Cadmus O Jogo

Blue Cadmus III

     Lena estava em seu quarto, separando o que mandaria para o dia da troca. Dia da troca era um evento que ocorria todos os anos com o intuito de compartilhar os recursos existentes em Cadmus 6 com todos os seus moradores. Aquilo que fosse dos desejos dos moradores compartilharem seria levado ao centro comunitário de cada alojamento, onde seria vistoriado, catalogado e enviado ao alojamento oposto para ser adquirido por quem o quisesse.

  Lena gostava dessa tradição, era o momento em que ela podia dar o que tinha de melhor para outras pessoas. E por isso naquele ano decidiu que era momento de abrir mão de seus livros de infância.

  Quando a morena pegou seu primeiro volume de Harry Potter, teve uma grande surpresa, delicadamente planando em direção ao chão uma fotografia bem preservada de seu aniversário de doze anos ao seu lado estava Kara. A memória era fresca sobre o dia dessa foto.

~Flashback on~

   Era seu aniversário de doze anos, a Keiran adolescente estava feliz, havia ganhado de Kara uma relíquia, Harry Potter e a Pedra Filosofal. Dentro de Cadmus 6 só haviam quatro unidades sendo assim era muito disputada a sua aquisição. Desde os 8 anos, Lena acordava cedo e ia ao posto de troca torcendo para ser aquela a sua chance de conseguir o livro, porém nunca conseguiu acha-lo. E agora não somente o tinha em suas mãos mas o tinha graças a sua melhor amiga do mundo inteiro.

   Aquele definitivamente estava sendo seu melhor aniversário, ignorando as reclamações de Lilian, seu pai havia lhe feito a maior festa de todas, permitindo que ela convida-se todos os seus amigos da escola. Sendo filha de uma das líderes do bunker era compreensível que Lena fosse popular, apesar de grande parte das pessoas só estarem próxima a ela pela fama, a garota não se importava. Já havia se acostumado com este fato, o que lhe importava era que seus verdadeiros amigos estavam lá. Alex, Maggie e James eram amigos tão maravilhosos, ela não poderia pedir nada melhor do que isso, apesar de nunca pedir ela havia recebido e seu nome era Kara Danvers, a irmã um ano mais nova que Alex. Kara era a melhor amiga que ninguém poderia imaginar ter, as duas eram inseparáveis, a Kerian sabia que morreria se algo de ruim ocorresse com a loira.

   Eram seis da tarde quando a festa acabou e a Danvers mais nova ficaria naquela noite para dormir no alojamento dos Kerian. Kara e Lena estavam a andar de bicicleta por Blue Cadmus quando escutam um estranho barulho e foi o momento de tomada de decisões.

   _Kara, acho que devemos ir pra casa e reportar o mau funcionamento dos dutos de ar. Não devemos ser negligentes, vai que é o barulho de uma hélice e ela sei la, explode e cai em nossas cabeças?

  A loira riu, sua amiga era tão dramática, ela precisava viver um pouco mais. Pensando nisso Kara deu um sorriso e disse:

  _Qual é, Lee. Só se vive uma vez. Voltaremos pra casa, se você conseguir me pegar antes.

 Ao proferir essas palavras, Kara pedalou para longe da amiga em alta velocidade, na direção da qual vinha o som. Ela conhecia Lena, sabia que nunca seria deixada para trás e assim conseguiria sua tão sonhada aventura.

  Foram vinte minutos de pedalada até chegar nos limites de Blue Cadmus, um grande paredão de concreto com pena uma saída de ar onde a parede encontrava o chão. Onde terminou o alojamento também terminou o ruído. E isso trouxe um alívio para Lena.

  _Pronto, não tem nada. Que bela foi essa investigação, certo? Podemos ir pra casa agora? Por favor, Kara, meu irmão vai nos deixar ver algum filme pra maior de 14 aos se chegarmos a tempo para o jantar.

 _Calma, Lena. Ainda não terminamos, se Alex estivesse aqui ela iria me acompanhar. Você também vai me acompanhar, certo?

  Era impossível para Lena resistir aos olhinho brilhantes e fofo bico que a amiga fazia, por conta disso ela suspirou e desceu da bicicleta.

  As duas garotas caminharam até o duto de ar e quando estavam de frente as grades algo bateu dentro da tubulação. Kara sendo o espírito corajoso que era, puxou a tela da grade. E então as adolescentes tiveram uma bela e fofa surpresa. Um coelho, pequeno e fofo dentro do duto. A loira era pura alegria.

  _Um coelho, Lee. Parece ser um filhote perdido. E nós o encontramos, temos que ficar com ele, é o destino, vamos chamá-lo de Cometa.

  Lena estava relutante em ficar com o animal.

   _Kara, ele deve ter escapado do laboratório. A coisa certa a fazer é devolvermos ele, podemos entrar em problemas se o encontrarem conosco.

  Elas continuaram a ponderar até ver o animal se coçar. Aquilo não estava certo. Todos os animais de Cadmus eram completamente limpos e livres de pragas, não existia pulgas ali. Então a única opção seria ele ter vindo de onde ainda houvesse esses parasitas ou seja? A superfície.

   _Lena, temos que ficar com ele. Vai saber o que fariam com o pobre Cometa se o povo de Green Cadmus o pegassem? Iram dissecá-lo e nunca mais o veríamos.

  A morena sabia que Kara seria sua perdição, como recusar um pedido daqueles? Se alguém conseguisse demonstraria não ter coração e Lena tinha um, o maior de todos segundo a amiga. Kara com o coelho nos braços esperava a resposta de sua amiga

  _Tudo bem, vamos ficar com ele durante essa noite enquanto descobrirmos o que fazer com essa mocinha. E sim Kara, esse é um sinal para você parar de faltar as aulas de biologia. Meninos tem falo é essa bolinha de pelos em seus braços não tem. Cometa é uma garota, aparentemente tão forte quanto nós, por ter sobrevivido a o clima da superfície.

   As amigas riram e orquestraram um plano, naquela noite, Cometa ficaria na casa de Lena e depois passaria a morar com os Danvers, Kara confiava o suficiente na irmã para saber que Alex ajudaria a manter esse segredo.

  Infelizmente na manhã seguinte não encontraram a coelha em lugar algum. Com tudo o que se seguiu, o julgamento, a mudança de alojamento e postura de Kara, Lena passou a acreditar que a loira foi a responsável por delatar a Lilian e usar esse fato para ganhar a confiança da Luthor.

  Bem mais feliz seria essa história se as amigas naquela tarde tivesse percebido que não estavam sozinhas e que Winston não só as havia seguido como havia sido o responsável por revelar sobre a roedora para a mãe de Lena.

~Flashback off~

     Olhando para a foto e para o livro, o colocou na caixa de doações. Pois ela sabia que apesar de tudo, estava na hora de largar o passado e deixar que a fantástica história sobre um órfão que encontra em si e em seus amigos uma aliança poderosa, pudesse tocar outras vidas

   Quem pensava de forma semelhante do outro lado de Cadmus era Samantha, que estava abrindo mão daquilo que a deu força durante todos os anos, o colar de sua falecida mãe. Apesar de nunca a ter conhecido, Sam sentia a importância o peso que a mulher deveria ter significado. E assim como no passado, aquele brilhante cordão com uma grande jóia verde havia lhe mostrado a sua força e poder interior, estava na hora dele mostrar a outra pessoa que a força vem de si mesma.