Sereno

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Eu tinha certeza que odiava meu quarto na nova casa graças a árvore grande e quase sem folhas que ficava logo ao lado da única grande janela do cômodo e mesmo com a luz do sol, já fazia sombras estranhas e assustadoras nas cortinas brancas. O lugar cheirava ao aroma artificial de flores das montanhas e lustra móveis, não muito diferente da casa de Seokjin, porém aqui parecia mais intenso, talvez por ter ficado fechada por muito tempo. Jimin iria continuar como meu colega de quarto, na cama ao lado. O banheiro naquele cômodo era menor do que na casa de Seokjin, mas estava de bom tamanho para nós dois e o quarto era tão grande quanto o anterior.

Hansung estava agarrado a minha perna esquerda, enquanto eu arrastava-o pelo cômodo, fazendo-o rir alto. Ele, ao contrário de mim, estava feliz de estar perto das montanhas e com a floresta tão perto, finalmente teria outros filhotes para brincar, mas eu tinha receio somente em imaginar ele afastado de nós. Já não conhecia as pessoas de Daegu muito bem, agora na vila meu medo ficava ainda pior.

— Sabe aqueles filmes da casa isolada, no meio da floresta, aí começa a chover do nada e tem um maníaco que surge de lugar nenhum e resolveu matar pessoas porque sim? — Jimin entrou no quarto, largando-se na cama depois de colocar sua mala no chão e o trabuco encostado na porta — É aqui que gravam esses filmes.

— Homem vai matar hyungs? — Hansung perguntou, assustado. Peguei a almofada na minha cama e acertei na cara do Jimin.

— Não assusta a criança — me abaixei, colocando Hansung sentado na cama, me ajoelhei ao seu lado — Não tem nenhum homem malvado. Jimin-hyung que é um idiota!

— Oh! Mais respeito — Jimin resmungou, Hansung assentiu uma porção de vezes. Jihyo entrou no quarto, com Jinki-hyung logo atrás dela, ele olhou para os lados no corredor antes de fechar a porta.

— Esse lugar parece mais esquisito que a outra casa. — Jinki-hyung disse — É maior, mas parece pequena, sei lá. — Hansung pulou da cama, correndo para os braços dele.

Eu tinha reparado que desde que nossos pais deixaram Daegu, Hansung queria ser carregado quase o tempo todo, ele não costumava ser assim em Seul, adorava correr pelos corredores do palácio e usar as tintas do vovô para pintar as paredes - dando um trabalho enorme pra equipe de limpeza por ter que retocar a tinta das paredes com mais frequência do que gostariam - mas desde que passamos a viver ali, e mesmo que parecesse animado com quase tudo, ele estava mais carente de atenção.

Jihyo puxou a almofada da cama de Jimin e sentou ao meu lado, abraçando-a com força. Parecia nervosa.

— Vocês viram aquele cara? — ela perguntou em voz baixa, e nos inclinamos todos em sua direção para escutá-la melhor — O loiro estranho, que estava com os irmãos do Taehyung e o irmão do Hoseok.

— Que rapaz loiro? — Jimin perguntou e eu não podia dizer estar surpreso por ele não saber. Parecia que tudo que víamos era exclusividade nosso, como um delírio coletivo, mas só entre eu e meus irmãos. O maior problema, no entanto, é que eu reconheci aquele rosto, mas não conseguia dizer de onde. Era como uma lembrança infantil, a muito esquecida, e agora voltava, não muito clara. Na verdade, parecia que tudo em minha mente era uma lembrança vaga.

— Você realmente não o viu? — Jinki-hyung perguntou, colocando Hansung no chão e sentou-se ao seu lado. Jimin negou.

— Hansung viu! — o filhote disse, tentando fazer parte da conversa. Ri baixo, passando as mãos por seus cabelos.

— Por que vocês ficam vendo essas coisas que ninguém mais vê? Isso tá começando a me assustar. — Jimin falou, mas não é como se estivessemos menos assustados. Na verdade, o fato de só nós vermos algo que aparentemente ninguém mais pode, não era exatamente uma experiência agradável.

Red WolfOnde histórias criam vida. Descubra agora