ÁUDIO NÚMERO 289: Eu perdi a chance de trabalhar no que gosto por duas...

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Jimin suspirou, mordendo a pontinha dos lábios logo em seguida. 

Estava com os fones encaixados na cabeça por alguns segundos, sem inspiração nenhuma para continuar estudando.

Com milhões de páginas de artigos para ler, a atenção de Jimin estava sobre seu Twitter aberto. No grupo de seus amigos, que gritavam e mandavam vídeos demais.

A cada notificação extremamente barulhenta para sua dor de cabeça, Jimin fechava os olhos mais forte. Conseguia ouvir a chuva do lado de fora da biblioteca de sua faculdade, e isso só significava que ele estava trancado ali por uns poucos momentos.

Abriu os olhos, não tanto. Olhou para a tela, com eles estreitos. E viu uma mensagem específica.

Yoongi hyung. Estava caçoando com ele. Deu língua para a tela do computador.

| Ei kkkkkk Olha esse cara, parece até o Jimin essa semana (link)

Jimin clicou porque não tinha coragem de fazer nada mais. Porque estava exausto trabalhando com os pais na cafeteria casual da vizinhança, enquanto fazia a faculdade de literatura ao mesmo tempo.

E fez careta, junto de um sorrisinho, ao que o contraste de cor ajudou-o a abrir o resto dos olhos. O site que tinha entrado era cinza, quase preto. 

Como se quisesse que todos os visitantes entrassem e se assustassem com a diferença do lugar, e de suas pesquisas anteriores.

Só, sentiu-se confortável. Confortável, principalmente, com o tema depressivo no site. Parecia um blog.

Porque eu sou horrível em tudo que faço e posso te fazer acreditar nisso também.

Minha mãe morreu quando eu tinha nove anos mas ela ainda está aqui para me fazer parar de ser um idiota, confirmado.

Eu perdi a chance de trabalhar no que gosto por alguns meses mas eu posso explicar.

Soltou uma risadinha. Esparramou-se sobre a mesa e arrastou seu mouse sobre o livro ajeitadinho ali do lado, arrumando-o para deixar sua mão confortável.

Eram todos áudios. Todos áudios de quem quer que fosse falando de como era um merda. Um podcast inteiro.

Jimin deixou um dos áudios carregar, enquanto fuçava pelo site.

Era como se estivesse prestes a conversar com um amigo. Tipo, "Ei, amiga, me manda um áudio enorme para me distrair?"

Clicou na auto-biografia no fim do blog, abrindo um sorriso com o que tinha lido. Se ajeitou na cadeira e limpou a garganta, mesmo que para sussurrar.

E então, repetiu junto do texto, "Não se preocupe comigo nem com o que eu falo. Só achei que fosse legal falar das minhas merdas e me zoar."

Não teve muita chance de dar uma risadinha ao escutar o áudio começar.

Conseguiu ouvir os barulhos da rua, os tiques de alguma lâmpada, o estralejar da madeira no frio.

Soou bem familiar, em sua opinião.

E ainda mais, quando ouviu o garoto começar a falar. O homem, talvez. Com a voz mansa, deu uma risadinha.

E cansado, cansadíssimo, soltou um suspiro quieto.

— Eu perdi a chance de trabalhar no que gosto por alguns meses mas eu posso explicar. — Ele soltou, do nada.

Jimin se assustou, e apertou o botão do volume algumas vezes, abaixando o som. Xingou baixinho, como se tivesse pagado vergonha para alguém.

Encarou o nada, e ouviu-o se preparar para falar algo mais uma vez.

— Basicamente, não posso participar do projeto porque minha renda per capita é menor que a de uma criança de cinco anos. Divertido.

Jimin soltou uma risadinha. E quando ameaçou embolar-se em seus pensamentos, o garoto começou a falar mais uma vez.

— E aliás, que projeto é esse que eu não mencionei nesses... Vinte segundos.

Coçou a nuca e imaginou o que o barulho do outro lado significava. O que aquela borracha apagava, e no que os dedos agitados daquele homem tanto batucavam?

— Uma exposição de artes para artistas poucos reconhecidos. Aspas, eu. E que, pessoas que trabalham pelo dia inteiro e teriam que passar as noites trabalhando nela sem dormir não podem participar. Entre parenteses, eu de novo. Por favor, se sinta mal por ter mais dinheiro que eu.

Percebeu que ele rabiscava algo em uma folha, bem perto do microfone.

Já nesse ponto, Jimin não conseguia desmanchar o sorriso do rosto. Quando pensava em tirá-lo do rosto, quem falava antes fez um barulhinho esquisito com a boca —ou o nariz —e isso fez-o sorrir outra vez.

Mesmo que não percebesse, Jimin não sentia os ombros doendo de tão tensos. Na verdade, eles descansavam desleixadamente, e deitavam-se sobre a cadeira fria da biblioteca em que estava sentado.

Sozinho, não se importou em encarar o nada e, aos poucos, aumentar o volume.

— Então, nas próximas duas semanas, vou fazer horas extras pelo mesmo tempo que trabalho normalmente. — Ele parou com o rabiscar, e por um segundo, Jimin ouviu-o bater o lápis no mesmo lugar em que batia seus dedos — E se eu não contar com os minutinhos no ônibus e as mãos trêmulas pra colocar a chave na fechadura, posso ter quatro horas de sono todos os dias.

Jimin abriu a boca, horrorizado. O quanto aquele homem amava o que ele fazia?

— Também... Muito divertido.

Franziu as sobrancelhas, e por um segundo, sentiu-se genuinamente preocupado ao escutar sua risada seca. Passou a bater seus dedos na mesa, assim como ele fazia.

— Melhor sofrer em meu apartamentinho trabalhando por 18 horas por duas semanas do que ir para casa da minha mãe.

Jimin percebeu como ele soava sarcástico, não acreditando como ele conseguia brincar com o assunto sem parecer receoso.

— Ter meus pés mergulhados em água fervente para que, talvez, eu vire mais homem. Tirando que minha genética já fez todo o trabalho que pôde.

Jimin soltou uma risadinha, assim que o outro o fez. Apesar de que ele não soava triste como Jimin parecia ter.

Como é que tantas coisas passassem por sua cabeça e aquele novo encontrado era capaz de dispensá-lo tão facilmente? E Jimin não estava nem falando dos próprios problemas do garoto.

Ele soou amuado quando resmungou.

— O que que eu estou falando, ainda... De qualquer forma, é isso.

Voltou a ouvir os barulhos de rabisco que ouvia anteriormente, e como se realmente não quisesse dar nenhuma satisfação, o áudio terminou.

Três minutos e meio, de lamúrias, sarcasmo e uma risada murcha.

E mesmo tão triste pelo recém conhecido, Jimin não conseguia explicar o porque de se sentir tão aliviado.

Apertou uma tela errada e acabou subindo pelo blog, ao tentar clicar para o áudio seguinte, o forçando a encarar a página inicial, lá em cima.

Jeon Jungkook, Meus Pêsames, "sinto muito por te fazer me escutar".

Jimin se inscreveu.

so i failed at acting like a normal human beingOnde histórias criam vida. Descubra agora