Deveria ser por volta de três da manhã quando Fafnir suspirou e desligou o computador e foi se banhar. Havia virado a noite novamente jogando, como ele fazia desde que fora morar com o humano de nome Takiya Makoto, o ser que lhe apresentou os jogos do mundo humano de estilo RPG medieval. Ele, no começo, não havia gostado muito do jogo que jogou quando estava na casa da humana Kobayashi, mas sentiu falta do game quando voltou para seu mundo e por tal razão voltou ao mundo humano. Depois de conversar com Tohru, eles tentaram arranjar um lar para si, e no fim foi morar com Takiya, revelando que sua vontade de morar entre humanos era única e exclusivamente por causa de seus jogos.
E Fafnir não tinha nada do que reclamar em relação á Takiya, já que o mesmo o deixava jogar em seu computador a vontade, sabia exatamente o tipo de comida que ele gostava, ambos costumavam jogar juntos, ele lhe comprava condicionador e como passava a maior parte do dia no trabalho, o dragão negro ficava em casa jogando até altas horas da madrugada, exatas 21 horas seguidas, e saíam de casa em poucas ocasiões, como os eventos de anime que participavam ou quando saíam com as mulheres e os humanos que elas conviviam juntas. Não era uma vida ruim no final das contas, e ele não sentia mais tanta falta de ficar enfurnado em sua caverna cuidando de seus tesouros.
Entretanto, fazia alguns dias que ele se sentia de forma diferente quando pensava no humano da qual morava junto. Takiya fazia tanto por si e nunca reclamou de nada nesses meses que moravam juntos. Makoto cozinhava para si, pagava as contas do apartamento, o levava ás convenções, dentre outras coisas, e Fafnir acredita que ele nunca lhe disse um "não". Ele então passou a pensar enquanto se banhava na banheira o quão bom era conviver com aquele humano otaku. Antigamente, ele nunca ficaria contente em ter de passar mais de cinco minutos com um humano, mas era diferente com Takiya. Ele não dizia que gostava dele, mas nunca diria que não gostava dele; Fafnir não desgostava de Takiya...Era um sentimento engraçado e confuso que ele sentia por seu colega de apartamento.
" Ele é estranho. Porque ele gosta tanto assim de mim? " Essas perguntas ficavam martelando a mente do dragão negro. Takiya fazia tanto por si e sempre lhe sorria feliz, sem nenhum motivo aparente e sempre tentava lhe animar, assim como durante a convenção que eles foram e na qual Fafnir não vendeu nenhum exemplar de seus livros de maldições no dia, mas o humano pediu um exemplar. Ele não sabia o porquê dele ter feito isso, poderia ter sido por pena ou porque realmente queira ler sua obra. Independente da resposta, ele ainda era estranho e não precisava tentar fazer da sua vida as mil maravilhas, lhe dando o que queria e nunca reclamando das horas em que passava na frente do computador jogando.
Naquele momento, uma singela palavra lhe surgiu na mente e Fafnir se assustou com seus próprios pensamentos. "Obrigado" era a palavra em questão. Mas ele iria agradecer exatamente pelo o que? Por tudo, é claro. Existiam muitos motivos e razões para que o dragão agradecesse á Takiya, mesmo que não estivesse em um momento em específico de fazê-lo, mas agora, mais do que nunca, ele iria ditar aquela palavra para o humano. Seria provavelmente a primeira e única vez que diria isso para o moreno. Parando para pensar, Fafnir já havia dito obrigado á algum humano antes? Ele não se recordava, odiava aquela espécie no geral também, então talvez Makoto fosse ser o primeiro humano á ouvir os agradecimentos daquele dragão em toda sua longa história de vida.
Fafnir passou mais um longo tempo dentro daquela banheira, como se estivesse dormindo, mas estava mais para "descansando os olhos e a mente", já que o mesmo havia perdido tal sensibilidade ao sono desde que ele fora saqueado em tal momento de descanso. Ele então se levantou e enxugou o corpo por completo e esvaziou a banheira, se arrumando em seguida com suas escamas e saindo do banheiro, vendo o vapor quente que escapava por ele e sumia em pleno ar. Takiya iria acordar em poucos minutos, então ele se sentou no sofá e ficava ajeitando o monóculo em seu rosto, pensando em como faria aquilo. Talvez pudesse fazer igual á Tohru ou Kanna, que abraçavam e beijavam sua humana Kobayashi no rosto...Não, aquilo não era do seu tipo, nunca gostou de contato físico. Poderia ser como Lucoa talvez? Nem pensar, ela era meio...bem, ela. Elma? Não, muito atrapalhada para seu gosto. Porém ele sentia que deveria agradecer de forma humana do jeito mais comum e que pudesse tocar o espírito do homem. Certo, ele havia decidido, faria aquilo dar certo. Seria rápido, prático e "fofo"; ugh, como odiava aquela palavra, mas Takiya usava ela muitas vezes então aprendeu á não odiar ela, principalmente quando ele falava a respeito de seu jeito de mordomo.
Ele se levantou no exato momento em que seu humano acordou e entrou no quarto enquanto o mesmo colocava seus óculos e se levantava da cama ainda meio sonolento. Chegou perto de Takiya e o abraçou casualmente, sem muita força para não o machucar. Sentia suas bochechas ficarem quente. Droga, ele realmente havia corado? Ele, o dragão Fafnir? Enfim, aquilo não importava agora.
- Thank you, human. – Disse em tom ameno e sincero, calmo e suave, transmitindo toda sua...hm...felicidade e agradecimento para com o rapaz que abraçava.
Como Takiya havia acabado de acordar, passou alguns segundos sem entender direito o que estava se passando, mas sentia um calor subir por sua face e tingir suas bochechas de carmesim ao notar que o dragão negro o estava abraçando e que havia dito tais palavras para si. Mas antes que pudesse se mexer para retribuir o afeto, Fafnir se afastou e se virou, andando para fora dos aposentos do humano.
- O que você vai querer para comer? – Disse em seu casual modo, mas Makoto jurava que havia visto um quase imperceptível sorriso em seus lábios. Sendo assim, ele sorriu e foi para o banheiro enquanto respondia de forma contente.
- Pode ser o que você quiser Faf-kun, eu não me importo. – Apenas ouviu um murmúrio do dragão e se olhou no espelho por alguns segundos, com um dos mais belos sorrisos qua já havia visto em si mesmo.
" Não precisa me agradecer por nada Fafnir, eu que tenho de agradecer por ter entrado em minha vida ". Poderia ser pensamentos meio bregas e clichês, mas era exatamente como se sentia.
No final das contas, os dois amigos estavam felizes por terem um ao outro como companhia. Isso bastava por enquanto, iriam apenas deixar a vida levar eles para onde quer que fosse. O futuro ficaria em segundo plano, eles iriam apenas aproveitar o presente. Um obrigado nunca havia feito Fafnir tão contente de si mesmo quanto agora.
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Thank You, Human
FanficJá faziam quantos séculos que Fafnir não se sentia feliz daquele jeito? Bem, feliz não seria talvez a melhor palavra para lhe descrever, mas ele sentia que algo bom enchia seu peito desde que foi morar com o humano Takiya Makoto, colega de trabalho...