Como deveria ser

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Mika's pov
A vida continua, até finalmente acabar.Invejo tanto aquelas pessoas verdadeiramente felizes, que amam a vida mais do que tudo. Não consigo partilhar desse sentimento, por muito que tente.Não sou religioso, mas até rezar já tentei. Se realmente houver um Deus, ele não deve estar do meu lado.Provavelmente ele nem existe, tudo delírios inventados por humanos para conforta-los em tempo de dor.Se ao menos funcionasse, poria o meu orgulho de lado, mas certos sentimentos simplesmente não são para certas pessoas, por isso mais vale aceitar que nada nunca mudará, assim talvez tudo passe mais rápido.
A campainha tocou e os alunos apressam se a sair da sala para 10 minutos de pausa antes de serem inclausados novamente, uma falsa esperança mas que chega para os satisfazer.
Um mês já se passou desde que eu e Ferid nos mudámos para esta nova cidade. Tal como suspeitava, nada mudou e tudo continua igual.
Enquanto andava pelo corredor, ouvia ligeiramente as conversas do outros, com os seus sorrisos colados na cara e os seus sorrisos a viver nas suas gargantas. A inveja ataca outra vez e uma pequena lágrima nasce dos meus olhos.Com a mão limpo-a, antes que alguém note. Mas também, quem iria reparar na minha dor?
Estava tão entrenhado nos meus pensamentos que não vi o rapaz de cabelo preto despentiado á minha frente. Fui contra ele, caindo no chão devido ao impacto. Quando levanto a cabeça, encontro 6 pessoas a olhar para mim. Ninguem costuma olhar para mim e não estou habituado a ser o centro dos olhares, mas pior, não gosto de o ser.Na verdade,tenho pavor de o ser. Adorava que o chão se abrisse, engolindo me, aceitando me dentro de si, para toda a vida. Infelizmente, o chão não se abre, iria ser bom demais. Coisas boas não acontecem, muito menos coisas demasiado boas.
-Estás bem?-pergunta um rapaz baixo com uma voz extremamente doce.
-s...s...s...sim.-disse, gagejando. Não pretendia gagejar mas toda aquela situação intimidava-me.
-És gago ou alguma cena assim?- Desta vez é um rapaz alto de cabelo cor-de-rosa que fala.Na sua voz, noto o gozo em abundância.
-Kimizuki, quanta idiotice consegues armazenar nessa tua cabeça? Deves ter batido o recorde mundial, não... deves tê-lo inventado- diz uma rapariga*(menina adolescente no Brasil)* loira de braços cruzados com uma expressão trocista.
O outro rapaz,Kimizuki se não me engano, imitou uma falsa risada e calou-se aparentemente sem resposta.
Eu apenas estava ali, sentado desajeitadamente no chão, com os livros caidos á minha volta, não sabendo em quem fixar o olhar.
Não posso deixar de reparar no rapaz de cabelo preto, que olha para mim. Não deveria estar zangado comigo, por ter ido contra ele? Imaginava qualquer reação mas não a do olhar intenso que esconde os suas emoções. Estava ele a imaginar se me dá-va uma surra ou se mandava os seus amigos darem-me uma surra?
Então, ele esbanjou um sorriso e estendeu a mão
-Desculpa, estás bem?- a mão continava lá, estendida na minha direção, como um convite sorridente.
Fico a olhar para ele, desconfortável e demorando mais tempo do que é socialmente aceitável a decidir se o aceito ou não.
Os nossos olhares entrelaçados unem-se num só enquanto eu começo a erguer a minha mão, que treme ligeiramente. Ele nota e, como se a poupar-me ao esforço, estende ainda mais o seu braço, percorrendo ele mesmo o espaço entre as nossas mãos.
Então, ele aperta a minha mão, trazendo os meus dois pés de volta ao chão, como deveria ser.
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Espero que gostem e desculpem pela GRANDE demora.
Sim, eu sei, clichê..... mas que posso fazer....toda a gente gosta de clichê e eu amo-o.
Gente, não fiquem preocupados tá. Rapariga significa menina adolescente em Portugal e, como vivo em Portugal, estou a escrever de maneira portuguesa. Eu sei que no Brasil, "rapariga" tem outro significado mas não é esse significado que quiz dizer.
Love, ❤

Uma Centelha de EsperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora