Capítulo III - Paralelo

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"Beatriz"

"Toc! Toc!"

— Será que ele não está em casa? — A resposta para minha pergunta mental foi vê-lo apenas de cueca, na minha frente, quando a porta de aço se abriu.

— Beatriz? — Ele parecia um pouco surpreso. Seus cabelos estavam desarrumados, em seu rosto repousavam algumas marcas, típicas de quem estava dormindo.

Miguel encostou-se no umbral encarando-me por alguns segundos.

— Alô! — Estalei meus dedos próximos a seu rosto. — Posso entrar? — Perguntei em meio a um sorriso debochado.

— Ahh ... Sim... Claro! — Disse-me ao abrir totalmente a porta, em seguida apontou para o sofá acinzentado da sala e completou. — Vou me vestir! Espere aí — concluiu indo em direção as escadas de madeira retorcida.

— Tá! — Repliquei brevemente.

Sentei-me no sofá e comecei a observar o ambiente ao derredor. A casa de Miguel era um tanto quanto elegante, provavelmente, pelo fato de seu pai ser arquiteto. A minha frente estava uma mesinha de vidro, com um ramo de "Lotus Berthelotii" em um vaso aço inoxidável. Uma planta rara, diga-se de passagem, é bem difícil encontrar alguém que as cultive aqui no Brasil.

— Pronto Bia! — Exclamou ainda das escadas. Miguel penteou os seus cabelos avermelhados, cobriu seu torso com uma camiseta golo polo azulada. Porém ele não se deu o trabalho de vestir um short, ficando ainda de cueca. — A que devo a visita? — Perguntou-me com um sorriso travesso, logo após sentar-se ao meu lado.

— Vim pra conversar — respondi enquanto me afastava sutilmente.

— Sou todo ouvidos! — Miguel começou a me observar atentamente, o sorriso malicioso se desfez, dando abertura para um olhar mais sério.

— Não é nada grave, mas queria deixar algumas coisas bem claras. — Dizia gesticulando com as mãos.

— Eu já sei o que é. — Miguel se aproximava de mim, seus dedos percorriam minhas bochechas carinhosamente. — Deixa essa história pra lá! — Argumentava.

— Miguel, não! — Afastei seus dedos de meu rosto. — Preciso falar sobre isso contigo. — Ele revirou os olhos ao se recostar no sofá, e eu fiz o mesmo.

— Não te entendo, Beatriz. — Miguel fitava a televisão a nossa frente. — Por que isso importa agora? — O desânimo em seu rosto era evidente.

— Isso tem mais a ver comigo do que com você — disse-lhe.

— Então... — Seu rosto se inclinou para direita e olhando em meus olhos perguntou. — O que você decidiu?

Meu rosto estremeceu e minha voz teimou em falhar por alguns segundos. Essa pergunta me remeteu a pensar sobre tudo que aconteceu no dia de ontem. Sou livre para tomar a decisão que bem entender, porém, no fundo sinto que talvez não tenha sido a mais sensata. Será que estava me preocupando demais com o menino Leonardo? — Droga! —Se Alice tivesse me dado mais tempo, eu teria refletido melhor sobre isso. Interrompi-me mentalmente para dizer.

— Eu terminei com ele — estava um pouco consternada. — Foi o mais correto.

— Tudo resolvido então, né?

Céu Nada VioletaOnde histórias criam vida. Descubra agora