Olhares

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Era incrível como eu poderia ver por várias vezes o sol se pondo e, por todas elas, a sensação de que é a coisa mais esplendorosa que já vira nunca se extinguia. Já viajei por vários países, em algumas dezenas de cidades, culturas e pessoas diferentes. Mas, o pôr do sol daqui é único. Como se o daqui fosse exclusivo. Como se essa ilha carregasse uma magia incomum, como se o tom de amarelo e laranja tivessem acabado de ser pintados em uma tela, por um artista local. Com toda sutileza que eles desenvolviam suas obras para os turistas que se arriscam por essas bandas. Santorini carrega uma magia desconhecida, um desconhecido que acolhe, que faz com que você queira escolher ali como casa. Se faz casa. A ilha é de um charme sem igual, com todas as suas residências pintadas de branco e algumas com cúpulas azuis no teto, com uma arquitetura comum para cidades da Grécia e como presente poder admirar o mar e junto dele o descansar do sol. É como estar naqueles panfletos ilustrativos que te enchem os olhos e te chamam por uma aventura.

Eu continuava no mesmo lugar a alguns consideráveis minutos, nunca cansaria de admirar aquela vista, aquela magia, aquela ilha. A ilha que se tornou casa, que nos tornou casa. Meu corpo estava encostado sobre uma mureta branca de pedras, o vento se chocava contra minha pele, meus cabelos negros o acompanhavam em uma dança que só eles sabiam o ritmo. Eles bailavam juntos, como se fossem parceiros de longa data. Estava com um vestido leve, branco e de alças finas. O vento entrecortava minha pele como quem avisa que estava desnuda demais para o início de noite. Mas, o olhando ali, com toda sua magnitude, o laranja fazendo reflexo no azul, nada poderia ser menos relevante.

Meu corpo estava ali, é verdade, mas minha mente voava. Voava para longe, para o antes. Me relembrando de tudo, como se estivesse assistindo a um filme. Um filme que eu sabia como começara e como terminaria. Eu estava longe, mas senti-lo junto a minha pele fora o bastante para que voltasse ao agora. A nós.

Seu abraço era tão reconfortante quanto olhar aquele mar. Seus braços transpassaram por mim, envolvendo minha cintura. Depositando seu queixo no vão do meu pescoço. Por alguns segundos só o que poderiam ser ouvidos eram nossas respirações e corações batendo em total descompasse, como se o mundo tivesse parado e só o nós existiria naquele momento. Como se até os barulhos naturais quisessem presenciar nosso amor em total silêncio. Como se ele fosse tão grandioso quanto o pôr do sol se fazia ali. O silêncio fora quebrado e sua voz se chocava contra ele.

- Você não cansa de olhá-lo, não é? – foi a pergunta dele, me arrisco a dizer que ele já saberia a resposta.

- Você sabe que não. – minha resposta saiu um pouco mais alto que um sussurro, que com toda a ausência de sons fora ouvido perfeitamente.

- É, eu sei. Você e essa paixão pelo pôr do sol de Oia, algum dia vou ficar com ciúmes, hm. – seus braços se fecharam um pouco mais ao meu redor, mesmo que não estivesse vendo seu rosto, apostaria que suas covinhas estavam dando o ar da graça.

- Você é um bobo. Eu sou apaixonada pelo pôr do sol daqui, você sabe. Mas, sou incontáveis vezes mais apaixonada por um certo loiro que deu pra ter ciúmes da natureza. – por mais que sentisse uma paz inexplicável com a visão que meus olhos alcançavam nada seria comparado a paz que seus olhos me traziam.

- Ah é? Esse loiro é bem sortudo então. Porque ganhar desse fim de tarde não é fácil. – agora estávamos de frente um para o outro, suas mãos ainda permaneciam em minha cintura, quando ele continuou a falar. – E eu sou completamente e exclusivamente bobo por uma certa admiradora de entardeceres. – suas palavras me faziam a pessoa mais feliz.

Era incrível que mesmo depois de alguns anos, ele sempre me fazia sentir como se fosse a nossa primeira vez juntos, nossos primeiros olhares, ali mesmo, há alguns anos, banhados pelo Mar Egeu, única testemunha.

A Love in SantoriniWhere stories live. Discover now