Ao andar pelas ruas encontramos milhares de pessoas vivendo suas vidas e muitas delas com sorrisos em seus rostos. É comum imaginarmos que a razão dos sorrisos é de pura felicidade.
Pois, não é essa a função de um sorriso?
Não é através dele que demonstramos o quanto estamos felizes e realizados?
Só esquecemos que os sorrisos também são ótimos disfarces para as dores da alma. Sustentar um sorriso durante muito tempo sem conseguir algo real como base para ele é como se estivéssemos em alto mar nos esforçando para sobreviver apenas com a cabeça sobre a água. Uma hora o corpo cansa e nem o sorriso nos impede de afundar.
Acontece que nem todos eles são disfarces como também nem todos são de felicidade, até porque nem toda a felicidade é resumida em um sorriso, porém, apenas um seja ele proveniente do que for, é um ótimo atrativo para dias melhores. Melhor sorrir do que chorar. Um sorriso encanta e abranda o nosso dia e o dia de quem o recebe.
Assim Rubinho levava sua vida desde que perdeu parte de seu coração e a base fundamental de seu sorriso quando sua amada em um ato de desespero e desesperança se entupiu de comprimidos e o deixou. Eram tantos os contras contra o amor que os envolviam que para ela naquele momento não tinha outra solução. Por mais que os anos tivessem passado e Rubinho tivesse aprendido a lidar com essa perda, ele no fundo carregava a dor desse rompimento repentino e devastador. Seguiu sua vida no início carregado de culpa, ainda muito novo, sentimentos muito intensos, mudança de vida, de casa, amor perdido. Mas tudo isso o fez amadurecer muito rápido e esse amadurecimento o fez rever que a culpa não era dele, nem dela. Por um tempo a julgou também, mas logo percebeu ser em vão. Nada do que pensasse ou fizesse a traria de volta muito menos faria a dor passar.
Nos primeiros anos, mesmo morando longe de tudo que lembrasse ela, não conseguia esquecer o sorriso que abria ao entrar em um jardim cheio de flores, principalmente rosas. Não deixava de sentir o cheiro de flor do campo que havia em sua pele e nem do sabor de morango em seus lábios. Comer morango desde então se tornou doloroso ele evitava apesar de amar.
Esquecer sua Silvia era impossível então decidiu não se forçar esquecer e só deixar o tempo correr. Conheceu novos amigos e algumas garotas. Seu sorriso era um abre alas para suas conquistas e aprendeu esconder através dele suas angustias.
Mesmo encontrando uma maneira de lidar com a dor, continuar morando com seus pais era aterrador. Para sua terrível sorte sua mãe lembrava muito Silvia e dos laços sanguíneos não dá para fugir, ser tia dela fazia com que seus olhares e alguns traços do rosto fossem muito parecidos se não iguais. Fora os cabelos, que ao natural eram da mesma cor, louro escuro.
Primos. Essa foi à sentença dos dois. Sentença essa que levou Silvia a morte e Rubinho a sucumbir no vazio da perda.
Estudar em outra cidade fez com que pela primeira vez Rubinho criasse expectativas de um futuro com menos lembranças dessa passagem de sua vida. Criou laços afetivos com algumas pessoas, mas nenhuma profunda amorosamente falando. A essa altura só mantinha contato com seus pais ao telefone, acabou que esse afastamento lhe fez bem e seus pais compreendiam. Eles se sentiam de certa forma culpados por sua dor por terem ficado contra esse amor que aos seus olhos seria impossível. Pensavam que era apenas coisa de criança não podiam imaginar que o desfecho fosse o pior. Consolavam-se apenas, em ver o filho sobreviver, apesar da dor e da distância, uma vida sadia.
Rubinho levava uma vida simples muito envolvido com suas pesquisas o seu único prazer era tocar violão nas noites dos finais de semana no bar entre amigos. Cara do bem, sempre irradiando alegria mesmo que não fosse sentida em seu interior. Um amigo querido, prestativo, amável, disposto a dar o seu ombro para quem precisasse. Seu alto astral o precedia e sua fé nas pessoas e tudo o que as envolvia passavam uma paz que alcançava a todos à sua volta.
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Um Jardim Para Rubinho
RomanceNo início da vida, encontrar e perder o amor verdadeiro ao mesmo tempo, deveria levar alguém a loucura. Da onde vem a força para continuar? Da onde vem a vontade de recomeçar? Apesar de muito jovem, Rubens Aguiar, chamado por todos carinhosamente de...