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É de conhecimento geral, que a aura de cada um possuí uma cor, podendo mudar acordo com sua personalidade, variando apenas os tons, dependendo do sentimento o qual a pessoa esteja carregando.

Aos que tivessem interesse, era um estudo longo e cansativo para que o dom de enxergar o verdadeiro de uma pessoa fosse revelado, muitas vezes, não mostrando resultados. Os livros — embora esse tipo de aula tivesse sido cancelado — ainda estavam disponíveis para o público, se encontrando em especial, no domínio da Fada Madrinha.

Porém, havia seres, cujo o poder nascia junto com eles. Os casos eram raros, sendo mais comuns entre crianças cujo sangue não carregasse apenas o mágico, mas o humano.

Quando Mal tinha um ano, seus olhos enxergavam um verde escuro, quase sucumbindo ao negro, vindo de sua mãe, a cercando como se fossem sombras a sua volta, e se tornava ainda macabro quando suas íris escuras eram desafiadas, tornando-os brilhantes. Todos tremiam com eles, mas aquela não era uma ação que a assustava, pois sua mãe era a criatura mais bela que ela havia visto, e nunca a machucaria.

Aos poucos, ela pode ver a cor castanho claro, vindo de uma senhora que encarava um espelho feito de prata, com a boca murmurando palavras inaudíveis, sempre tomando alguma bebida em uma taça simples, ignorando o choro vindo do berço ao seu lado. Assim como o vermelho vinho se desbotando do homem com sorriso forçado, e o cinza quase branco da mulher que tratava seu bebê como um filhote do que costumava chamar de 'Dálmata'. Mal via suas cores, e com o passar do tempo, pode ver as de seus filhos também.

Assim se passou, dourado, marrom, rubi, azul escuro.

Ela se lembrava do dia em que partiu o coração de Uma pela primeira vez, porque fazia sol e as crianças estavam felizes, com suas cores sendo mais claras que as de seus pais. Seus pequenos pés chutaram areia nos olhos da outra menina.

"Pode ficar com a caixinha. Nunca será nada mais que um camarão." Foi o que disse, sem hesitação ou gaguejar.

Mal viu o verde marinho e brilhante dela, que se tornava ainda mais bonito com seu sorriso, escurecer quase em câmera lenta, se misturando com suas lágrimas. Não se sentiu culpada, triste, ou nada, apenas mandou que a seguissem para outro local.

Não importava se Uma tivesse conseguido se erguer, montar aquilo que chamava de navio, e aquela tripulação encontrada em becos cheios de fome, ainda era uma ninguém sem a companhia de Mal. Ela sabia disso.

Não lembrava quando as gritarias se tornaram menores, e quando os flertes perigosos começaram. Talvez tivesse treze anos na época, era difícil de se saber, mas tinha certeza que foram os lábios de Uma os primeiros que teve a chance de tocar, experimentar.

Os sentimentos das fadas não são como os dos humanos, elas possuem tudo de uma forma tão arrebatadora, que se torna algo muito complicado não demonstra-los. Então, enquanto seus lábios estavam juntos aos de Uma, ela não podia evitar de sorrir em meio ao beijo, mover sua mão pelo rosto dela, sentindo seu gosto — era salgado, mas de um jeito bom. — não era algo carinhoso por completo, a bagunça era óbvia, e os dentes estavam envolvidos, podendo dizer ser como se pudessem descontar as frustrações dessa forma. Além de que brigar sem usar palavras parecia bem mais simples.

Ela se lembrava muito bem do ódio envolvido pelo ar quando estavam juntas em público, sobre as provocações, e principalmente as ameaças. Mas, acima de tudo, Mal se lembrava de como sentia falta de estar com Uma entre seus braços.

c o l o r s: mal&evieOnde histórias criam vida. Descubra agora