Capítulo I: Os Pormenores

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  Capitulo I:

Os Pormenores

  –  Boa noite, senhor. – Falei sentando–me ao lado do rapaz de blusa preta em frente a biblioteca – Faz tempo que não nos vemos, não é mesmo, como tem passado, André?

– Como você acha que estou, hoje fazem exatos 365 dias que seu primo morreu, estamos a metros de onde ele foi assassinado e não sabem absolutamente nada, apenas acham que foi aquele rapaz morador de rua. E convenhamos, né, não há menor chance de ter sido ele. – Disse ele rispidamente olhando para mim – Como você acha que estou?

– Ranzinza como sempre. Sei que não é uma tarefa fácil para você vir aqui, acha que não sei o que você sente, não é mesmo, acha que não sei o que você passa? Na noite em que você perde um amigo, eu perdi um primo. Marcus foi o mais próximo que eu tive de um irmão, André, não tê-lo mais por perto me dói tanto quanto dói em você. 

– Saiba que vir aqui, principalmente a essa hora foi provavelmente a pior decisão que tomei em toda a minha vida até agora. E olha que eu já fiz duas graduações que tinham matérias envolvendo ciências exatas e as duas ao mesmo tempo.

– Eu sei que dói, imagino que não seja tão fácil retornar aqui, ainda mais nessa data tão marcante, mas eu só te peço que não tente descontar em mim toda sua dor e raiva, okay, eu não tenho culpa.

– Sim – Ele disse baixando a guarda um pouco, André era o amigo mais próximo de Marcus, mesmo ele tendo ido morar em outro estado e quem morou com ele por uns meses, se havia alguém que pudesse me ajudar, esse alguém era ele. – É torturante demais vir aqui nessa praça. Por mais que eu passe por ela todos os dias e já tenha, de certa forma me acostumado, me acostumado a passar, ainda dói bastante. – Ele disse e limpou uma lágrima de seu rosto.

– Você não precisa fazer isso se não quiser, lembre–se, okay?

– Tudo bem, já está mais do que na hora de contar tudo que vi no início do ano passado e tentar tirar o peso das costas. Você está pronta, Belle, no que eu vou te contar será algo doloroso e te fará chorar. Eu só peço que você não tire conclusões antes de eu terminar de contar toda a história, tudo bem?

– Sim, quando quiser começar

– Então vamos lá:

"Era janeiro de 2018, não estava calor aqui no Rio de Janeiro, o que é bem estranho. Eu havia tido uma pequena confraternização no trabalho, pois era aniversário de um dos donos da empresa e eles decidiram levar todos a um rodízio de pizzas. Eu havia saído do centro do Rio antes das nove horas da noite, eu ia pegar o trem sentido Gramacho para descer aqui em Caxias e poder ir para casa, mas aquele dia o trem demorou demais a chegar na plataforma doze, até hoje eu me pergunto se talvez eu não tivesse ido à confraternização teria sido diferente. – André estava bem triste e haviam lagrimas em seus olhos, um aperto tomou conta do meu peito, era torturante vê–lo assim. Eu peguei o primeiro trem em sentido ao Maracanã, para poder fazer baldeação e pegar em sentido Gramacho. Quando cheguei a estação daqui, deveriam ser por volta das dez horas da noite. Desci na plataforma e fui em direção as escadas, notei que havia uma aglomeração de pessoas ali em cima, era normal sempre haviam pessoas aglomeradas assim ali, mas elas estavam em volta de algo, ou melhor, alguém.

– Era ele? – Perguntei já sabendo a resposta.

– Sim, infelizmente era sim. Quando eu cheguei perto pude ver sangue escorrendo e aquilo me deixou aflito, eu tenho hematofobia. Só queria sair dali, mas algo me impediu. Algo me forçou a ficar ali, entende?–  Disse ele –  Eu estava quase saindo quando eu o vi bem ali, bem diante dos meus olhos caído numa possa do próprio sangue, ele ainda estava de olhos abertos e lacrimejava. Ele só conseguia dizer que queria fazer uma surpresa e me pedir perdão. Que era culpa dele e que eu não deveria ficar triste pois ele me amava. – Disse André chorando e limpando o rosto. 

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⏰ Última atualização: Sep 19, 2018 ⏰

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