Capítulo dois

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Eu me sentia estranhamente animada enquanto ia da aula de espanhol para o refeitório. O ano letivo estava terminando e, havia uma excitação perceptível no ar. A liberdade estava tão próxima que era tangível, palatável. Havia sinais dela por toda parte. Cartazes abarrotavam as paredes do refeitório e as lixeiras transbordavam uma saia colorida de folhetos: lembretes para comprar livros do ano, anéis de formatura e convites; prazos para encomendar becas, capelos e borlas de formatura; panfletos de cores berrantes — alunos do primeiro ano em campanha para representantes de turma; anúncios agourentos enfeitados de rosa para o baile deste ano. O grande baile seria naquele fim de semana, mas Rachel e Penny me prometeram solenemente que eu não seria submetida àquilo de novo. Na verdade eu ficava enjoada  de tão nervosa sempre que pensava no assunto. Eu tentava não pensar.

Mas era difícil escapar de um tema tão onipresente como a formatura.

— Já mandou seus convites? — perguntou Penny quando eu e Rachel nos sentamos a nossa mesa.  Ela estava com o cabelo castanho —escuro puxado num rabo de cavalo frouxo, e não com penteado liso de sempre, e havia algo de frenético em seus olhos.

— Não — respondi a Penny — Não tem sentido fazer isso. David sabe quando vou me formar. Para quem mais eu mandaria?

Penny se virou para Rachel.

— E você, Rachel?

Rachel sorriu.

— Está tudo pronto.

— Sorte sua — Penny suspirou. — Minha avó tem uns mil primos e espera que eu mande um convite escrito a mão a cada um deles. Vou ficar com síndrome do túnel do carpo. Não posso mais adiar isso, e estou morta de medo.

— Vou ajudar você — me ofereci.

Penny pareceu aliviada.

— Bom, que ótimo! Vamos ter que sair para comemorar! — disse Rachel.

—  Não faz ideia de como isso parece bom — disse Penny.

— O que a gente vai fazer? — refletiu Rachel, o rosto iluminado com as possibilidades. As idéias de Rachel, em geral, eram um pouco grandiosas para mim, e naquele momento eu podia ver isso em seus olhos: a tendência a levar as coisas longe demais entrando em ação.

— Não sei no que está pensando, Rachel, mas duvido que eu esteja tão livre...

— Livre é livre, não é? — insistiu ela.

— Tenho certeza de que ainda tenho limites.... Como, por exemplo, as fronteiras do país.

Penny riu, mas Rachel deu um sorriso de decepção.

— Então, o que vamos fazer hoje? — continuou ela.

— Nada — falei — Olhe, vamos esperar alguns dias para ter certeza.

— Tudo bem. Mas, se mudarem de ideia eu estarei esperando vocês na floresta — disse Rachel, enquanto saia da mesa e se distanciava.

— Uau! Festa na floresta? Tudo tão excitante. — falei. Penny riu.

Diários de Nora.Onde histórias criam vida. Descubra agora