pra compensar o que ele perdeu quando foi a Austrália.
  Decido procurar ele novamente na escola e finalmente encontro ele no banheiro, com a porta trancada pedindo ajuda.
  - Simon, é você aí? - eu pergunto já tentando usar um grampo igual nos filmes mas não dá certo.
  - Ana? Foram os idiotas do basquete e um cara esquisito que me colocaram aqui. - eu começo a ficar desesperada porque não consigo abrir a porta.
  - Simon, calma eu vou buscar ajuda. - eu saio correndo, falo com um inspetor que cuida das chaves e ele finalmente pega uma com um chaveiro da letrinha b de banheiro, eu pego e saio correndo.
  - Simon, voltei! - eu abro a porta e ele sai e eu abraço ele com toda a força do mundo.
  - Muito obrigado Ana, eu já disse que você é minha melhor amiga? - eu fico muito feliz quando ele diz isso e solto um sorrisinho.
  - Na verdade não - ele faz uma cara de surpresa.
  - Você é minha melhor amiga Ana Hertz.
  - Você é meu melhor amigo Simon Smith.
  Então eu finalmente reparo no rosto dele e vejo que Simon levou um soco.
  - Seu rosto, está sangrando. - já vou pegando um papel e molhando com água e passo no rosto dele.
  - Ei tá tudo bem. -ele diz colocando a mão em cima da minha e tirando a minha de seu rosto.
  - Vem pra minha casa, sua mãe vai te matar se ver isso. - percebo que ele não quer ir por causa da minha mãe então digo - Minha mãe não está em casa.
  - Não precisa.
  - Por favor, você tá muito machucado. - e percebo que ele está agindo estranho comigo.
  - Não, eu preciso ir pra minha casa. - ele diz e assim sai andando.
  No dia seguinte, eu tenho outro sonho com o menino desconhecido que pra mim já é quase familiar. Dessa vez ele está em um carro e começa a morrer por causa de engarrafamento, e todos a sua volta acontecem a mesma coisa, há fábricas e vários carros soltando fumaça no ar e poluindo o mundo.
  Eu entro no ônibus e percebo todos olhando pra mim, o que é estranho porque sempre fui invisível, mas vejo que não é para mim e sim para quem está atrás de mim. Sento lá no fundo e vejo o tal garoto que todos estão olhando. Ele parece ser um pouco mais velho do que nós, seu cabelo é preto e seus olhos tão escuros quanto o do desconhecido dos meus sonhos, ele está com jaqueta de couro preta e tem umas tatuagens em seu corpo. Mesmo parecendo um gótico ele é muito bonito.
  Ele simplesmente se senta do meu lado sem nem me perguntar se estava ocupado.
  - Precisamos conversar Ana.
  Como ele sabe meu nome? Cadê o Simon? Por que tá todo mundo olhando pra nós? Eu não quero falar com ele.

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