Dia 2 - Tatuagem (parte 1)

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Notas da autora:
Oii gente!! Tive que dividir esse capítulo/dia em duas partes para não ficar tão grande. Espero que gostem!! 💗💗
Boa leitura!
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- Dean, eu não vou fazer uma tatuagem.
Dean e Cas tomavam café da manhã mais cedo que o usual naquele dia. Dessa vez, Cas acordara antes de Dean e resolvera preparar uma salada de frutas para os dois. Com muito mel, é claro. Dean nunca entendeu ao certo toda a obsessão que Cas tinha por abelhas e coisas relacionadas, mas achava particularmente muito fofo.
- Ah, qual é, Cas. - provocou o loiro - Posso te garantir que existem coisas que doem bem mais do que a droga de um desenho na sua pele.
- Bem, na pele da minha casca, tecnicamente.
- De qualquer forma, Cas, não acredito que um cara que já foi até mesmo possuído pelo Lucifer tem medo de uma simples tatuagem.
Dean havia tido essa ideia enquanto pensava em Cas, ontem à noite. Eles estavam se divertindo tanto juntos, e ele só queria eternizar aquilo. Então pensou, por que não? O Winchester já tinha sua tatuagem anti-possessão, mas ele realmente achava que seria legal se ele e Cas tatuassem algo juntos, ele só ainda não sabia ao certo o quê.
- Eu só não consigo pensar em nada que eu goste tanto a ponto de ter isso marcado em mim.
- Bem, eu sim. - respondeu o loiro.
- Você já tem algo em mente, Dean?
- Na verdade, estava pensando em alguma coisa que fosse especial... para nós dois.
E foi nesse momento que Dean teve uma brilhante ideia. Não tão brilhante assim, de fato. Era algo simples e nem tanto criativo, porém, significativo.
- O que você acha de tatuarmos a data em que nos conhecemos?
Dean sentiu-se corar ao dizer isso. Em voz alta aquilo soava bem mais sentimental do que deveria.
- A data em que eu te agarrei firme e te tirei da perdição? - indagou Cas, inclinando levemente a cabeça e encarando Dean com seus olhos azuis brilhantes.
- Bem, tecnicamente foi nesse dia que você me conheceu, certo? Embora eu não tenha nenhuma recordação disso. Então o que acha de você tatuar essa data, e eu o dia em que você apareceu pra mim e o Bobby?
- Com certeza foi um dos dias mais importantes da minha vida. Mas, Dean, tem certeza que quer tatuar isso? Quero dizer, você com certeza tem dias bem mais importantes em sua existência. Que tal o dia em que você evitou o apocalipse, ou o dia em que o Sam nasceu? Ou você poderia tatuar uma torta, acho que é mais importante do que o dia em que você conheceu um anjo qualquer como eu.
- Você não é um anjo qualquer, Cas, você é meu anjo. - Dean só percebeu o quão errado aquilo soará quando as palavras saíram de sua boca, se arrependendo imediatamente - Quis dizer, você é meu amigo anjo.
- De qualquer forma, como você ainda lembra-se do dia exato?
- Eu costumo anotar datas importantes pra mim no diário do meu pai, e achei que seria importante lembrar do dia em que eu conheci meu melhor amigo.
Cas o respondeu com um sorriso sincero. Não era sempre que o anjo sorria, na verdade, era algo bem raro que só acontecia quando ele realmente tinha motivos sensatos para isso, e Dean não sabia ao certo porque, mas sentia uma estranha urgência de dar a ele motivos para sorrir todos os dias, até o final de sua existência.
- Sabe de uma coisa, Dean, acho que você acabou de me convencer.
- É sério, Cas?
Dean estava incrédulo. O caçador realmente esperava que Cas fosse negar até o fim, então vê-lo aceitando sua ousada proposta foi algo surpreendente. Tratou de terminar seu café da manhã logo, antes que o anjo por acaso mudasse de ideia.
- Nesse caso, conheço um amigo que pode nos ajudar com isso.

