Stephen Crow
Tiro o celular do bolso, teclando na discagem rápida o número de Tess. As constantes chamadas sem nenhuma resposta me deixam impaciente. Já estava desligando quando finalmente cai na caixa postal. Desligo, sem deixar qualquer recado. Deixei vários, pedindo que me ligasse assim que possível, perguntando se ela está bem, mesmo sabendo que na realidade ela não está.
A última vez em que nos falamos ela estava desesperada, agindo de um jeito que me assustou. Se eu não tivesse uma reunião marcada naquela hora, não teria desligado daquela maneira. Nunca estive tão perto de contar a ela tudo que sei. Me sinto um canalha por tortura-la desse jeito. Mas o que eu poderia fazer? Não sinto em Tess a confiança necessária para dizer a ela tudo que venho descobrindo. Ela me acharia um maluco, como fez na primeira vez em que contei sobre Lino. Correria de volta ao Gregory, pedindo-lhe explicações. Dando ao canalha a chance de se explicar e quem sabe receber o seu perdão.
Sei que posso estar a subestimando. Tess já me provou inúmeras vezes ser mais forte do que aparenta, mesmo assim, me sinto incapaz de revelar a farsa em que ela vive embaixo do seu próprio teto. O receio ridículo que adquiri em ser para ela mais um motivo de mágoa. O que só aumenta a sensação de covardia a me atingir sempre que me vejo entre essa cruz e espada.
O Bentley faz a curva à direita, na esquina da Avenida Lexington com a 45th, encontrando mais uma massa de carros engarrafados. No banco do motorista, Terence suspira impaciente. Me lançando um olhar contrariado pelo retrovisor, ele aperta com força o volante. Um dia duro para quem precisa enfrentar o horário de pico em plena Nova York movimentada.
"Dia estressante, Terence?" Questiono, em um tom afetuoso. O rosto sério e experiente se contorce, ao prender o riso.
"Um pouco, Stephen." Pondera envergonhado, me fazendo rir.
Seu jeito reservado e sua prudência em nunca mostrar que está incomodado com algo, são uma das coisas que admiro nele. Terence é gentil. E acredite ou não, gentileza é uma qualidade que tem ficado cada vez mais em falta.
"Não há como não se estressar com um trânsito tão parado quanto este. Nova York parece estar ainda mais caótica do que de costume. É preciso ter muita paciência."
"Nem me fale. Ficar preso em um engarrafamento não é agradável. Vou chegar atrasado outra vez, e ainda preciso me encontrar com a Riley antes de voltar à empresa."
Essa é outra mulher que tem despertado meus instintos protetores. Riley tem mantendo-se isolada, desde nossa última conversa. A viagem à Miami pareceu ser um divisor de águas nas nossas vidas. Minha fiel, astuta e observadora parceira, decidiu pôr um fim em nossa amizade com benefícios. Creio que Theo, o irmão galante de Tess, tenha sido responsável por isso.
Eu deveria estar satisfeito por Riley finalmente ter encontrado alguém que a mereça. Sei que, sendo filho e irmão de quem é, Theodore Eisen jamais brincaria com os sentimentos da minha amiga. A última coisa que Riley precisa, é de mais alguém para lhe causar mais mágoas do que ela já tem. Sei que no último mês ela retornou à Miami sozinha, e tenho total certeza que esse retorno sem mim, significou muito para o crescimento dos sentimentos que ela passou a nutrir pelo irmão mais velho de Tess.
Sendo que, por mais que intimamente esteja feliz por Riley está novamente amando, meu instinto protetor me diz que ela não está totalmente à vontade com esse sentimento. Conheço muito bem a mulher cheia de medos que há por trás da fachada de mulher insensível. Minhas impressões ganham forças, quando levo em consideração o comportamento de Riley nos últimos dias. Ela, propositalmente, tem me mantido a distância.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Força e Razão - Degustação ( Retirado dia 17 de Janeiro de 2019)
ChickLitForça e Razão é o segundo livro de Orgulho e Ambição ________________________________________ A prepotência da Ambição versus a sagacidade do Orgulho, continuam cobrando preços cada vez mais altos. O que parecia real, passou a ser questionado. O qu...