O mundo perdido

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Largo o celular na cama, toco meu rosto e sinto duas lágrimas rolarem pelas minhas bochechas, não conseguia chorar a muitos anos, mas ela conseguiu fazer com que eu chorasse novamente, só que não é de felicidade como eu esperava que fosse.

Saio apressado de casa ignorando meu pai que me chama da cozinha, subo as escadas rápido e atravesso o portão de ferro, paro ao lado da árvore que tem ao lado da minha casa e olho o céu, as nuvens que antes quase não existiam agora tomam tudo, a rua está levemente escura, mas não ligo e começo a andar.

Passo por algumas ruas ouvindo música no fone de ouvido, gotas de chuva caem sobre mim, mas não paro de caminhar. Depois de um tempo estou descendo uma rua, esta rua dá em uma pequena praça que não está tão diferente de como me lembrava dela, sento -me em dos bancos molhados e observo o céu.

- Gabriel? Tua namorada tá na porta. - meu pai fala.

- Brenda? - mas eu falei com ela a uns cinco minutos... Levanto e vou para a porta.

Ela está descabelada e com uma expressão preocupada no rosto, quando abro a porta ela enlaça meu pescoço e me abraça apertado como se eu fosse uma bóia, abraço de volta, estava querendo esse abraço.

-O que está fazendo aqui...?

- Você estava tão mal que eu precisava vir te ver, então fingi que adiantaram a reunião da igreja e saí que nem doída correndo, não aguentei muito, mas no meio do caminho peguei um ônibus e subi bem rápido pra cá. - a voz dela falha um pouco e percebo que está bem cansada.

- Hoje é domingo, não posso comprar nada e ainda tenho que ir a uma reunião na igreja obrigatoriamente - falo meio como uma desculpa.

- Sei disso... Mas me acompanharia em uma caminhada? Seria mais que o suficiente pra mim.

Desço e pergunto aos meus pais, depois de uma mini discussão eles deixam e eu saio com Brenda, estamos andando aleatoriamente, passamos pelo colégio João da Mata e continuamos reto, de repente ela vira e começa a descer uma enorme rua, está um pouco silencioso entre nós, só é  quebrado quando ela tenta em vão fazer que um assunto dure.

Ela pula em poças no chão e eu lembro porque esse lugar é tão familiar pra mim, se eu contar a ela tenho certeza que ficará mal, mas eu prometi que não mentiria mais para ela.

- Eu já vim aqui antes... - olho para baixo enquanto continuo a caminhada.

- Sério? Quando? Com quem? - ela pergunta curiosa.

- Quando eu era pequeno estava caminhando a noite com Sther e acabamos parando aqui.

- Ah, Sther... Entendi, então, o que houve?

- Eu preferia não dizer...

- Mentir e Omitir - ela fala nossa promessa me lembrando.

- Nesse dia eu disse que não ficaria com ela por que eu não sirvo para isso, e também nesse dia ela chorou, eu chorei, choramos juntos.

- Você chorou...? - ela tá com os olhos marejados.

- Sim, eu era criança.

Sabia que iria bugar com essa informação, eu não choro a muitos anos e ela sabe, já passamos muitos momentos, mas nenhum fez com que lágrimas caíssem dos meus olhos. Passaram alguns minutos até ela levantar a voz novamente e me olhar.

- Tudo bem, decidi, vou te fazer chorar, quando a gente casar você vai chorar de alegria! Te prometo isso!

Outra promessa quebrada Brenda...

Levanto e volto a andar por aí, estou passando perto de um beco quando escuto um "droga" muito familiar vindo dele, me viro e me deparo com uma garota de cabelos lisos acocorada no chão do beco, ela está coçando o nariz freneticamente.

- Laila? - ela me lança um olhar mordaz, mas suaviza ao me identificar.

- Sobrinho - ela sorri e me chama com a mão - Bem vindo, sente-se.

- Não vou sentar no chão sujo, Laila. - tensiono a testa.

- Entendo - ela fica de pé e vem até mim - O que faz por aqui, sobrinho?

- Eu que te pergunto, o que está fazendo aqui nesse beco imundo enquanto chove?

- Eu não previa a chuva, mas eu precisava estar no beco, não poderia fazer ao ar livre - fala pegando um cigarro e colocando na boca.

- Está fumando agora? - observo ela - por que?

Ela apenas da de ombros e traga mais uma vez - é bem relaxante para falar a verdade, deveria tentar mesmo.

- Não... - prefiro não usar isso, gruda na roupa e minha mãe vai sentir o cheiro - Onde está Felipe?

Seu rosto que antes parecia anestesiado pela cigarro que fumava, agora se encontra completamente tenso e com uma expressão de desagrado.

- Terminaram? - pergunto para ver se ela fala algo.

- Quem derá - ela mal fala e se vira para sair pelo outro lado do beco.

- Não entendendo nada.

O silêncio reina, só escuto as gotas de chuva caindo, ela está parada no final do beco e parece trocar o peso de uma perna para a outra, toco meu alargador com o dedo e espero ela falar algo, sem se virar ela se pronuncia.

- Ele está morto - volta a andar sem se virar.

O que diabos está acontecendo com o meu mundo?

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⏰ Última atualização: Sep 08, 2018 ⏰

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