Papo Reto

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Sempre que precisava passar por catracas de ônibus, Hanabi repensava se não era melhor comprar um carro velho em vez de aguentar esse constrangimento.

Odiava ainda mais usar transporte público em horário de fluxo estudantil, já que sempre tinha algum engraçadinho ou engraçadinha querendo tirar onda com ela pra pagar de bonzão pra sua turminha. Colocou os fones de ouvido para não ouvir babaquice e se alguém tocasse em seu chapéu por ver que palavras não a atacavam, cometeria um crime de ódio. Como previsto, ao notar que o alvo da vez não dava base alguma para as "brincadeiras" que faziam o líder do grupo, mexeu na peça e Hanabi virou sutilmente.

— Qual foi, rolha de poço?

Revirou os olhos, entediada. Nem pra ser algo mais criativo. As crianças estavam cada vez mais repetitivas. Ouvia isso quando era pequena, esperava bem mais. Notou se tratar de um menor de idade e por isso evitou a violência física, até porque sempre era mais divertido deixá-lo com cara de tacho.

Suspirou pesado por poucos segundos e sorriu debochada como só ela fazia, e o rapaz nada entendeu, uma vez que esperava algum tipo de reação mais enérgica para que pudesse continuar fazendo chacota. Hanabi segurou o queixo dele, continuando bem plena antes de tomar uma voz quase infantil.

— O que foi, cabeça de vento que não tem atenção dos pais e acha que diminuindo os outros vai se sentir melhor? Como você tá hoje? Indo para creche? - devolveu e o garoto ficou vermelho tamanha a vergonha.

O tornou alvo das gracinhas dos "amigos" mas nem assim Hanabi se satisfez. Se era pra fazer graça, ela sempre foi a rainha nisso e não deixaria barato. Aquele ali aprenderia na marra que era melhor ficar calado que falar merda e passar vergonha.

— O que foi, bebezão? Já olhou na sua mochila para ver se não esqueceu a mamadeira em casa? Hum... - abanou a mão frente ao nariz, fingindo sentir mal cheiro. - Pelo cheiro, acho que alguém sujou a fraldinha! - ele ficou em silêncio e ela em paz o resto da viagem toda.

Todo o transtorno causado pela viagem de ônibus pelo menos valeu a pena quando finalmente entregou as roupas.

Riu ficou muito satisfeita com os elogios de Anko às encomendas, mesmo que isso incluísse perder um pouco de tempo enquanto ela usava o banheiro do restaurante para experimentá-las, reagindo eufórica antes mesmo de deixar a cabine pra olhar no espelho. Já do lado de fora, continuou encantada, girando para ver o caimento do vestido laranja que tomou por favorito.

— Ficou... Perfeito! - contemplou com as mãos no rosto choroso e contemplado.

Hanabi partilhou da emoção. Sabia como era tocante poder vestir algo que coubesse em seu manequim 56 sem gastar fortunas e sem se sentir desconfortável, um prazer que a própria Hanabi só sentiu quando começou a desenhar e encomendar suas próprias roupas.

Era a grande recompensa de seu trabalho e, mesmo que o pagamento fosse muito importante, talvez fosse aquele sorriso confiante que brilhou no rosto dela que fosse o mais valoroso ali.

Animada, Anko pôs por cima do vestido o estiloso colete branco que também pediu e, mesmo com o costume de lavar roupas recém compradas, não conseguiu resistir à vontade de usá-las para ir dar sua aula logo depois das várias fotos que logo foram parar nos grupos de WhatsApp e Facebook da "comunidade" Plus size que participavam, uma ótima publicidade. Com tanta gente interessada em seu serviço, logo financiaria sua sonhada loja.

Anko apertou sua mão, muito mais risonha que quando chegou ali, com gratidão nas palavras e no olhar.

— Muito obrigada, de verdade! - Hanabi sorriu, dando um último abraço em sua mais nova e talvez fiel cliente, que saiu toda cheia de si.

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