O café da Sra. Meerci

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Sou acordada por várias batidas na minha porta. Minha diretora somente grita que é para eu me arrumar e que ela estaria me esperando em 15 minutos.

Eu, literalmente, pulo da cama. É hoje que eu vou para o Beco Diagonal, comprar os meus materiais, finalmente!

Dessa vez, eu decido usar algo diferente. Coloco uma calça jeans preta e uma blusa mais solta branca; como está bem frio lá fora, opto por colocar um blazer vermelho. Depois de eu amarrar o cabelo, desço as escadas velhas escadas de madeira que se eu passar dedo, certamente ele vai ficar preto. Chego à sala, meus olhos se voltam aos dois sofás que têm estampas de flores azuis, o que sempre me causaram náuseas, fala sério, quem em sã consciência põem dois sofás com flores azuis? Se a minha diretora reformasse eles... certamente seria outra história.

A verdade é que os dois sofás estão caindo os pedaços, o tecido deles já está totalmente solto, o que resulta em vários brinquedos dentro dos sofás. O tapete da sala é igualmente azul, mas dessa vez eu diria que é um azul marinho, se é que essa cor existe. As janelas, que são no total duas, tem grossas cortinas, igualmente azul marinho, elas são tão grossas que nem precisa de um forro para não deixar a claridade adentrar o local.

O Rack que deveria ter uma televisão é feito de madeira de carvalho, o que faz ter um ar mais rústico. Nas laterais tem dois grandes vasos, com lindas rosas brancas - as minhas preferidas.

Minha diretora já estava em frente à porta, certamente me esperando. Como descrever ela? Bem... ela é alta, loira - mas sempre deixa o cabelo preso -, tem olhos castanhos e ela é bem... cheia, se é que você entende. Seu rosto sempre me deu medo, pelo fato de parecer que ela sempre está com raiva.

Enquanto eu descrevia a aparência dela para você, caro leitor, eu já entrei no humilde carro que ela tem posse. O carro é igualmente azul, e tem quatro lugares, mas atrás é muito apertado para sentar. Seus bancos são de couro branco, a cor é igual ao volante. Se eu não me engano, o nome do carro é Fusca, ou algo do tipo.

Me perdoe por ser péssima em gravar nomes. Futuramente, você vai perceber isso.

No caminho todo - que não é nem um pouco curto - eu fiquei vendo os pingos de chuva escorrendo na janela do carro. Sempre fui louca por chuva, todos falam que o dia bonito é um dia com sol e céu azul, mas para mim é extremamente ao contrário, um dia bonito para mim é aquele que tem chuva. Muita, muita chuva. Eu sempre pensei que a chuva é algo que limpa e purifica a Terra, afinal, não é a chuva que salva as plantas que estão secas?

Quando o carro para - que por sinal eu não estava preparada - eu bati a minha cabeça na janela do carro, fazendo com que os meus olhos se encham de água, mas claro que eu não iria chorar, não agora.

Desci do carro ainda massageando o local que eu tinha machucado, mas parei de andar assim que eu vi onde nós tínhamos parado. O café da senhora Meerci. De todos os lugares deste planeta, esse é o meu preferido. Mas claro que tinha que ter uma razão para a qual paramos aqui, mas essa mesma razão eu desconheço.

ㅡ O que estamos fazendo aqui? ㅡ quando dei por mim, eu já tinha perguntado. A minha diretora - que eu sei que nunca citei o nome dela - me olhou com aquela cara de reprovação, fazendo com que eu fique quieta.

Subimos a pequena escada de tijolos, e logo o interior do café estava na minha visão. Não falei um pio, somente segui a Sra. Hull, também conhecida com a minha diretora.

O cheiro do café invadiu as minhas narinas, fazendo com que eu solte um pequeno sorriso em lembrar que eu sempre fugia das aulas para vir a esse café. Acompanhei a Sra. Hull até o balcão, onde tinha três cadeiras giratórias, aquelas próprias para um bar. Rapidamente me sentei em uma, enquanto esperava a minha diretora falar com a Sra. Meerci.

Aproveitei para dar uma olhada ao redor, tudo estava exatamente igual: seis mesas com três cadeiras cada, acompanhadas com toalhinhas de rendas, e claro que não podia faltar um pequeno vaso de tulipas rosas. As cortinas rosas ainda permaneciam lá, como sempre. A prateleira com os deliciosos bolos também estava ali, e de longe eu podia ver o bolo de brigadeiro com morango. O meu preferido.

Eu estava encarando o bolo, enquanto pensava o quão bom seria se ele estivesse na minha boca, quando algum ser entrou no meu campo de visão, fazendo com que tape a minha visão com o bolo.

ㅡ Hey. ㅡ Claro que tinha que ser ele. Christian Ward, alto, 15 anos, loiro, olhos verdes, perfeito. Ele sempre foi meu amigo, nós conversávamos muito quando eu ia até o café.

ㅡ Oi! Ainda trabalha aqui? ㅡ Sim, ele trabalhava aqui. Para você, que está se perguntando se ele é muito novo, eu venho lhe responder que sim, ele é novo para trabalhar.

ㅡ Sim, adoro esse lugar. ㅡ Essa é a mais pura verdade, como que eu também amo esse lugar. ㅡ Por que sumiu, Marina? ㅡ Ele não sabe que eu sou uma bruxa, então é meio difícil sempre arranjar uma desculpa diferente. Infelizmente ele é um trouxa que não teve a felicidade de ganhar a carta de Hogwarts.

ㅡ Eu...

ㅡ Não adianta mais vir com desculpas, Marina. ㅡ Como isso corta o meu coração, eu realmente queria contar sobre a minha vida para ele, afinal, somos amigos desde que eu me lembro.

ㅡ Chris, eu realmente queria contar para você, mas você sabe que eu não posso...

ㅡ Ah claro, até porque é algo extremamente sigiloso e se você contar certamente vai morrer... ㅡ Eu já tinha falado isso para ele, quando eu era pequena, e na época isso era o que eu pensava. Christian na época ficou tão preocupado que ligou para a polícia e me obrigou a contar à eles, mas eu não contei nada aos policiais, apenas falei que o Chris tinha ficado louco, foi um ótimo motivo para uma briga nossa de 1 dia.

ㅡ Chris... por favor... ㅡ Fiz o meu famoso biquinho, do qual ele sempre me perdoava quando eu fazia essa cara.

ㅡ Marina, eu realmente queria te desculpar, mas você não confia em mim nem ao ponto de falar o porquê que você ficou fora durante 3 meses! ㅡ Oh sim, ele está certo. ㅡ Eu... vou embora de Londres...

Por um momento eu achei que ele estava zoando com a minha cara, mas aí eu olhei para os olhos dele e percebi que era verdade.

Foi aí que o meu mundo parou completamente.










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