Prólogo - Três caçadores e uma casa

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Era uma noite de sábado. Três senhores de idade tinham o costume de caçar numa mata que ficava ao extremo norte da cidade em que moravam, chamada de Ilha dos Sussurros, sua floresta era densa e muitas lendas cercavam suas árvores sombrias. Os sons que adivinham de aves estranhas, que só existiam naquele local, já era costumeiro para aqueles senhores e, as matas e seus animais já não assustavam aqueles experientes caçadores, que há muito tempo, faziam daquele lugar seu parque de diversão. Mas algo de diferente surgiu nesta noite, uma luz, no meio da floresta, brilhava incandescente.

— Jorge! – chamou Adão, cutucando a barriga de seu colega com a ponta de uma espingarda – que merda é essa?!

— Rapaz... Não sei – respondeu num sussurro – nunca vi isso antes.

Enquanto os dois observavam, cautelosamente, todo o movimento debaixo de uma árvore de galhos caídos e folhas ressequidas, Felippe, outro amigo deles, por um momento pareceu enrijecer a musculatura de seu braço e contrair, forte, seus lábios.

— Melhor sairmos daqui – disse Felippe.

— Sair? – gozou Jorge – Essa pode ser a melhor aventura que jamais tivemos, Felippe! – respirou ansioso – não vai querer estragar isso, não é?! Afinal, já somos velhos... O que temos a perder?!

Felippe nada disse, mas pareceu não gostar da direção para onde as circunstâncias estavam os levando. Cada um, tendo em posse, um rifle em suas mãos, se aproximaram, sorrateiramente, de onde parecia vir aquela luz. A cada passo, uma inspiração, a cada pausa uma expiração. Até mesmo os animais da floresta teriam dificuldade de achar sua localização.

— Uma casa? – indagou Jorge ao identificar de onde a luz vinha – desde quando essa casa está por aqui?! Achava já conhecer essa mata de cor e salteado – bufou assustado.

— Melhor deixar, quem quer que more ai, em paz – reafirmou Felippe.

— Você está muito chato hoje, Felippe! – criticou Jorge – eu quero conhecer quem mora aí! Você também, não é Adão? – sorriu – ou esta com medo também, igual à marica do Felippe?

— Es.. Estou muito curioso também, Jorge – gaguejou, com os olhos arregalados olhando para Felippe.

Com um sorriso irônico em seu rosto, Jorge começou a avançar cautelosamente fazendo sinais com as mãos para que seus companheiros o acompanhassem.

A madeira da casa já estava muito desgastada, mas, por mais velha que ela fosse não apresentava nela uma casa de aranha. Quem quer que viva ali, cuidava muito bem de seu lar. Isso era inegável, podendo, até mesmo, chegar a ser convidativo pra quem gosta de lugares rústicos.

— A porta está aberta. – observou Adão, sentindo um aroma bom e doce sair ao seu encontro.

— Café – deduziu Jorge – nada melhor do que um bom café para reavivar nossas forças. – olhou para Felippe, dando um sorriso que ia de ponta a ponta da orelha – vamos conhecer quem mora ai e depois voltamos a nossa caçada. O que acha?

Felippe olhou cerrado para seu colega. Apesar de não o contrariar em palavras, seus gestos esboçaram raiva e preocupação. Adão tomou a frente.

— Você está me deixando com mais medo do que a própria casa, Felippe.

— Vamos, Felippe! – insistiu Jorge – o que poderia acontecer demais? – assoprou – estamos armados,cara!

Jorge mais uma vez foi à frente de seus colegas, descansando sua espingarda em suas costas. Algum pássaro falante, dentro da densa floresta, gritava em tom de desespero: muito arriscado, em?! Muito arriscado...

Piedade - a verdade nunca é como pareceOnde histórias criam vida. Descubra agora