A Madre Giu

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Na vida, existem dois caminhos que nos guiam entre a sanidade e a paranóia, porém não há uma diferença clara entre eles, pois existe uma linha tênue e reta que se difurca lentamente por um ou vários motivos, nos levando aos mais altos níveis de loucura e insanidade. 

Às 6:00 da manhã em ponto, abro os olhos assustado com o som alto de um alto falante na parede tocando a Ave Maria.

Olho pra minha esquerda e vejo alguém sentado na cama ao lado aparentemente amarrando o cadarço do tênis, me espreguiço e levanto o corpo até consegue sentar à cama, e então olhando pra aquele menino amarrando o tênis, resolvo cumprimenta-ló.

— Olá... bom dia...— Digo meio bocejando

— Ah olha só finalmente a máquina de roncos acordou!—Ele fala com meio sorriso no rosto

—Hã? Do que você tá falando?—Pergunto confuso

—De você, ficou surdo com o próprio ronco ou o qué? Aliás, tô pensando em usar outro termo pra te definir. Tô indeciso entre "turbida de avião com defeito" ou "maquina de surdez unilateral". Porquê eu quase fiquei surdo ontem a noite também admito.

— Você ta de sacanagem, né? —Falo olhando pra ele com a cara séria

— É você tem razão, sem dúvidas "máquina de surdez unilateral" é mil vezes melhor—Fala olhando pra mim com sorriso cínico no rosto

— Prazer, me chamo Renato! —Fala estendendo a mão direita pra minha direção

— Prazer, Fernando!—Aperto a sua mão e riu também

Ainda incomodado com aquele som exageradamente alto. Pergunto pro Renato do que se trata.

—Olha cara, vá se acostumando viu, isso é todo dia assim —Ele fala aparentemente sem se importar nem um pouco com o barulho

— Mas de onde tá vindo isso? e porquê eu tenho que me acostumar com uma coisas dessas, isso é tortura!—Falo colocando aos mãos no ouvido

— Todas as manhãs são assim?—Questiono olhando pra cima à procura dos alto falantes.

— Não adianta procurar tá vindo dos corredores, são 8 alto falantes em cada andar. Eles sempre tocam "Ave Maria" às 06:00 da manhã em ponto até que todos estejam bem vestidos e arrumados, em pé à frente da porta de seus quartos para a oração e a contagem.

Renato fala tudo com aspecto calmo e sereno, como se de fato isso fosse a rotina diária do orfanato.

—Como assim contagem? Isso é uma prisão ou orfanato afinal?—Questiono novamente porém com ironia

— Bem, não é um convento também mas ta cheio de freiras andando pra lá e pra cá  te fazendo orar e obedecer tudo que elas ordenam. Então, uma prisão seria melhor do que aqui eu acho...

Assim que ele fala isso percebo a porta do quarto se abri rapidamente.

— Anda logo Renato, a Madre Giu tá quase chegando já mano!—Fala um menino com a voz fina e apressada

— Relaxa Tico, eu e o Machine aqui já estamos indo—Fala Renato apontando o dedão pra mim

—Que seja, só vem logo mano! se ela  chegar, não vou te acobertar dessa vez meu—Fala o tão Tico, batendo a porta!

— Você conhece esse cara?—Pergunto-o com um olhar desconfiado

— Claro que conheço, eu estou há mais de 3 anos aqui já, eu conheço todo mundo, aquele é um dos meus.

— Um dos seus o quê? e porquê me chamou de Machine na frente dele?
—Pergunto mais desconfiado ainda

— Olha Machine... isso é uma história longa e não temos tempo pra histórias agora, é melhor você se arrumar logo, por quê você não vai querer lidar fúria da Madre Giu no seu primeiro dia, te garanto—Diz Renato terminando de amarrar os cadarços dos sapatos

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⏰ Última atualização: Jun 24, 2019 ⏰

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