Era criança ainda quando fui posta ao serviço de enfrentar os Vikings que aterrorizavam a minha terra, minha já que meu pai era um dos grandes senhores ingleses de Wessex. Era pequena, magra, ruiva e além de tudo, era mulher. Minha mãe teve a mais miserável sorte de todas, fracassou em ter um digno filho homem, teve três filhas, sendo eu a caçula.
Sempre tive um senso de pena ao olhar para minha mãe, ela era uma nobre dinamarquesa que para sobreviver, acabou se casando com meu pai. Foi tudo arranjado, Birgit era infeliz, odiava viver entre os ingleses e desde meu nascimento adoeceu. Sentia o ódio dela ao me ver, graças a mim, meu pai começou a ignorar a existência dela, furnicava às escondidas com escravas ou outras mulheres que apareciam.
Não só isso, tambem sofria nas mãos de minhas irmãs, Margarete Danneberg, era a mais velha e a que menos gostava de mim e Ingrid Danneberg, era a que tentava me proteger dos meus pais, porém não ousava enfrentar a mais velha.Costumávamos as tardes irmos a igreja e ouvir as ladainhas e histórias de Santos, depois um dos padres ensinavam a gente a escrever e ler o latim. Para minha felicidade de hoje em dia, sempre fui muito dedicada a esses estudos, graças a isso no decorrer da história, não me meti em armadilhas pelos inimigos. Muito curiosa, pedia para a minha mãe, ensinar sua língua também, mas ela não dava a mínima para mim, me jogava algumas histórias de seus vários deuses que muitas das vezes me deixavam super confusa.
Quando completei meus 10 anos foi muito difícil. Meu pai Caspar Danneberg, exigiu que um dos seus guerreiros me ensinasse a segurar um escudo e um machado. Lógico ,para que ele não sofresse repressão da igreja, foi mandado que eu cortasse meu cabelo e que todas as minhas vestimentas fossem trocadas por roupas masculinas. Chorei por 1 semana a perda do meu cabelo,a cor avermelhada dele apesar de muitos acharem horrível, eu o amava.
-Eduard, você agora é guerreiro e sucessor das minhas terras! - seu olhar era de desespero - Espero que se torne um bom lutador...
Aquilo era uma mentira, Caspar estava desesperado por achar um sucessor e se não fizesse de mim a própria, com certeza ele séria morto por seus irmãos e estaríamos perdidos. Nossas terras poderiam até irem para a minha mãe, mas quem iria defende-la? Era dinamarquesa no meio de ingleses, ainda mais naquela época em que espalhavam boatos sobre as frotas Vikings, o ódio que minha família sofria aumentava a cada dia. Provável que minha mãe também morresse.
Mas eu não imaginava o que iria acontecer...Estávamos no começo do outono, me encontrava no salão de entrada. O castelo era pequeno, tínhamos esse salão para a visita de outros nobres e negociações do meu pai. Todos nós permaneciamos reunidos para vermos quem estavam chegando no recinto. Caspar permanecia em pé, eu e minhas irmãs estávamos no canto da sala sentadas e olhando assustadas para os homens que chegavam, já minha mãe, estava em seu quarto adoecendo cada vez mais. O meu tutor Ivan, que me ensinava a lutar estava junto com seus homens preparados para qualquer confronto.
Eram 5 homens, altos e grandes, passavam em fileira e aparentemente sem armas visíveis. Lógico, não deixariam homens armados entrando no castelo de seu senhor, fora mandado que entregassem todas as armas, porém de descuido ou não, não ouve verificação a mais do que depuseram na confiança dos inimigos.
- São os Danneberg? - cuspia o menor deles, parecia estar com muita raiva de estar ali - Quero que diga "Olá" para Ida do outro lado.
Foi assim que Caspar morreu, com uma lança sendo retirada de trás do manto e enfiada em sua garganta, ele tentou grunhir algumas palavras enquanto perdia seus sentidos e sua alma saia de seu corpo devagar. Para dar um basta, o homem que depois conheci se chamava Ravn, colocou seu pé no cabo grosso da arma, quebrando o pescoço de meu pai. Minhas irmãs gritaram e os nossos homens estavam batalhando, na verdade tentando. Estava assustada demais, quando vi que um dos grandalhões vinham pra cima de mim, não pensei duas vezes e fui pela janela para escalar até o térreo
Nossa torre tinha três andares, era feito de pedras mal encaixadas umas nas outras e sempre desde pequena gostava de ficar pendurada naquilo. Sempre fui críticada por fazer algo tão perigoso, mas não adiantava dizer para mim o que era certo ou errado.
Tremia, estava nervosa e com a cabeça em outro lugar do mundo. Minha coordenação motora não funcionava e quando fui tentar descer, o homem feroz apareceu na janela tentando me pegar, dava para ouvir os gritos de agonia de todos do recinto. Foram tocados os sinos e o reino ficou em alerta, muitos homens vinham em direção do castelo. Tentei descer o mais rápido possível, mas era inútil, e por alguns segundos achei que iria morrer já que eu acabei escorregando e caindo para baixo.
Era o pôr do sol, essas terras ficavam em uma colina perto do mar. A visão sempre fora de tirar o fôlego e eu nunca cansei de ver os pássaros aparecendo e desaparecendo no horizonte, Wessex tinha uma terra boa. Isso se você soubesse cuidar dela, foi o que Ivan me disse em uma das suas aulas, me ensinou nesse dia a como caçar na mata para sobreviver. No começo, arrogante, achei que aquilo seria inútil já que sempre tive escravos trabalhando na cozinha. Talvez se ele não tivesse me ensinado a cuidar de mim mesma, não estaria viva ainda.
Ivan não gostava e nem desgostava de mim, me ensinava mais pela recompensa do que a boa vontade. Mas seu serviço era bem feito, brigava comigo e me colocava várias vezes atrás das rédeas, foi o melhor professor que tivera. Lembro quando me ensinou a caçar lebres com arco e flechas.- Sempre treine com o Arco, ele pode ser letal quando está em boas mãos- apontava para a mata - Não tenha dó de animais, se fosse eles no seu lugar não parariam por sentir culpa em suas patas sujas.
Se eu não me engano, foi com esse pensamento que matei meu primeiro coelho. Primeiro de vários e vários...
Caí na carroça cheia de feno, foi como sentir eu renascer. Meus músculos estavam duros e a falta de ar me deixava de pensar em algo lógico, me levantei com muita pressa e fui em direção a saída. Enquanto tentava passar pelo vários homens que corriam contra a minha direção, fui puxada para trás pelo padre que me ensinava a escrever, se chamava Edgar e era o único padre em que eu conseguia ouvir suas histórias sem perceber seu fanatismo, contava tudo com louvor.
-Eduard? - Estava aterrorizado - O que aconteceu?
Foi reflexo, empurrei o mensageiro com todos as minhas forças, não sei até hoje o motivo de ter corrido para a mata, no momento, aquilo iria me salvar dos grandes homens que mataram meu pai. Continuei correndo e vi um pouco ao longe um grupo de pessoas com escudos vindo a nossa direção, olhei perplexa para a pequena quantidade de pessoas, mas que mesmo assim faziam até o meu ultimo fio de cabelo estremecer. Quando eles urraram minhas pernas voltaram a funcionar e eu adentrei a mata sem pensar duas vezes.
Abandonei minha família em questão de segundos, não tive coragem de lutar, não acreditavam que aquilo estava acontecendo, era uma mentira, uma mentira que estava me forçando a acreditar que era real. Estava sem fôlego e exausta, não sabia quem eram aqueles homens e muito menos quem era Ida, o que iria acontecer com minha mãe e minhas irmãs. Mas ao sentir a tranquilidade da floresta senti o vento falando comigo, me dizendo que eu não sou Eduard, não sou um garoto e sim, sou uma guerreira. Meu nome não importava, mas Ida iria me mostrar o caminho.
Tinha certeza de uma coisa, não voltaria para casa, mesmo que eu quisesse, do que adiantaria voltar? Ver pessoas mortas, ver os olhares de reprovação de minhas irmãs por não ter lutado por elas, imagina de minha mãe. Sinto como se ela tivesse morrido junto ao meu pai, estava tão fraca que parecia que se ela espirrasse poderia provocar sua morte ou ver a visão de meu pai morto.Poderia ter sido batizada como Edward, porém quem decide o nosso nome e quem somos é o nosso destino e aqueles que batalham ao nosso lado.
"Sou Eduard, uma nobre inglesa das terras de Wessex. E no outono de 849 d.C. , decidi que iria atrás de Ida, a mulher que foi o estopim para a morte do meu pai."
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A Besta Vermelha
Ficción histórica"Sou Eduard, uma nobre inglesa das terras de Wessex. Matadora de Vikings e de Ingleses que ousam me enfrentar" No outono com a morte de meu pai e a expulsão da minha família nas nossas terras, acabei fugindo deste lugar que tantos amam, em busca de...