O Orfanato

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Se você está lendo isso é porque provavelmente eu estou morto agora.
Me chamo Fernando, tenho 32 anos e eu sei que vocês já sabem disso, falei na primeira carta mas... não custa nada relembrar. Bem, vocês devem está se perguntando do porquê de mais uma carta né? Pra ser bem sincero eu não sei, acho que gostei de escrever um pouco da minha vida... isso ta me servindo como uma espécie de terapia eu acho. Enfim, de qualquer forma tenho pouquíssimo tempo de vida agora, então vamos continuar essa história de uma vez.

Logo que sai do hospital, fui direito pro enterro dos meus pais e do meu irmão. Ainda estava meio dopado de calmantes e diversos tipos de remédios e soros quando vi aqueles três caixões na minha frente sendo velados naquela manhã fria e úmida, enquanto meu tio Ricardo e minhas tias Margarete e Letícia choravam descontrolados ao lado de seus respectivos esposos, tinha muita gente lá que eu nunca tinha visto antes... primos que não conhecia, amigos do meu pai, colegas de trabalho da minha mãe e meus colegas de escola e do Lucas meu irmão. O Júlio melhor amigo do Lucas me olhava com um semblante triste e acusatório e após isso virou o rosto novamente. À minha frente vejo se aproximando o Matheus meu melhor amigo, com olhar triste e penoso.

— Oi parceiro, meus pêsames cara, como você tá? — Hesito por uns instantes e respondo.

— E ai Matheus, obrigado mano... bem, na verdade não sei te dizer nem como estou de pé agora, não to sentido nada, estou completamente dopado de remédios— Confesso a ele.

Enquanto isso, chega a Bruna também, que sem cerimônias corre pra me abraçar.

— Ah meu amor, como você está?

—Calma, eu tô bem...

— Eu sei amor, é que os remédios que os médicos te deram foram muito fortes, fiquei preocupada contigo quando vi você saindo do hospital daquele jeito!

— Não se preocupa, ok? Eu vou ficar bem— Tento acalma-la.

Nisso Bruna me abraça outra vez, e como antes não sinto nada além de um frio e um vazio enorme me consumindo aos poucos, enquanto desce os caixões dos meus pais e do meu irmão para os buracos frios e úmidos de suas covas.

No dia seguinte vou pra o conselho tutelar, lá eles me avisam que vou ter que ir para um orfanato. Eles disseram que nenhum dos meus tios quis me adotar, eles alegaram não ter condições financeiras pra cuidar de um mim, mas eu tenho certeza que isso é apenas preconceito da parte deles pelo fato de ser um viciado.

Na minha família os falatórios sobre o meu vicio sempre foram constantes, graças ao meu pai, que toda vez que a família se reunia fazia questão de me constranger na frente de todos, me chamando de "seu muleque maconheiro."

O Orfanato

No dia seguinte, as 10 da manhã chego em um carro com um assistente social, paramos na porta do orfanato onde já esperavam por mim. Um homem alto, magro e barbudo, vestindo um palitó preto, camisa branca por dentro das calças sociais também pretas, e do seu lado uma senhorita de aparencia jovial, trajando uma vestido longo até o pés de cor preta e um capuz/chapéu branco com preto longo, (vestimento característica de uma freira) em seu pescoço deu pra observar também um colar com a imagem de uma cruz.
O assistente que me trouxe, apenas fala pra que eu desça do carro e ir até eles. E após isso liga o carro e vai embora. Vou então andando lentamente até eles com a cabeça abaixada.

— Olá meu jovem bom dia, tudo bem? —O Homem de palitó fala comigo, e eu continuo com a cabeça abaixada e calado, então ele espera uns segundos e volta a falar— Você é o Fernando, certo? Eu sou Luigi, mas pode me chamar de Lue, eu sou dono do orfanato, essa é a irmã Lucy, a nossa diretora —Ele aponta para a mulher ao lado.

Borboletas Paranóicas: O ÓrfãoOnde histórias criam vida. Descubra agora