PRÓLOGO: Frio como o amor.

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"Aborda-se o amor, como sendo uma emoção calorosa, uma chama que enriquece os corações daqueles que o sentem, e que o exagero pode arder a alma, contudo, o gelo também queima."

A álgida corrente de ar açoitava fortemente a janela, a cada estrondo, estremecia os delicados sentidos da pequena garotinha que jazia encolhida em sua cama. Tentava dormir, mas o barulho não a deixava pregar seus olhinhos puxados. Decidiu então levantar-se, talvez alguns minutos envolta da lareira pudesse adormece-la. Saiu pela rústica porta de madeira e andejou pelo corredor, observara atentamente os diversos quadros que o enfeitavam, cada qual com sua exclusividade. Levou seu pé ao primeiro degrau da espalhafatosa escadaria de madeira que levava à sala de estar, não pôde deixar de encarar a estatua que decorava o centro no topo da escada central. O dragão adormecido.

- Deveria descansar pequena, amanhã será seu primeiro dia na escola. – Pronunciou-se o homem, sentado em sua poltrona, de costas para a escada.

A garota prontamente olhou em sua direção, avistou apenas seu braço, com o cotovelo escorado, erguendo entre dedos uma taça com vinho.

- O vento está forte essa noite, não consegui dormir por causa da janela batendo. – Aproximou-se vagarosamente.

- Então privilegie-me com sua companhia, venha, não há nada mais reconfortante do que o dançar das labaredas ao som do estalar das brasas. O sono virá em um instante. – Bebericou o vinho, enquanto virou a página do livro estendido em seu colo.

A menina sentou-se na poltrona ao lado esquerdo do homem. Permaneceu imóvel por alguns instantes, queria perguntar algo, mas não queria interrompe-lo.

Ao notar a inquietude da curiosa garotinha, o homem tomou a iniciativa – Eu sei que você quer me perguntar algo. –

- Er... Eu li uma palavra no dicionário, na verdade, já a vi em diversos lugares. Mas não entendi muito bem... –

- E qual seria? –

- Eu entendi que é um sentimento, mas, não como os outros, e cada lugar que encontro, diz algo diferente sobre, como se cada pessoa tivesse uma forma diferente de senti-lo. –

- Acho que sei do qual se refere. –

- Amor. Dizem que sentimos por nossos país, mas você sabe... – Disse cabisbaixa.

- Sim, eu sei. - Molhou a garganta com um gole de vinho. – Irei lhe contar uma história que esclarecerá suas dúvidas. –

- Sobre o que? –

- A história fala sobre um homem... melhor, um garoto, e sua culpa. –

- Mas o que culpa tem a ver com amor? –

- Muitos creem que o amor é o objetivo, mas na verdade, é apenas uma transição para outras emoções, a culpa é uma delas. –

- Pelo que ele é culpado? –

- Sua penitência é por ser a dor da pessoa que ele mais amou. –

- Então, amor é algo que sentimos por outras pessoas? –

- Também podemos sentir por nós mesmos. Você entendera com o desfecho da trama. –

- Então me conte, onde a história começa, como era o garoto? – A história nem havia começado, mas a garota já esbanjava empolgação.

- O jovem era bastante egocêntrico, e desbocado, podia-se dizer que a cada dez palavras que saíam de sua boca, seis eram de baixo calão. Mas tão grande quanto seus defeitos, eram suas qualidades, podia-se dizer que o rapaz era um gênio, tinha facilidade para exercer com excelência praticamente qualquer coisa que tentasse. Porém, havia um defeito que nenhuma qualidade podia esconder. –

- E qual era? – Indagou a garota.

- Ele era frio como o amor.-    

Ordem das Sombras: O Dragão AdormecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora