Jogo Da Vida Mental

O verme

Fato:

Eu não sei se estou certa, tampouco errada, existe um tempo fluindo entre todos nós. O antes, o durante e o depois. Cada um sentimos o tempo de maneira pessoal e puramente íntimo. Eu acredito que a morte é um modo de evoluir, nós só estamos voltando no ciclo, até superar todas as barreiras da ciência, do comportamento e da realidade.

Esse ciclo existe em nossas mentes. O cérebro, que é a caixa de segredos do nosso consciente e subconsciente, o chefe dos impulsos, da fala, o comando sobre nossa perspectiva. Ali tem um verme, um parasita cruel que come um pedaço de cada vez quando o ciclo se completa. Ou você pensa que os vermes que consomem seu corpo ao morrer, vieram somente nessa vida? Nesse ciclo?

O verme de fato cresce e cada vez mais se torna parte do seu cérebro. Parasita Cruel, esse que me fez pensar sobre o fim, sei o que é, sabemos o que é, mas precisamos nos preparar para tal.

Eu penso muito, exatamente sobre isso, essas ligações anormais não podem ser apenas um delírio. Por mais que pareça loucura, o que parece ser normal para você?

Crys:

Já se passou um mês, um maldito mês, e eu que jurei que não ia carregar comigo isso, que se eu tivesse opção eu seria frio. Mas isso é demais para mim, não entender nada, não saber exatamente nada sobre o que lhe foi dito, não saber enfiar as palavras na cabeça. Já se foi um mês com memorias soltas, eu nunca me senti tão invadido por um sentimento, a incapacidade.

Sou incapaz de saber, de conhecer, aprender, sou como um idiota. Eu não sei o momento que isso me foi dito, não soube ler as dicas, olhar os olhares, comer as palavras dela, ouvir o sereno, sou como um idiota impaciente. Ela mesma dizia.

Jenny:

Seja paciente. Pois, a dor te corroí, te espanca e te toma o que tens, te prende na cama, te força a mentir, te abre e exibe para o mundo até você se cansar.

Vamos lá, não murmure por uma alma tão gentil, que se despedaçou para acordar de um pesadelo. ''Me deixe ir'' ela dizia, tudo ficaria bem, que eu seria confortada, somos iguais. Que eu um dia iria encontrar o amor que preciso, irei encontrar a mim mesma, solitária em meu peito.

Quem vai me amar? Quem vou encontrar?

Me aquece reler seus pensamentos, te imaginar na varanda deitada, olhando as nuvens e sempre falando baixinho ''todos merecem ajuda''. Eu ouvia você tão perfeitamente, eu me encantava tão facilmente pelo seu cérebro, minha consequência foi aquecer ate derreter o meu ser.

Fato:

Seja o seu melhor, eu sempre ouvi isso na infância. Faça o melhor, haja e viva dessa maneira.

Lembro de minha infância, como um rolo de fita queimado, nem sei se ao menos estive em alguns lugares, se de fato vivi, se de fato fui criança um dia. Eu só me lembrava de coisas que meu corpo não viveu, apenas sentiu.

Lembro especificamente de ser constantemente cobrada de sorrir, quando fotos eram tiradas novamente eu precisava de sorrisos, quando havia estranhos tudo se repetia, sorria e APENAS sorria.

Ai cria-se sua realidade, cubra seu rosto de sorrisos, treine ser feliz, finja orgasmos, seja complacente com a ignorância, abrace sua cegueira, ignore a dor, o medo, o feio, o que se esconde nas sombras de seu coração. Ignore tudo, inclusive sua vida.

Parece que a minha visão filosófica metafisica sobre a realidade não foi percebida pelas pessoas, na grande maioria.

Mas compreendo, nunca consegui materializar algo para mim mesma, sendo sincera, penso em outras pessoas, nunca me enxerguei em meus pensamentos, nunca reconheci meu rosto no espelho, parece que sou um borrão de quem eu já fui um dia. Na história toda da existência humana, vivi cada momento, mas hoje já não me sinto eu, e entendo o porquê.