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Um pouco depois do almoço, Dean dirigia com o Impala em direção a um estúdio de tatuagens e piercings que ficava a alguns quilômetros do bunker. Cas se encontrava sentado no banco da frente, ao seu lado. O anjo vestia um de seus novos modelitos que havia comprado com Dean no dia anterior: uma camiseta bordô com uma calça escura. Era estranho ver Cas saindo sem seu sobretudo marrom, como de costume, mas Dean tinha que confessar que aquele novo look com certeza lhe conferia um ar bem descontraído e agrádavel.
- Dean, você acha que irá doer muito? - indagou o anjo, com medo.
- Relaxa, Cas... Olha, vamos fazer o seguinte: eu vou primeiro e faço a tatuagem antes enquanto você simplesmente observa. Quando eu terminar, você já vai estar mais preparado, certo?
O caçador estranhou ao não obter uma resposta imediata do anjo.
-...certo, Cas?
Dean desviou os olhos da estrada por um breve instante e virou-se para encarar Cas. O moreno estava quase tremendo de nervoso, e Dean, ao perceber seus olhos arregalados, não conseguiu conter uma risada.
Era impressionante como o anjo conseguia ser tão fofo sem ao menos tentar.
Ao chegarem no local planejado, Dean estacionou na frente do estúdio e eles prontamente adentraram o lugar.
O estabelecimento pertencia a um velho amigo de Dean, que largou a vida de caçador e obteve em seu estúdio de tatuagens um novo ganha-pão e, sobretudo, um entretenimento que o distraía de suas próprias lembranças das caçadas. Josh e Dean haviam se conhecido em meio a uma dessas caçadas, há muitos anos. O pai de Dean ainda era vivo quando os dois acabaram com uma perigosa gangue de vampiros juntos. Com o passar do tempo, o trabalho foi se tornando cada vez mais desgastante para Josh, a tal ponto que ele definitivamente desistiu de tudo. O que Dean nunca imaginara é que, anos depois, ele mesmo se encontraria na mesma situação.
Era um estúdio menor do que Dean pensava que seria, mas a decoração era incrível. Uma luz de tonalidade vermelha preenchia o local e os pôsteres na parede combinavam com o rock pesado que saía das caixas de som penduradas no teto. Ao perceber os dois entrando, Josh saiu do balcão e correu para cumprimentá-los. Ele já sabia que Dean viria devido a ligação que o loiro fizera mais cedo naquele mesmo dia, para marcar um horário, mas vê-lo pessoalmente depois de tanto tempo era algo surpreendente.
Josh, como sempre caloroso, envolveu Dean com um abraço.
- Winchester! - cumprimentou, o envolvendo em seus braços. - Não acredito que todos esses anos só te deixaram mais em forma ainda, parceiro.
Castiel observava a cena atentamente e com um olhar confuso em seu rosto.
- Josh! Uau, cara, esse lugar é ainda mais maneiro do que você sempre disse que seria.
Ao notar a expressão de Cas, Dean percebeu que ainda não tinha os apresentado formalmente, apesar de ter previamente contado a Josh que um amigo viria com ele.
- Cas, esse é o Josh, um ex-caçador que já me acompanhou em muitas aventuras - apresentou Dean - E Josh, esse é meu amigo, Castiel.
Dean não sabia exatamente o porquê, mas era um tanto quanto estranho apresentar Cas como um simples amigo. A palavra não descrevia ao certo o laço profundo que os dois tinham. Dean deveria ter o apresentado como um melhor amigo, talvez? Não... absolutamente não. Essa é uma expressão exclusivamente usada por garotas que se encontram na sexta série. Uma hora você chama alguém de melhor amigo, cinco minutos depois você já está fazendo tranças no cabelo dele e fazendo promessas de dedinho.
- Prazer em conhecê-lo Castiel, Dean falou muito bem de você. - respondeu Josh, estendendo a mão para o anjo apertar.
Cas o cumprimentou e a expressão dura em seu rosto amenizou um pouco ao ouvir aquilo. Dean nem tinha falado tanto assim, pelo que lembrava, mas pelo visto havia passado uma boa imagem de Cas.
Josh ligou seu computador a apresentou aos dois algumas fontes as quais eles poderiam optar para tatuar os números das respectivas datas que escolheram. Ambos escolheram e mesma fonte, já que o objetivo inicial realmente era que as tatuagens combinassem.
