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As malas em minhas mãos cansadas já não incomodavam tanto quanto o início da viagem, quando fui terrivelmente obrigada a carregá-las completamente sozinha durante o cansativo percurso de casa, metrô, avião, táxi e mais algum minutos caminhando em direção ao tal maldito acampamento.

Tinha passado na diretoria do local após chegar e agora caminhava em direção ao meu quarto, onde finalmente poderia me dar ao luxo de relaxar.

Não que eu desejasse estar nesse lugar. Pelo contrário, tudo o que eu realmente queria era passar minhas férias em casa, descansando. Sendo uma adolescente normal. Lendo meus livros, atualizando minhas series, vivendo uma vida calma.

Mas o que eu poderia fazer? Quando seus pais praticamente te arrastam para dentro de uma rodoviária e ainda te dizem que ou é isso ou passar três meses na casa da tia Safira, não se tem muitas opções. Era quase como se estivessem dizendo: ou você vai para esse acampamento, ou você vai para esse acampamento.

E, bem, cá estava eu.

Sem conseguir esconder minha terrível cara de surpresa e desgosto, soltei um palavrão baixo observar o que estava acontecendo dentro do meu mais novo quarto após abrir a porta com um fraco sorriso nos lábios.

Estava tentando soar simpática, embora fosse sempre um pouco difícil, já que minhas feições nunca se deixavam mentir.

- Que droga é essa? - perguntei, olhando em direção a cama, onde um casal quase que completamente despidos estavam se agarrando.

Minha voz saiu um pouco baixa, o que fizeram-os, diferente do que eu estava prevendo, me encararem neutros, como se aquelas interrupções sempre fossem algo normal.

- Quem é ela? - o garoto disse, tranquilo.

Suas roupas de cima jogadas no chão, me deixando com a visão de seus músculos fortes e seus olhos castanhos fixos em mim, como se eu fosse uma "novidade" para ele. Uma novidade bem interessante por sinal.

Não gostei do modo como ele me olhou. Seus olhos eram intensos demais. Frios demais. Fixos em mim demais.

Todavia, não me opus. Apenas continuei encarando-os, parada em frente à porta, enquanto esperava que toda aquela situação fosse encerrada de uma vez e eu finalmente pudesse entrar no meu quarto, sem que uma quase transa estivesse perto de acontecer.

- Pelas malas em sua mão, acho que é minha nova colega de quarto - disse, a garota loira, que estava apenas de sutiã e por baixo do garoto de olhos castanhos intensos. Ela sequer parecia incomodada com o fato de eu estar observando aquela cena. Na verdade, nenhum deles.

- Você está certa, prazer em conhecê-la. - disse, olhando-a.

- Uma garota nova? - ainda me olhando, ele perguntou, levantando-se da cama e pegando sua camisa do chão.

- Ei, não seja um canalha, ela acabou de chegar! - a loira disse, revirando seus olhos.

Sorrindo para a garota loira, como se aquilo sequer tivesse sido um tipo de ofensa, ele disse, antes de beija-la e caminhar em direção a porta, onde eu ainda continuava parada:

- Não posso prometer nada, você mesma me conhece, sabe que as coisas apenas acontecem.

- Isso é o que você diz - disse, a garota loira, dando de ombros.

- Estou indo nessa. Podemos terminar isso depois?

- Quando você quiser. - ela murmurou, levantando em seguida e pegando suas roupas, que também estavam no chão.

Caminhando na minha direção, o garoto passou pela porta lentamente. Estava tão despreocupado, como era possível? Cada passo seu era como uma passagem para o inferno. Intimidador, quente e certamente sem passagem de volta.

Ele parou na minha frente me lançou um pequeno sorriso ladino. Imóvel, esperei que falasse algo como "não conte o que viu para ninguém" ou coisa parecida, mas tudo o que saiu de seus lábios e voz rouca, foi:

- Bem vinda ao inferno, novata.

Camping in Florida ❄️ GOT7Onde histórias criam vida. Descubra agora