Hey, people. Trago esse conto fofinho. Sem mortes, sem tragédias. Apenas um conto de amor entre dois amigos. Foi um presente que um amigo me pediu para presentear outro amigo. Então estava guardado há muito tempo.
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>> Antony <<
― Eu não posso ― ela tem a postura de uma menina birrenta, mas mesmo assim posso sentir sua dor. Minha empatia com Lis é algo inquestionável. Somos amigos há tanto tempo que não me lembro de não tê-la em minha vida.
Respiro fundo e tomo um gole do meu café extra forte. Ela me acordou às 5 da manhã de um domingo para me contar que as 4 da manhã foi deixada por seu namorado.
― Beba um pouco de café ― empurro a caneca em sua direção e ela pega levando a boca e dando um longo gole. ― Me diga o que você não pode.
Falo com paciência. Nesses momentos manter a calma é ideal. Espero ela ficar mais tranquila. Quando ia voltar ao questionamento, ela me interrompe e vai logo falando.
― Na verdade, ― ela gesticula com as mãos e quero saber onde ela arranjou energia antes do sol sair ― eu não vou mais sair com esses babacas. Chega! Sério. Como posso sair com eles quando me usam como troféu?
Tenho que rir.
― Você é meu melhor amigo ― ela aponta com um tom acusador ― deveria me defender. Não me deixar sair com esses cabeças de vento que encontro nos bares da vida.
A culpa é minha. Lis sempre arranja um jeito de culpar o mundo por suas desventuras amorosas. Eu decido não discutir, não vale à pena. Seus olhos estão vermelhos, e ela parece bastante cansada.
― Por que você não deita em minha cama ― digo, mas ela parece não estar nem ouvindo ― Lis? ― seus olhos não saem da caneca ― Vá deitar em minha cama e eu deito no sofá.
Ela joga o cabelo para trás e sorri sem graça.
― Acho melhor ir para casa ― diz depois de um longo suspiro que parece tortura ― Talvez a Julia não goste de eu ficar aqui. Não quero atrapalhar.
Fico em pé acompanhando o movimento dela e a puxo para meus braços. Julia não é a fã número um da nossa amizade, talvez seja por todas as vezes que larguei tudo e fui ao resgate de Lis, mas é mais forte do que eu. Jamais iria
conseguir dormir se não soubesse do paradeiro dela. Inalo o cheiro de seus cabelos e ela me abraça mais forte.
― Eu não deveria ter vindo, Antony ― ela diz arrependida ― Mas às vezes sinto tanta falta de você que dói.
Afasto-a para encarar seus olhos, mas ela se recusa a me olhar.
― De onde saiu isso, Lis? ― pergunto elevando seu rosto com o indicador ― Eu estou sempre aqui. Não precisa sentir falta de mim.
― Eu não posso ― ela volta a dizer ― Nos vemos mais tarde na casa da Nina.
Seguro sua mão mais forte do que pretendi. Ela precisa me explicar. Ou a Nina. Ela vai entregar o jogo a Nina e eu vou saber de tudo.
― Tem certeza que não quer conversar sobre isso? ― insisto.
― Tenho ― ela afirma com mais convicção ― É melhor que eu converse com quem pode me entender. Conversa de garota.
A abraço outra vez. Não por ela. Por mim.
― Cuidado ― digo e a acompanhando até a porta ― Pegue o elevador com cuidado.
Ela sorri largo e parece melhor.
― Pisarei três vezes antes de tirar os sapatos para você saber que estou viva ― é um hábito estranho, mas é bom saber que ela está bem. Ela sai caminhando e para na frente da porta de ferro ― Antony? ― sua atenção está em mim e eu apenas assinto deixando-a saber, que estou ouvindo ― Você lembra que já nos beijamos?
Fico parado sem saber ao certo o que eu deveria responder. Foi uma vez, há uns dois atrás, quando eu me vi desenvolvendo sentimentos por minha amiga. Mas logo descartamos qualquer hipótese de ir mais a frente. Porém é algo que eu lembro toda vez que deito na cama.
― Isso já aconteceu? ― finjo dúvida e ela sorri sem dizer mais nada.
As portas se abrem e ela some dentro da caixa de ferro que a levará até o andar de cima. Lis fez isso de propósito. Ela quer me fazer lembrar-se daquele dia, não sei o motivo, mas eu não gosto disso.
Ouço os três toques seguidos e isso me faz rir. Eu deito outra vez, mas sei que será impossível dormir. Aquela pergunta me tirou todo o sono, e no fundo, não sei se me importo.
>> Lis <<
Vou contar tudo a Nina. Está transbordando. Eu não consigo mais lidar com isso. Com essa ideia, os últimos dois anos tem sido tortura. A Julia tem todo direito de me odiar, e eu não me importo. Lógico que o Antony nunca me prometeu nada. Mas ele nunca teve um relacionamento, e agora me vejo escolhendo formas de torturar sua nova namorada.
Nina vem em minha direção com um copo de vodca misturada com um refrigerante de limão. Bebo para testar o sabor do álcool. Estou me perdendo um pouco em minha mente, mas Nina vai me apoiar. Eu acho. Na verdade, eu espero.
― Nina? ― digo enquanto ela está parada na frente de um aparelho de som. ― Preciso confessar. ― viro o copo todo e uma onda quente passeia por minhas veias. Ela balbucia um "hum" e eu viro outra dose. ― Eu acho que gosto do Antony ― bebo outra dose ― Nina, eu não consigo parar de pensar nele. Nina! ― grito. Ela está parada me olhando ― Porra, Nina! Eu amo a porra do Antony! ― ela continua com a boca aberta ― E eu não posso dizer isso a ele. Isso o destruiria. Ele gosta daquela Julia.
― Lis ― Nina fala baixinho ― Depois falamos sobre isso.
― Eu quero conversar agora ― digo jogando os braços no ar.
Ela dá três passos largos e segura me braço.
― Julia ouviu ― uma onda de desgosto anda em passos lentos dentro de mim e eu não posso sair daqui ― Não sei se ela entendeu, mas ela ouviu você falar. Eles acabaram de chegar, então engula tudo isso― ela pega o copo e vai em direção a Julia ― Oi, Julia! ― sua voz tentar soar sincera, meu medo está palpável. Não quero me virar e ter certeza que ela ouviu. ― Cadê Antony?
― Está estacionando ― sua voz fina me faz revirar os olhos ― Oi, Lis.
Levanto os lábios em um sorriso e aceno.
― Cadê o Adam? ― demoro alguns segundos para lembrar que não tenho mais namorado. E garanto Julia, você não quer saber o motivo de Adam não estar aqui.
― Nós terminamos ― faço cara de triste e ela se aproxima me abraçando.
Não mesmo. Me afasto e avisto Antony entrando com mais amigos. Hoje essa reunião de amigos vai ser longa.
Evito ao máximo o tumulto e continuo bebendo. Eu estou perdida em mim. Minha mente está em um sentimento estranho. Eu não posso contar a única pessoa no mundo que sabe cada passo que eu dou. Não posso contar que eu o quero.
Quando eu disse a Antony que a culpa é dele, eu falei sério. Cada cara que eu fico e me relaciono sempre termina porque eles não são Antony. E eu quero que um deles seja tão bom quanto ele.
Eu não quero arriscar nossa amizade. Desde o beijo foi isso que combinamos. Se não der certo, nós iríamos perder muito. Mas eu não consigo fazer o meu coração parar de bater forte por ele. Não aguento mais o fato de esconder da única pessoa que quero contar isso.
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APEGO
Short StoryUm sentimento. Dois corações e apenas a vontade de viver o amor. Conto baseado em música do mesmo nome por: Leniker Souza.