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- ouçam a música enquanto leem -

O mundo de Rosie caíra a seus pés quando atentara a sua mãe sair num estado lastimável da consulta que já havia marcado há algum tempo. A mulher que tanto se fazia de forte desta vez não se conseguira aguentar em frente à filha. Rosie levantou-se, de forma desajeitada, e correu de braços abertos para a senhora que se encontrava paralisada em frente à porta branca daquele desgostoso espaço. As lágrimas quentes de sua mãe iam molhando a camisola da mais nova que, devido a isso, já se começava a colar ao seu corpo.

Rosie acabara por chorar também, ainda que não soubesse o porquê de a mãe o fazer. No entanto, esta sábia rapariga já se estava a preparar para o pior. Mentalizava-se com todas as opções tenebrosas que lhe ocorriam no momento para que a queda não fosse tão grande. Ela tinha consciência que para a sua mãe estar naquele estado só podia ser algo mau.

A progenitora explicara-lhe, então, que lhe havia sido diagnosticado cancro. Dissera-lhe ainda que estava tudo bem pois, hoje em dia, estava tudo muito mais evoluído. Ainda que Rosie tenha recorrido a um pequeno sorriso e a um assentimento com a cabeça, interiormente, negara-se acreditar nas suas palavras. Não revelara à mãe a falta de segurança que, a partir daquele momento, havia depositado no futuro pois não a queria desiludir. A rapariga dos caracóis queria dar-lhe a máxima força que conseguisse e o máximo apoio possível para que a senhora percebesse que não estava sozinha nesta batalha. Contudo, depois de tudo o que já vira, Rosie tinha medo de ficar sozinha no mundo. Dezassete anos é uma idade muito jovem para perder uma mãe. Uma mãe é um grande apoio, uma mãe é tudo na vida.

Rosia ainda se recorda bem da avó sem cabelo e imaginar agora a mãe é uma morte. Infelizmente, não há nada a fazer nem há forma de deter definitivamente esta doença que tantas pessoas inocentes mata. A mãe iria ter de fazer uma quimioterapia em breve para matar as células malignas. Rosie questionava-se se doía. Se doía fazer os tratamentos. Se sentia alguma dor vinda do nada. Decerto que o pior da doença era ver as pessoas ao seu redor sofrer, pelo menos essa era a opinião que Rosie guardava.

Ela recorda-se de um dia ter desejado morrer ela ao invés da avó e por várias vezes dissera isso mesmo à senhora de uma certa idade. Argumentava sempre, após esta afirmação, que a senhora era demasiado boa pessoa e humilde para morrer.

No entanto, houve uma vez que a avó lhe proferiu o seguinte:

- As boas pessoas vão primeiro, meu amor. As más pessoas ficam na terra a sofrer por todos os pecados que cometeram.

Rosie sempre ouvira com atenção todos os conselhos das pessoas. Achava que, com isso, iria conseguir ir longe no seu caminho pela vida.

Um desejo de admirar proveniente desta inocente rapariga, agora já muito mais matura do que era na altura, é que desde sempre pedira uma morte sem dor. Ainda que não o saiba, ela é corajosa em certo ponto. Rosie não tem medo da morte mas sim forma como irá morrer.

O caminho até casa ainda era longo visto que a consulta fora realizada numa cidade vizinha. O silêncio acompanhara-as até ao destino. Rosie evitava, a todo o custo, chorar pois não queria que a mãe ficasse triste com esta sua vontade. Em tempos de guerra todo o otimismo é bem-vindo. Ela sabia que a mãe era uma lutadora e que não a iria deixar.

Fora um momento de lágrimas quando o seu pai chegara a casa do trabalho. Rosie escutava, do cimo das escadas, a conversa turbulenta que os dois adultos tinham um para com o outro. Não se atrevera a descer pois achava que eles tinham direita a alguma privacidade posto este assunto delicado.

O seu coração estremecera quando ouvia o seu pai chorar. Ele aparentava estar de rastos com toda esta situação ocorrente e, através das sombras que a menina de caracóis conseguia observar, reparava que os dois amantes se encontravam abraçados. Isto, aos seus olhos cor de mel, era amor. Se o seu pai fosse como tantos homens, estaria neste preciso momento a abandonar a mulher cancerosa e a encontrar a felicidade com uma outra pessoa. Mas para aquele homem, a sua felicidade estava ligada à da mulher e à da filha. Para ele, elas eram as suas prioridades.

Enquanto Rosie escolhia e guardava na mala aquilo que desejava levar consigo para o hospital, a menina chorosa pedia para que tudo voltasse ao normal. O pai não podia sacrificar o seu trabalho, pois todo o dinheiro nesta altura de tratamentos era valioso, então coube a Rosie a árdua tarefa de apoiar a mãe. Como consequência disso, a jovem rapariga terá de faltar às aulas.

Rosie prometera a seu pai que ficaria no hospital o dia todo. Prometeu a sua mãe nunca a deixar e fez-lhe juras de amor. Amor esse verdadeiro e que apenas sai em momentos especiais entre pais e filhos.

O hospital era um sítio que Rosie sempre evitou ir. Felizmente sempre tivera boa saúde, conseguindo por isso evitar esse espaço tão nostálgico e pesado. Apenas lá ia em casos urgentes, como quando teve uma indigestão aos doze. Era impensável para Rosie ter uma profissão de futuro como a de médico devido a tudo o que já passara em vida. Enquanto, que para estes trabalhadores, o importante era salvar vidas e ver os sorrisos nos rostos das pessoas salvas, Rosie não conseguia ver desta maneira a profissão. Para Rosie, exercer a profissão de médico, é dar más notícias a familiares e ver as pessoas a morrer sem uma solução.

Uma atenciosa enfermeira encaminhou a mãe para uma sala com um enorme sorriso, enquanto o olhar de Rosie parava em todos os pormenores da entrada daquela instituição privada. Tudo lhe parecia tão triste, ainda que todos à sua volta se esforçassem por sorrir. Muitas memórias lhe vinham à mente naquele momento e tudo o que ela apenas desejava fazer era chorar ou então acordar do pesadelo que estava a viver no momento.

A mão de seu pai pousa-se no ombro e esta olha-o com o seu olhar esbugalhado, quando como se tivesse ficado amedrontada com o seu ato. O hospital onde ela se encontrava era especializado a doenças cancerosas e a instituição era toda ela constituída por profissionais dedicados à doença.

- Vamos, querida. A mamã precisa de nós.

O futuro não aparentava ser bom de aqui em diante.

{ Apenas dizendo que a minha mãe não tem cancro por tanto não se preocupem quando disse que ia ser baseado no meu passado. Apenas vou tirar memorias da minha infância para construir uma história mais realista. }

Cancer 》 stylesOnde histórias criam vida. Descubra agora