Capítulo I - Dueto

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"Leonardo"

Seus olhos embotados de rímel e lágrimas, fitavam qualquer outro lugar menos a mim. Beatriz parecia consternada com a própria decisão e encostada em uma das árvores do gramado, tentava se justificar.

- Eu preciso de um tempo – suas palavras eram direcionadas ao horizonte. - Acho que não dá mais pra continuar assim.

- Assim como? – Perguntei franzindo o cenho.

- Leo... – Beatriz virou-se, suas mãos trêmulas agora afagavam meu rosto. – Eu explico depois. Promete que ficará bem?

- Eu ainda não entendo. Por que? – Afastei suas mãos de meu rosto. Meus olhos marejavam, me controlei para não chorar ali mesmo.

- Não faça essa situação ser ainda pior – Beatriz suplicava-me enquanto seus dedos enxugavam as lágrimas, que teimavam descer de meu rosto. – Tenho que ir – disse-me enquanto recolhia a sua mochila do gramado.

Eu a observava se afastar de mim, sabia que ela seria orgulhosa o suficiente para não olhar para trás. Minhas costas foram se aproximando do tronco de um enorme ipê amarelo, quando encostei, fui deixando meu corpo cair no gramado para logo em seguida desatar a chorar.

Nunca entendi direito as decisões de Beatriz. Ela sempre foi uma garota um pouco indecisa e impulsiva, o que me fazia ter esperanças que ela voltaria atrás na sua sentença final.

Levei minhas mãos a minha face, afim de estancar o choro persistente. Essa sensação era algo novo e eu não estava preparado para isso de forma tão repentina. Lembro-me que tivemos algumas brigas ao longo desses dois anos juntos, mas nenhuma delas foram o suficiente para me fazer cogitar a possibilidade de encerrar nosso relacionamento. Eu a amava e tenho certeza, que no fundo ela também.

Por que Beatriz tomaria essa decisão? Será que isso tinha alguma coisa a ver com o pai dela? Ele me odiava, disso eu tinha certeza. Será que ele a convenceu...? Não! Beatriz, apesar de tudo, não se deixaria levar por ele. Poderia ser então seu irmão? Ou quem sabe suas amigas? Não. Nenhuma dessas opções parecem plausíveis. Será que ela está amando outro cara? Provavelmente não, já que até onde sei ela sempre foi fiel a mim.

Poderia ficar por ali cogitando várias possibilidades, porém esse turbilhão de pensamentos estava prestes a fazer minha cabeça explodir.

- Porra! Eu tava procurando há um tempão...

Meus devaneios foram interrompidos. Virei meu rosto subitamente para ver quem estava ali.

- Por que você está chorando? – Perguntou-me se agachando próximo a mim.

- Por nada Alice... – respondi.

- É por causa da porra da Beatriz né? – Seu rosto transparecia uma mistura de raiva e seriedade.

- Não fale assim dela – disse-lhe sem conseguir olha-la diretamente.

Alice cruzou as pernas e sentou-se do meu lado.

- Leo... – seu semblante de fúria havia desaparecido. – Eu avisei que ela faria isso, não avisei?

- Você veio até aqui para falar isso? – Abaixei meu rosto entre minhas pernas para chorar um pouco mais.

- Não – Ela tentava levantar meu rosto. - Eu estava te procurando e o encontrei chorando na grama – ela se levantou e estendeu as mãos para mim. – Vamos! Já estamos atrasados.

Ergui a cabeça para observá-la por alguns segundos. Minhas mãos seguraram seu antebraço e eu fiz força o suficiente para me levantar.

- Como sabia que era por causa dela? – tentava controlar meu choro em meio a soluços.

Céu Nada VioletaOnde histórias criam vida. Descubra agora