Era uma padaria de esquina, daquelas que acordam antes do Sol aparecer no céu. Vários trabalhadores passavam de manhã. Muitos pediam tradicionalmente um copo de café e pão na chapa. Além deles, também apareciam transeuntes aleatórios, jovens que viraram a noite em alguma balada e o mesmo velho aposentado com problemas de insônia. Quando a noite chegava, esta mesma padaria se mantinha aberta até as dez horas da noite. Após isso, fechava-se até o início a da manhã.
Já estava tarde naquele dia, o Sol brilhava forte na cidade. Aos poucos descia, enfraquecendo a força de seus raios. Jorge estava sentado em uma das mesas no fundo da padaria. Junto dele, um outro homem o acompanhava. Tinha uma estatura mediana e cicatriz na bochecha, seu nome era Caio. Ambos conversavam, os dois cafés coados de tamanho médio esfriavam.
- Jorge, estou te falando, é uma oportunidade de ouro. Imagina quantas pessoas não pedem por uma chance dessas?
- Pessoas perigosas né Caio? Eu não faço mais essas coisas.
- Qual é? Você seria o pior de todos eles se aceitasse, hahaha! Além do mais, eu soube que você tá precisando muito de grana neste momento, isso resolve todos os seus problemas porra.
Jorge permanece em silêncio. Caio suspira, continua:
- Relaxa, não é como no passado. O trabalho é tranquilo, e os músicos são pessoas ponta-firme. Além do mais, quem diria que eu veria alguém como você falando sobre isso de perigo.
Um homem senta perto da mesa de ambos, eles param de conversar por um momento, Jorge toma parte de seu café. Caio diz:
- Olha Jorge... To ficando cansado de insistir. Bora? Sim ou não?
- Não to certo em aceitar essa proposta.
- Você recusa?
- Não é isso. Eu acho que preciso de um tempo para pensar.
- Jorge, você tem de me dizer agora porra! Aceita ou não?
- Não sei.
- Então não. – Disse Caio enquanto levantava da cadeira.
- Espera! É certeza que é um negócio tranquilo?
- Mais do que eu já expliquei Jorge? Caralho, confia em mim, é garantido.
- Olha onde você tá me metendo Caio.
- Bora cara, não vai se arrepender.
Jorge vira o rosto para o lado enquanto coça o couro do cabelo. Na rua do lado de fora, pessoas andando apressadas para seus trabalhos, com roupas amarrotadas, muitos com um olhar vazio. Os carros parados, esperavam que a rua diminuísse o fluxo para cruzar em outra rua. Uma nuvem branca detém os raios de Sol.
- Ok... eu aceito sua proposta. Vamos fazer isso. – Diz Jorge.
- Ótimo, então temos um combinado. Amanhã eu te busco na sua casa as 7 da manhã e, ponto.
Ele oferece sua mão e ambos se cumprimentam. Jorge diz:
- Estarei esperando em frente ao prédio.
- Toma aqui meu dinheiro da conta, tenho um compromisso agora. Até mais ver. – Diz Caio enquanto coloca o dinheiro na mesa e se despede do colega.
- Tudo bem... até mais.
Caio sai da padaria. Jorge continua.
Sentado em uma cadeira de madeira com os braços encostados na mesa. Havia em sua xicara o resto de café. Estava levemente quente, ele enrolava para tomar, queria aproveitar o gosto forte e amargo na boca por mais tempo. Gostava de pensar que o gosto do café o ajudava a refletir. Ficou por um tempo em meditação, até que saiu da lanchonete de esquina. Pegou seu carro no estacionamento e voltou dirigindo seu velho carro, no para-brisa traseiro, havia em tinta branca escrito "Vendo" e o número do celular.
Entra na garagem de um prédio antigo no centro da cidade, estacionando lá seu carro. Sobe as escadas e abre a porta do apartamento com as chaves que retirou do bolso.
- Oi... - Era Mariana, estava sentada na poltrona da sala enquanto a TV estava ligada, mas seus olhos encararam Jorge. Ele olha para ela, uma preocupação detinha seu olhar.
- Oi. Tudo bem?
- Tudo sim...
Um silêncio constrangido permanece na sala por alguns segundos.
- Hm... Você quer me dizer alguma coisa? – Diz Jorge.
- Quero sim... como foi a reunião?
- Ah. Eu aceitei.
- E agora?
- Não sei. O Caio disse que vem me buscar amanhã as 7 horas.
- Jorge... to preocupada contigo, fazia anos que você não falava com o Caio e mesmo naquela época ele não era confiável.
- Mas que opção temos Mariana? Daqui a 3 dias nosso aluguel atrasa de novo, não temos banco ou alguém para recorrer.
- Temos o meu tio, eu te disse que ele...
- Mas já falamos sobre isso, o crápula do seu tio não é uma opção Mariana!
Um silêncio toma conta da sala.
- Desculpa.
Mariana desvia o olhar e parte em direção ao quarto.
Silêncio.
Jorge senta no sofá, suspira enquanto passa a mão em sua cabeça baixa. Diz:
- Droga.
Juntando forças, ele se levanta. Passa pelo corredor do apartamento e entra no único quarto. Mariana estava sentada no canto da cama, de cabeça baixa, pernas encolhidas e os braços pressionando o travesseiro contra o rosto do outro lado, ouvia seu choro abafado. As lágrimas se misturavam nos panos do travesseiro, Jorge se aproxima lentamente, senta ao lado dela, sem falar nada, retira lentamente o travesseiro de suas mãos, ela não resiste. Ambos se olham, Mariana segura seu choro.
- Deita aqui... – Diz Jorge guiando a mão de Mariana para o meio da cama.
Se abraçam, ela, pressionada ao tronco de Jorge volta a chorar.
- Desculpa, é que achei que nunca mais íamos precisar passar por isso. – Diz Mariana em soluços.
- É... também pensei que não.
Depois de um tempo, e no passar das nuvens e luminosidade do quarto, ambos permanecem deitados na cama, e então, dormem.

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Conto de Julho: Decisão.
ContoJorge é um jovem que vive no centro de uma grande cidade com sua namorada. Devido a crise financeira e a problemas pessoais, Jorge é obrigado a voltar a fazer algo que não quer.