i'm surprised when you kiss me

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lee minho não gostava de acampamentos.

ainda assim, ali estava minho, metido em um moletom e um casaco que aumentava em três vezes seu tamanho, a pele levemente dourada coberta por um vermelho cintilante em toda a região das bochechas até a ponta do nariz.

na escola, costumavam deixa-lo em paz. mas era diferente naquele lugar. os professores gostavam de fingir que tinham algum controle, mas no ano passado uma garota tinha engravidado durante o acampamento de verão.

depois que lee se assumiu... tudo ficou em silêncio. ninguém falava com ele nos intervalos, mal respondiam quando tinham de fazer trabalhos juntos. era sinceramente uma merda, mas minho não se deixava abalar. afinal, era sua vida, era quem ele era, e odiava ainda mais ter que esconder tudo isso, ficar cercado de gente falsa, fingindo ter interesse na promiscuidade das garotas do terceiro ano, quando preferia ler yaois no manga rock.

porém, naquele dia em específico, estava sendo complicado manter-se impassível.

a galera do terceiro ano estava um porre, enchendo a cara perto das rochas da praia enquanto falavam sobre sexo. e falar sobre sexo geralmente envolvia comentar as aventuras que lee nunca teve, mas cujo recebia os créditos e que ele sempre fingia ignorar. estava sentado um pouco na frente deles, na região onde a areia estava seca, mas bem perto de onde começava a ficar úmida.

pensou em espairecer quando se sentou ali, mas agora só queria sumir de novo.

"ele deu um trato no felix. vocês não sabiam?" comentou sooah, visível e sonoramente bêbada ao pronunciar o nome do garoto erroneamente, morrendo de dar risada como se fosse algo tremendamente divertido. mas a única coisa engraçada ali era que não, nada daquilo tinha acontecido. absolutamente nada.

minho conheceu felix atrás das arquibancadas, enquanto comia seu lanche longe de todo mundo, e este fora o único que se prestou a de fato conversar um pouco com o garoto. não comentou nada sobre sua sexualidade. e a única coisa que fez foi dar risada, dizendo que eles não estavam em 1950, pra ter tanta gente de cabeça fechada no mundo.

ali, pensou que pudesse ter um amigo de novo. mas uma semana depois, felix voltou pra austrália. e ali estava minho de novo: sozinho. sem amigos. resumido à boatos.

suspirou, cerrando os punhos, ouvindo mais e mais comentários insolentes.

sabiam que ele estava ali, no entanto. todas as cinco pessoas da roda conheciam o seu rosto e sabiam que ele ouviria cada comentário ruim, cada faca jorrada pela boca. cada asneira. e faziam de propósito, já que ali minho não tinha nenhum responsável para lhe dirigir o mínimo de respeito que deveria ter como ser humano.

enquanto caminhava de volta pro chalé, tentando se distanciar dos murmúrios, recordou-se da única pessoa, além de felix, que não deixava sua existência ser um completo desperdício.

han jisung.

era lindo, como um boneco. sorria fácil, tinha uma risada constante e sonora.

ele e minho conversavam pelo kakaotalk, estendendo-se por madrugadas em conversas envolventes sobre qualquer porcaria com alienígenas que encontravam pela frente. mas bem... no colégio, não existia minho e jisung. não se falavam. lee olhava para han constantemente, mas nunca, nunquinha mesmo, vira os olhos comprimidos do outro virarem na sua direção.

e era compreensível que tivesse vergonha, que tivesse medo de ficar mal-falado.

qual é, lee minho é gay. gostava de homens e tinha deixado isso bem claro em uma das suas redes sociais há exatos cinco meses. também era esse o tempo em que havia, coincidentemente, começado a conversar com jisung. mas o fato era que minho é gay, e ser diferente é considerado nojento pelo resto da sociedade.

