Terapia

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Andrômeda:


Freud o pai da psicologia, criou uma indústria que gera muitos lucros. Minta, se sinta mal e confesse seus pecados, receba um conselho e ai você está salvo. Terapia. Achava besteira, eu praticamente já entendia. Mas meus pais insistiam em terapia.

Ambivalência era o dilema. Eu tinha dois caminhos a se seguir, eu tinha escolhas, depois de ter a total ciência da situação do universo e do meu proposito aqui, eu tinha de escolher. Escolhi sim, de rigor e tristeza, mas a escolha foi minha salvação daquele pesadelo. 

Não precisei ir á um médico para saber que desenvolvi narcolepsia, logo consegui receitas para comprar ritalina com um colega meu. Tomava de modo consciente, eu esperava que um bom sono e uma rotina iriam me ajudar, mas era perseverante o vazio em meu peito.

A ritalina fez as alucinações sumirem, mas constantemente eu sentia aperto no peito, falta de apetite, às vezes eu tremia muito, pior era que comecei a ficar em panico muito facilmente, eu não sentia mais nada, porém, o panico, as sensações, me engoliam. Comecei a me sentir sozinha, eu não tinha controle sobre nada, logo, eu era nada.

Crys sempre me pedia para explicar o que acontecia comigo, minha falta de amor logo o afetou, o deixava irado. Me desculpe Crys, mas precisei te deixar por um tempo, essa dor vai te fazer crescer, disso eu sei.


Mas como posso explicar para alguém que o céu não é azul? Que as leis da física já não fazem sentido, que o que sobe não desce, ou explicar que eu vivo no presente, logo me vejo no passado e sou jogada novamente ao presente, o pior de tudo, não posso controlar, não pareço mais viver nesse mundo. Você só entenderia, no momento que sentisse a dor. Não te culpo por nada dito nessa vida, você só não percebeu ainda que o céu tem todas as cores.


Crys:

''E por que você não pode?''


Eu constantemente perguntava porque ela não podia se sentir feliz, ou, porque ela não podia sentir nada.


Sempre senti um grande amor por ela, eramos quase o oposto um do outro, eu sempre certinho com horários e uma vida comum, ela poetisa, estudava arte, pincelava alegria, logo podia expressar a tristeza. Nós nos equilibrávamos, ela me arrancava do sofá para dançar uma music que tocasse no rádio e eu colocava a mente dela para dormir, eu era paz, ela uma imensa guerra. 

Quando ela se colocava a chorar às vezes eu dizia que amava ela, mas descobri infelizmente, que o amor não segura toda dor.

Eu não podia controlar. Chegando próximo ao fim ela já não chorava, ela não me tocava, mas eu a amava, tolo. Eu acariciava seus cabelos, eu ficava ate tarde a olhando dormir, fui paciente, eu penso que era a única coisa que eu sabia fazer, amar ela.

Mas hoje eu me sinto um indolente, comodista que está se levando a loucura. Aquela noite que terminamos, matei ela.

Ela se deitou no meu peito, ficou ouvindo meu coração bater, dava voltas com o dedo no meu corpo e olhava a minha pele. Então ela disse ''se parar de bater você morre''.

Eu assustado não disse nada e ela continuou a falar ''quando você pensa na morte, você começa a fantasiar ela, parece que ela te afoga em um rio gelado e espera uma decisão. Fica impossível não imaginar como morrer ou se matar. Já imaginou como seria Crys?''.


Eu respondi ''Nunca pensei nisso, julgo que nem preciso pensar nisso, é besteira, se alguém quer morrer ela simplesmente morre''. 

Ela levantou, sem expressão, disse que ia para casa, assim, sem aviso algum, ela nem olhava em meus olhos. Eu com raiva pelo fato de ser totalmente ignorado disse ''Não sou tão interessante para você agora, só porque não penso em morrer ou me matar?''.

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