Como o combinado, Dean foi o primeiro a fazer. Sentou-se em uma cadeira e estendeu seus braços, tirando a camisa que vestia e ficando com sua camiseta preta de baixo, com a manga arregaçada, já que a tatuagem seria em seu braço direito.
O processo todo durou bem menos do que o loiro imaginou que duraria, e a dor não tinha sido tão insuportável como ele temia. Como ele havia dito antes, com certeza existiam dores piores.
Chegada a vez de Cas, Dean notou que a expressão de medo em seu rosto retornara.
- Cas, você tem certeza que quer fazer isso? - perguntou Dean, o puxando levemente para o canto para que pudessem conversar com um pouco mais de privacidade. -Quer dizer, você não é obrigado a fazer nada que não quiser, está certo? Não é como se eu fosse te chamar de covarde ou algo assim.
- Dean, eu quero fazer isso, por você. - respondeu o anjo, encarando Dean firme e decididamente.
Cas não deu nem tempo para Dean sequer pensar em respondê-lo. Tratou de rapidamente sentar-se na cadeira, antes que mudasse de ideia.
Josh pediu para ele arregaçar um pouco a manga de sua camiseta e Cas prontamente atendeu a seu pedido. Uau. Curiosamente, ver os músculos de seu braço provocaram em Dean a mesma sensação que ele sentira no dia anterior, quando viu Castiel sem camisa no provador. Era um misto de constrangimento e curiosidade, mas acima de tudo, um sentimento estranho que Dean não queria admitir nem a si mesmo que sentira.
Inicialmente, tudo correu certo, Josh conseguiu tatuar a primeira parte da data sem causar muitas reações em Cas. Mas quando chegou na segunda, Dean conseguiu perceber na expressão do anjo uma leve faísca de dor. Com medo de que aquilo se agravasse, Dean chegou mais perto, e, sem pensar muito, estendeu sua mão para que Cas segurasse. A princípio, o anjo pareceu relutante em aceitar, mas conforme a dor aumentara, ele pousou sua mão sobre a de Dean e ali deixou.
A sensação de ter a mão de Cas sobre a sua era estranha para Dean, muito estranha. Na verdade, estranhamente boa. Suas palmas estavam quentes e seus dedos eram mais longos do que pareciam.
Quando, alguns segundos depois, Dean realmente se deu conta do que estava fazendo, tirou suas mãos rapidamente, para que aquela situação estranha não se prolongasse. Uau, Dean realmente se sentia como uma garota da sexta série agora.
Quando a tatuagem de ambos ficaram prontas, Dean pode finalmente perceber o quão bonitas e bem-feitas as duas haviam ficado. E pela expressão em seu rosto, Cas havia gostado também.
- Josh, cara, eu realmente não sei como te agradecer. Quanto a gente te deve?
- Essas ficam por minha conta, Winchester. Eu que tenho que te agradecer por todas as vezes que você já salvou minha pele. Se não fosse por você eu nunca teria derrotado aquele metamorfo em Iowa, em primeiro lugar.
- Só pude te ajudar com isso porque você basicamente salvou minha vida em Michigan, lembra? Cara, aquelas sereias realmente eram selvagens.
- Nem me fale, essas conseguiam ser piores do que aqueles demônios de Wisconsin!
Dean e Josh riam ao relembrar de casos peculiares que já resolveram juntos.
- Bons tempos aqueles, Dean, em que caçar ainda era algo divertido e prazeroso. A verdade é que a coisa toda, para mim, foi se tornando cada vez mais desgastante e menos recompensadora.
Dean pode perceber, novamente, que Cas os encarava com uma expressão confusa, mas, ainda mais do que antes, ele aparentava estar levemente irritado, e até mesmo... com ciúmes? Não, não deveria ser. O anjo não tinha motivo algum para sentir ciúmes de Dean. Josh era, de fato, um grande amigo, mas Cas... bom, Cas era Cas.
Depois de alguns minutos de conversa, ambos agradeceram o trabalho de Josh e se despediram. O tatuador prometeu manter contato com Dean, já que agora tinha seu telefone, alegando que fora muito bom revê-lo.
Dean e Cas finalmente entraram no Impala com suas tatuagens realizadas. A ficha ainda não tinha caído, para Dean, de que eles haviam feito aquilo juntos. Cas, antes amedrontado, agora parecia bem mais animado e satisfeito.
- Cara, isso foi incrível. - afirmou Dean, enquanto ligava o carro para voltarem para o bunker.
Cas ainda analisava seu próprio braço, olhando a tatuagem curiosamente.
- Você acredita nisso, Dean? Eu tenho uma tatuagem. Se eu comprar uma jaqueta de couro já posso ficar igual aqueles motoqueiros rockeiros que vemos na TV.
Dean ria da reação de Cas. Estava feliz que ele realmente tinha gostado do resultado e que tudo dera certo, afinal das contas.
- Acho que você vai precisar de um pouco mais de tatuagens para isso, Cas.
Cas voltou seu olhar para Dean, analisando sua tatuagem um pouco mais de perto.
- Ficou maneira, não é mesmo? - perguntou Dean - Quando eu morrer, pode tirar umas mil fotos dela antes de me queimar.
Dean só percebera o quão insensível isso havia sido depois de já ter falado, para variar.
- Dean, porque você insiste tanto em tocar nesse assunto? - irritou-se Cas - Você mesmo vive falando que finalmente quer aproveitar a vida mas não deixa de pensar em sua morte por um instante sequer.
- Desculpa, Cas, está certo? Eu falei isso da boca para fora. Era para ser uma piada mas infelizmente não soou como uma. Droga, Cas, será que você sempre tem que repreender qualquer coisa errada que eu faço?
- Sou eu quem peço desculpas aqui Dean, não sabia que minha companhia era tão ruim a ponto de você querer pular esses 30 dias direto pra parte em que você morre e não é mais obrigado a me aturar todos os dias de sua vida.
- Em primeiro lugar, você sabe que eu nunca disse isso. Segundo, no fundo você sabe mais do que ninguém que isso não é verdade. Nem você acredita no que está dizendo, Cas.
- Sabe, Dean, talvez você deva passar seus últimos dias com alguém mais interessante que um simples amigo como eu. Acho melhor você dar a meia volta com seu carro e chamar o Josh para ser seu fiel companheiro de aventuras.
- Josh? Tudo isso é sobre ele? Você tem noção do que está dizendo, Cas?
Dean não acreditava que isso estava acontecendo. Mas já deveria ter desconfiado previamente. Sempre que algo vai muito bem em sua vida, era sinal que em breve tudo ia desandar. Bom, acho que naquela altura, Dean já poderia dizer que as coisas começaram a sair do trilho.
O caçador avistou uma placa de um fast-food a poucos metros dali e resolveu parar. Dean realmente precisava descer e arejar um pouco a cabeça, antes que a situação toda se agravasse mais ainda.
- Sabe de uma coisa, Cas, eu não irei perder meu tempo discutindo com você. - afirmou Dean, parando o carro no estacionamento da lanchonete. -Vai querer algum hambúrguer também?
Castiel nem o respondera. Estava ocupado demais olhando pela janela remoendo tudo que havia acabado de acontecer.
- Está certo então.
Dean fechou o carro, deixando Cas sozinho esperando, e andou em direção ao restaurante.
Aguardava na fila por seu hambúrguer com camada dupla de bacon enquanto pensava na discussão. Brigar com Cas era literalmente a última coisa que ele desejava no momento, mas o anjo realmente pedira por aquilo. Entretanto, o relógio de Dean estava correndo, e mais cedo ou mais tarde eles teriam que resolver aquilo.
Pegou seus hambúrgueres e voltou para o Impala, disposto a amenizar um pouco a situação com Cas. No entanto, quando abriu a porta do carro, a primeira coisa que Dean percebeu era que Cas não estava mais lá.
Seu coração começou a bater desesperadamente. Andou pelos arredores da lanchonete procurando pelo anjo, perguntou até mesmo para a garçonete se não havia o visto, mas infelizmente, Dean não obteve nenhum sucesso.
Tentou ligar em seu celular mas caía direto na caixa postal.
Ele já não sabia mais o que fazer.
- Droga, Cas, onde você se meteu?

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