não o julgava, porque jisung sempre fazia o possível para diluir qualquer assunto entre os colegas que envolvesse a orientação sexual de minho. uma vez, durante uma aula de reprodução humana, um dos escravos de sooah ergueu a mão, perguntando em alto e bom som se "dois iguais reproduziam", enquanto encarava um cabisbaixo minho.

jisung deixou a risada escandalosa ecoar e perguntou: "porque, hyung? você quer tentar?" e o resto da sala passou a dar risada do garoto, esquecendo-se de lee completamente.

ele fazia coisas como essas sempre que podia, mas agora, enquanto o moreno pisoteava a areia da praia, pensando muito bem em se fundir com ela, ele pôde, pela primeira vez, ouvir irritação no tom de voz do garoto.

nem tinha percebido que jisung estava ali, mas sua voz... sua voz estava. e disse:

"eu não consigo entender porque vocês acham a vida do minho-ah tão interessante. qual o problema se ele prefere homens? é você que vai beijar um cara, namwon? não. então parem com isso, porra!"

silêncio.

as ondas do mar, fracas, sucintas, podiam ser ouvidas.

as respirações geladas, que provavelmente formavam nuvens diante do rosto de cada um ali.

e em seguida, os passos de jisung.

chamou seu nome uma, duas, três, quatro vezes. minho não parou. ficou com medo, medo de ver han passar pelo mesmo inferno que passava todos os dias, e simplesmente por dizer algo que ele mesmo não tinha coragem de falar.

"lee minho! tá frio pra caramba e se você não parar agora mesmo eu vou te abraçar" disse, finalmente alcançando o garoto e o puxando pelo braço. minho piscou algumas vezes, engolindo em seco.

todo mundo olhava pra eles. ninguém dizia nada; mas ele podia sentir o julgamento presente em cada olhar.

"eu menti. na verdade vou te abraçar de qualquer jeito." tombou a cabeça pro lado, enroscando as mãos por dentro do casaco grosso de minho, tomando sua cintura. "me desculpe pelo que vou fazer agora, hyung. mas eu sempre quis muito fazer isso e eu não aguento mais esses idiotas. a gente vai roubar um carro e fugir pra seoul, porque puta que pariu, eu vou matar todos eles."

minho continuava quietinho. atento. não sabia se fugia, se ainda dava tempo. porque seu coração parecia as ventoinhas de um computador, ou, sei lá, que ele tinha dois corações desesperados dentro dele.

o loiro aproximou o rosto, levantando uma das mãos pra tocar a face de lee.

"está frio. então eu vou... te esquentar." murmurou, tocando os lábios de minho com os próprios.

o moreno sentiu o toque gelado dos lábios do mais novo. e sentiu também cada peça dentro dele encaixar, como se fizesse todo o sentido do mundo beijar aquele garoto.

"jisung..." suspirou, quando soltaram os lábios, mantendo a pouquíssima distância entre os corpos.

"não, fica quietinho. eu vou esperar! vou esperar você se apaixonar por mim. daí depois disso a gente rouba o carro."

minho deu risada, mirando, quase que sem medo, as expressões embasbacadas dos outros colegas. e envolveu jisung com os braços também, escondendo o rosto no ombro dele e fechando os olhos.

a corrente gelada do vento continuava cortando; han sorriu suavemente, deixando um beijinho no pescoço de minho quando se encaixou no outro também. "você não me escapa mais, hyung."

e lee minho não pôde refutá-lo.

~

hey! espero que tenham gostado dessa pequetucha.

era pra ser uma drabble................. mas eu não consigo me controlar D:

veio de um desafio que a @swagay me propôs. se alguém ler isso e achar interessante, façam! é basicamente pegar uma playlist aleatória, colocar no aleatório e a primeira música que sair, é a sua base pra drabble. ou one shot, se vocês forem como eu não conseguirem parar nas primeiras 100 linhas.

bem, essa oneshotzinha bem boba e soft vai pra @namjope!

obrigada neném, e me desculpa se não ficou muito bom. lob yu.

1950, minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora