Lembro-me das sirenes quando era bem pequena, do jeito que minha família correu, do jeito que me entregaram para boas pessoas, os soldados, pois só poderiam deixar um filho de cada família. Eles estavam sorrindo por ter me salvo, mesmo estando com fome e doentes, numa cidade destruída por uma bomba.
Lembro do trem, de uma senhora gentil nos alimentando e explicando que íamos para um local a salvo, na Rússia.
Mas não lembro de muito mais coisas, fui criada num colégio-orfanato, nada demais.
Assim que tínhamos idade íamos fazer pequenos serviços nas fábricas. Com apenas 12 anos eu já fazia limpeza de uma.Quando fiz 18 recebi uma casa comum, um apartamento pequeno, só meu. Trabalhava na mesma fábrica que comecei, a diferença é que eu auxiliava os órfãos como eu nas primeiras visitas e no dia à dia.
Passávamos por temporadas de triunfo e por temporadas de fome.
As notícias eram bem modificadas, todos sabiam que sim, mas ninguém ligava.Eles sempre sabiam onde íamos, afinal, cadastra am nossa face no sistema de câmeras da cidade.
Apenas a elite podia usar máscaras.
E as más línguas do povão diziam que pessoas selecionadas podiam servir a elite e usar máscaras também.
Eles ficavam numa pequena vila dentro da cidade, com jardins e casas grandes.
Todos generais, os filhos e esposas destes.Havia também a vila militar, onde moravam e se reuniam os responsáveis pela nossa segurança.
Mas foi um dia muito especial que me definiu como uma nova classe : Filha de Venom, rebelde.
Eu acordei como todo dia e me arrumei para o trabalho. Mas no caminho deste sempre haviam pessoas se alongando, por muitas vezes participei dessa atividade. Mas, por trás de todas essas pessoas vi uma mulher apanhando de um militar, e ninguém mais via.
Me aproximei e ajudei a moça, ela não tinha conseguido ir trabalhar por dois dias pois seus filhos estavam doentes.
Literalmente não tínhamos folga, então não podíamos resolver esse tipo de coisa.Como os filhos dela tinham 12 e 13 anos me ofereci para levar eles a fábrica, os deixaria no "canto do castigo" assim podíamos olhar eles sem problemas.
Ela me agradeceu e arrumamos as crianças, vestimos máscaras de gripe nele e os levamos. Ela era uma mulher muito tranquila e inteligente. Antes da mudança era professora.
As crianças não me deram trabalho e a mulher ficou muito agradecida. Fizemos isso até eles melhorarem.
Mas aquele dia me fez refletir como o sistema que vivíamos era cruel.
Isso já me tornava uma rebelde?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Filhos De Venom
AventuraA luta contra a tirania. Numa realidade não tão distante, contudo pós apocalíptica. Existem cidades polos onde os cidadãos recebem o mínimo de conforto em troca de trabalho nas fábricas. Mas a vida não é assim tão boa, muitas vezes há falta de supri...